28.1 - Então é isso que somos?

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Ela não queria lidar com nada daquilo. Não tinha forças para lidar com nada daquilo. Mas o problema é que ela sabia que algo estava errado. Algo grande, e estava deixando-a assustada. Isso a fazia querer desligar a mente e dormir por um ano.

Ela fechou os olhos com força e forçou-se a parar de pensar.

O que durou cerca de cinco segundos, no máximo, porque do outro lado do cômodo, o moreno estava se contorcendo e remexendo, tentando ficar mais confortável no sofá, com as almofadas deslizando debaixo de seu corpo a cada movimento. Ele afofou os travesseiros novamente, então jogou um no chão em frustração, suspirou e finalmente se acomodou. Por um minuto ou mais. E então começou tudo de novo. Ele resmungou baixinho e rolou de costas, deixando escapar um longo suspiro exasperado no processo.

E isso era o máximo que Pepper poderia lidar.

Ela se apoiou nos cotovelos. — Você está pretendendo parar com isso em breve?

— Essa coisa é impossível. -Ele resmungou. — É um dispositivo de tortura e deve ser rotulado de acordo.

Pepper esfregou os cantos dos olhos. — Ok, tudo bem. Vamos trocar. -Ela não se importava em dormir no sofá, desde que dormir fosse pelo menos uma opção. O que agora definitivamente não era.

— O que? -Tony ergueu as costas do sofá e se levantou para olhar para ela por cima do ombro, da melhor forma que pôde, dada a falta de iluminação adequada.

— Você queria a cama? Você pode ficar com a cama. -Ela jogou o cobertor para longe. — Dessa forma, pelo menos um de nós terá algum descanso.

— Oh, por favor! -Ele se jogou novamente de costas nas almofadas. — Não vamos trocar. Não seja ridícula.

— Estou sendo ridícula? -Começava a se estressar.

Tony não se mexeu e depois de alguns momentos ela se rendeu, deitou-se mais uma vez na cama puxou os cobertores para si.

Ele não ficou quieto por muito tempo depois disso, apenas tempo suficiente para a mulher entender que eles nunca haviam passado por esse tipo de situação antes. Ironicamente. Ele estava tão desconfortável quanto ela. Haviam muitos elefantes na sala.

— Pep... -Ele chamou assim que ela decidiu começar a contar ovelhas, por falta de melhor entretenimento. — Posso te perguntar uma coisa?

— Mudaria alguma coisa se eu dissesse não?

Dificilmente. -Eles pensaram ao mesmo tempo.

— Na escala de 1 a... Morangos, o quanto você me odeia? -Perguntou receoso, já que se ela era alérgica à fruta, ingeri-la poderia facilmente matá-la.

Não queria, e nem saberia, como lidar com a resposta caso a mesma fosse essa.

Não foi a pergunta que a pegou desprevenida, mas o tom de sua voz, cansado do mundo. A voz de quem carrega o peso do universo nas costas. A voz de um homem solitário, perdido, desesperado.

Ela ouviu essa voz apenas algumas vezes, e sempre sentia como estar caindo de um penhasco. Tecnicamente, ela sabia que era uma má notícia, mas uma vez que você estava sem contato com o solo, não havia nada que você pudesse fazer sobre isso, certo? Sem controle, sem volta.

Seu peito apertou e seus dedos se fecharam cheios de vontade própria. Ouvi-lo soar tão estranhamente era enervante e assustador. Como se ele não fosse o homem que ela achava que conhecia.

Ela o odiava? Apesar de tudo, ela o odiava?

— Eu não odeio morangos. Sou alérgica a eles.

— Isso não é exatamente uma resposta.

— Você não fez exatamente uma pergunta. O que você perguntou não fazia sentido.

— Você sabe exatamente o que eu quis dizer, Pepper. Embora, admito, eu deveria ter escolhido algo mais doloroso. Como coletivas de imprensa ou algo assim.

Ela respirou fundo, olhando para o teto por quase uma eternidade. 17 anos. Ela conhecia Anthony Stark há 17 anos e, no entanto, aquela estava sendo uma das conversas mais estranhas que eles já tiveram.

— Eu não te odeio, Tony. -Ela finalmente respondeu com uma voz que mal passava de um sussurro. — Eu simplesmente não entendo o que está acontecendo com a gente. O que aconteceu. -No silêncio que caiu ao redor deles, ele praticamente parou de respirar enquanto esperava que ela continuasse. — Não que algo aconteceu porque... Porque obviamente aquele beijo não foi nada. -Balbuciou. — Mas eu estou uma completa confusão. Essa situação toda está me deixando em uma completa confusão.

— Eu nunca quis transformar a sua vida em uma confusão.

— Pode até ser, mas você deixa. Você me faz sentir assim desde o maldito primeiro dia em que nos vimos. -Ela tagarelava sem conseguir parar, sem pensar que poderia se arrepender depois. — E eu odeio me sentir assim, está claro que as coisas entre nós não foram feitas para darem certo. Para durar, e considerando como tudo acabou... Eu só queria que parasse, porque em alguns momentos eu realmente achei que essa poderia ser nossa realidade, não apenas um plano idiota de burlar um testamento.

O homem ficou quieto por muito tempo, fazendo-a pensar se talvez ele tinha adormecido em algum momento do seu discurso e, para ser honesta, ela não duvidava.

O que meio que a fez se sentir ainda mais estúpida, embora ela pensasse que já havia atingido o fundo do poço com todo aquele monólogo. Porque era ridículo, em todos os níveis. Não era como se ela realmente acreditasse que as coisas iriam mudar. Ela nem tinha certeza se queria que elas mudassem. Não tinha certeza se ela estava pronta para eles mudarem. Mesmo hipoteticamente falando.

Estranhamente, descobriu que o embaraço não tinha exatamente limites.

— Sabe, você não é a única a se sentir dessa forma. -Tony disse quando ela já havia perdido a esperança de qualquer tipo de resposta. — Talvez eu não seja tão bom em demonstrar, mas você tira todas as coisas da minha vida do lugar, ou coloca, não sei ao certo. -Suspirou. — A questão é, não está sendo fácil para mim também, porque esse não era o cenário que eu imaginava quando pensava em nós. E sim, eu sei que não há um nós, mas espero que um dia você consiga se sentir confortável o bastante para que sejamos pelo menos amigos.

— Então é isso que somos? Amigos? -Ela não sabia dizer o porquê de ter o questionado sobre isso, mas quando se deu conta, as palavras já fluíam pela sua boca, sem controle, sem cuidado, sem amarras.

— Bom, você deixou perfeitamente claro que sequer somos isso.

— Ah, então é minha culpa?

O som que ele fez foi como se tivesse realmente engasgado com o que ia dizer a seguir.

— Eu não sei, porque você não me deixa saber o que aconteceu. Realmente acha que é minha culpa termos nos desencontrado? Que é minha culpa nossas cartas não terem chegado até nós? -Ele se sentou abruptamente e pegou sua jaqueta. — Quer saber, deve ter algum bar nesse fim de mundo, esse quarto é pequeno demais para nós dois.

A risada curta que escapou dos lábios de Pepper foi amarga e sem humor. — Claro, é o que todos nós precisamos, fugir dos nossos problemas.

Se virando na cama, dando as costas para o ex-namorado, a loira sentiu as lágrimas queimarem suas bochechas enquanto a porta se fechava, com mais força do que o necessário, indicando, mais uma vez, que ela estava sozinha.

Come Back... Be HereOnde histórias criam vida. Descubra agora