7.0 - Dois opostos fingindo ser um casal

305 22 30
                                    

17 anos atrás

Pelas seis semanas seguintes, Tony e Pepper passaram a se encontrar todos os dias no Starbucks próximo à New York University, se dedicando exclusivamente ao trabalho do professor Holbrook. Em mais uma das várias tardes que se encontravam na cafeteria, os dois discutiam os últimos detalhes do roteiro que escreviam após a reunião semanal com o professor.

— Como vamos ter certeza de que Martin sabe do que está falando? -Tony perguntou despretensiosamente.

A ruiva revirou os olhos e tomou um longo gole do seu chá gelado de pêssego. — Bom, eu penso assim, mas é só um palpite: Martin ganhou alguns Globos de Ouro e um Oscar. De roteiro. Então imagino que deva ter uns cinquenta por cento de chance de saber alguma coisa sobre o assunto.

Ele se reclinou na cadeira e a avaliou por um instante. — Uau, só chegamos há alguns minutos e as alfinetadas já estavam por aqui.

Pepper tentou ignorar seu comentário, porque não teve a intenção de machucá-lo. Na verdade, nem queria alfinetá-lo. Mas as coisas estavam um pouco íntimas demais entre os dois ultimamente. Ela queria alguma distância, e não podia julgar seu subconsciente por se manifestar da única forma que conhecia. Além disso, a julgar pelo modo como o moreno também estava perdendo a paciência e passando muito mais tempo com sua banda, ela desconfiava de que ele também queira.

Mas só podiam evitar um ao outro até certo ponto, e tinham cada vez menos tempo para fazer o trabalho do curso de verão. Era hora de focar no motivo pelo qual entraram naquela confusão: transformar tudo o que tinham em uma ideia para um filme.

— Acho que o professor Holbrook está certo. -Virginia disse enquanto olhava as anotações dele no material.

— Para de chamar o cara assim. -Tony resmungou, se balançando na cadeira como se fosse uma criança insolente.

— Não vou chamá-lo de Martin. -Retruco. — Ele pode ter sido da mesma fraternidade que seu pai e ainda ser seu padrinho, mas não é nada além de um professor para mim. E, se não se importar, eu gostaria de me sair bem no curso dele.

A cadeira do moreno parou com uma batida forte. — Tá bom, tá bom. É melhor se acalmar antes de recorrer à sua coleção de facas.

— Bem que eu queria ter uma coleção de facas. -Respondeu baixinho.

— E o que foi aquilo que Martin falou sem parar enquanto lia nossas anotações? -Ele perguntou puxando o caderno dela. — Sobre conflito ou sei lá o quê?

— É o aspecto mais importante de uma história como essa. E não temos um.

— Como assim? -Perguntou. — Temos dois opostos fingindo ser um casal quando nem gostam um do outro. Bum! -Imitou o sinal da explosão com as mãos.

Pegando o caderno de volta, Pepper o encarou. — Onde exatamente está o 'bum'? Holbrook está certo. Por enquanto, temos dois protagonistas cooperando com a farsa. Os dois ganham alguma coisa com ela. Estão na mesma página. Vão se separar tranquilamente quando a coisa terminar. É chato.

A ruiva se sentia um pouco boba falando na terceira pessoa. Mas precisava manter a objetividade. Quando surgiu com o trama para o roteiro, não imaginou que Tony fosse aceitar. Como era do feitio deles, imaginou que fossem discutir e que acabariam escolhendo qualquer outro tema, mas para sua surpresa, ele não apenas aceitou, mas como também sugeriu que eles fossem os personagens principais.

Pepper não teve como recusar, na primeira reunião com Holbrook o afilhado engraçadinho resolveu dizer que usariam suas próprias experiências e o professor adorou. Então, eventualmente, ela se pegava pensando de que, no fim das contas, não se tratava de Tony e dela. Eram apenas personagens. O que importava era apenas tornar o filme interessante.

Ou pelo menos era o que ficava repetindo para si mesma.

Come Back... Be HereOnde histórias criam vida. Descubra agora