Come Back... Be Here

35.0 - Conversamos sobre isso depois

A perda é uma força que pode abalar os alicerces da alma humana. Quando perdemos alguém que amamos profundamente, somos lançados a um abismo de emoções avassaladoras e muitas vezes, inexplicáveis. Em meio a essa tormenta emocional, somos confrontados com a complexa dualidade da condição humana: nossa capacidade de amar intensamente e nossa vulnerabilidade à dor da perda.

Muitas vezes, ao perder alguém que amamos, nos sentimos à beira da loucura. As palavras de sabedoria e consolo não parecem suficientes para conter o turbilhão de sentimentos que nos invade. Mitologicamente, podemos encontrar reflexos desse fenômeno na figura de Orfeu, um personagem da mitologia grega. Orfeu desceu ao submundo para tentar trazer sua amada Eurídice de volta à vida. Ele estava disposto a enfrentar os horrores do mundo dos mortos, cedendo à loucura do amor e da perda.

Assim como Orfeu, a dor da perda pode nos impulsionar a fazer coisas que, em tempos normais, consideraríamos impensáveis. A perspectiva de viver sem alguém que era uma parte essencial de nossa existência nos leva a atravessar limites que nunca imaginaríamos cruzar.

Enfrentar a realidade da perda é, de fato, assustador. É como se o mundo que conhecíamos fosse subitamente transformado, tornando-se irreconhecível. A vida parece perder seu significado, e somos deixados com um vazio que parece insuperável. A mitologia também nos oferece o mito de Deméter, a deusa da colheita, que ficou tão consumida pela perda de sua filha, Perséfone, que mergulhou o mundo na escuridão, negando-lhe a fertilidade.

No entanto, com o tempo, a dor da perda pode se transformar em uma força de renovação e crescimento. Como a fênix que renasce das cinzas, nós também podemos encontrar maneiras de recuperar nossa própria luz interior. A perda nos lembra da preciosidade da vida e da importância de amar e valorizar aqueles que ainda estão ao nosso lado.

É uma jornada árdua, repleta de desafios emocionais, mas é também uma oportunidade de nos reconstruir, de honrar aqueles que perdemos e de encontrar significado em nossa própria jornada. A perda nos ensina que o amor é uma das forças mais poderosas do universo, capaz de nos levar às profundezas da dor e, eventualmente, elevar-nos novamente à luz da esperança e da renovação.

Pepper, por sua vez, enfrentava a perspectiva de perder Tony de forma definitiva. O peso dessa possibilidade pairava sobre ela, causando-lhe uma dor avassaladora. E, por conta disso, acabou bebendo muito mais do que havia percebido. Eram 20 horas, um horário que ainda era considerado cedo para se já estar bêbada, mas quando se estava bebendo desde antes das 17 horas, o tempo parecia ter se estendido de maneira incontrolável.

As lágrimas de Pepper se confundiam com os goles de bebida, e a tristeza que sentia parecia não ter fim. Ela entendia que precisava enfrentar o que havia acontecido, mas a perspectiva de perder o moreno a deixava em um estado de desespero e confusão.

Naquele momento de profunda vulnerabilidade, ela se deu conta de que a dor da perda estava consumindo-a de maneira similar ao mito de Deméter. O mundo parecia ter perdido a cor, a vida havia perdido o sabor, e a loira estava afundando em uma escuridão emocional que a fazia questionar tudo.

Pepper estava sentada em um dos cantos do pub, olhar distante e o copo vazio em suas mãos trêmulas. O tempo parecia ter perdido todo o significado para ela, e o peso da dor e da incerteza a havia deixado em um estado de embriaguez profunda. Natasha estava ao seu lado, observando-a com preocupação. Ela sabia que a amiga estava sofrendo, e a visão dela naquele estado a dilacerava. Com um suspiro, ela decidiu iniciar uma conversa que esperava ser capaz de ajudar a amiga.

— Gin, acho que já está na hora de irmos para casa. Você já bebeu o suficiente por hoje. -Disse, sua voz cheia de preocupação.

Pepper virou o olhar em direção a ruiva, seus olhos vermelhos refletindo a tristeza que a consumia. — Nat, você não entende... Tony... Eu não posso perdê-lo.