2.1 - Você não é aluno de cinema

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— Pode ser no Starbucks? -Ele perguntou. — Ou o fornecedor de copos dele mata golfinhos demais?

Pepper arregalou os olhos em sua direção, o fuzilando. — Só pra saber, quantos clichês você guarda no bolso?

— Foi você quem começou. -Disse, diminuindo o ritmo quando notou que ela tinha dificuldade em lhe acompanhar. — Acha que não notei que você e todo mundo naquela sala simplesmente concluiu que cheguei de iate?

— E não chegou? Manhattan é uma ilha, afinal.

Ele a avaliou por um segundo, tentando descobrir se estava falando sério. Não sabia dizer, então recorreu ao sarcasmo de sempre. — Não, só uso o iate de fim de semana.

Naquele momento, foi a vez dela de lhe olhar sem saber se estava brincando. Foi até engraçado, de um jeito um tanto esquisito.

— Virginia, né? -Perguntou, quando ela não retrucou. — Posso te chamar de Giny?

— Não. Nem vem. – Respondeu, enquanto atravessavam a rua na direção do logo verde e branco familiar da Starbucks. — Meu ex-namorado me chamava assim. Meio que cansei.

— Foi um término ruim? -Quis saber, segurando a porta para ela, como um cavalheiro.

— Acho que sim. Quer dizer, eu o peguei explorando a vagina de outra pessoa. Não posso dizer que fui muito compreensiva. -Explicou, o fazendo engasgar com uma risada. Ele achou que nunca ouviu uma garota usar essa palavra de forma tão casual. Então, era meio... chocante.

— Tá. Então nada de Giny.

—  Nada de Giny. -Confirmou.

— Como seus amigos te chamam?

— Nós não somos amigos, você não precisa saber.

— Você percebe que não me resta muitas alternativas, não é? Terei que continuar chamando você de Pepper.

— Não se atreva. -O ameaçou.

Tony riu, mudando de assunto. — Deixa eu adivinhar: você vai pedir alguma coisa com leite de soja. -Disse ao entrar na fila.

Ela levantou um ombro, aparentemente resignada a esse estereótipo em particular. — Mocaccino com leite de soja grande e sem chantili. E você vai querer algo bem viril, como café simples. Talvez um expresso.

Mesmo sabendo que foi ele quem insistiu com essa troca de clichês, começou a odiar o fato de que seus palpites sobre o outro estivessem quase sempre certos.

Então, em vez de pedir um café médio, como sempre, quando chegou sua vez, enumerou todas as palavras fofinhas em que conseguiu pensar: chocolate branco, chantili, caramelo, amêndoas. — Ah, e não esquece o granulado. -Acrescentou.

O barista assentiu, claramente pensando em como fazer para escrever tudo aquilo no pouco espaço em branco no copo.

— Você só pediu isso pra me contrariar. -A ruiva constatou enquanto pegavam suas bebidas e iam para a mesa.

— E você só me deixou pagar o seu porque eu imaginei que insistiria em pagar pela sua bebida.

— É, mas também foi difícil ignorar o maço de notas de cem na sua carteira.

— É dinheiro pra droga. -Comentou, dando um gole na bebida. Fez uma careta de tão doce que era, e Virginia riu, revelando uma covinha que ele ainda não tinha notado. Provavelmente porque ela não era do tipo que distribui sorrisos a troco de nada.

— Espero que tenha entendido alguma coisa daquele blá-blá-blá da aula. -Tony disse, deixando a bebida de lado. — O que ele quis dizer com "argumento básico de um filme"? -Fez as aspas com as mãos, e viu que ela apertou um pouco os dentes.

— Eu sabia. -A ruiva disse, se inclinando para ele. — Você não é aluno de cinema.

Come Back... Be HereOnde histórias criam vida. Descubra agora