11.5 - Você não tem como saber

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— Desde quando você se acha no direito de ter respostas? -Automaticamente, ela entrou na defensiva.

— Desde que você aprece na minha casa, completamente ensopada, sem explicação, após dias sem nos falarmos. Desde quando você adormece nos meus braços chorando. Desde quando você deixou todos os seus amigos extremamente preocupados com seu sumiço. Desde quando eu estava saindo de casa pronto para revirar essa cidade atrás de você. -Tony pontuou. — Mas esses são apenas alguns motivos. Eu posso continuar citando vários outros caso você queira, como o fato de me importar com você. Mesmo que você ache isso impossível. -Completou, mas ao perceber que elevou a voz mais do que o necessário o moreno suspirou e desligou o fogão, se sentando no banquinho ao lado da ruiva e obrigando-a a olhar para ele. — Pep, eu não me importo com nada que você ache que será um problema. Na verdade, seja lá o que for, nós podemos dar um jeito.

— Você não tem como saber.

— Então me diz. -Instintivamente, levou suas mãos as dela. Desfazendo o movimento apenas para secar uma lágrima solitária que molhava sua bochecha.

— A minha mãe faleceu. -A ruiva contou após instantes em silêncio.

— Céus... Eu sinto muito. -Pela primeira vez, não sabia o que dizer, por isso, ele recorreu ao genérico.

— Hoje completa 1 ano, então acho que não é exagero dizer que ainda não aprendi a lidar com essa dor. -Murmurou. — Quando descobrimos a doença, eu havia acabado de receber minha carta de aceitação na universidade. Eu faria moda, nós estávamos extremamente felizes com isso. -Ao ouvir parte da história, Tony sorriu. Ele havia percebido que a todo momento que tinha um lápis e um papel na mão ela estava rabiscando alguma roupa. Fosse em seu caderno, pedaço de jornal, algum panfleto e até mesmo guardanapo. — Mas eu nunca cheguei a fazer a matrícula. Nós morávamos em Birmingham e eu não queria atravessar metade do mundo com ela naquela situação... Foi aí que decidi adiar minha inscrição e o quadro dela começou a mudar. Em um momento estávamos esperançosos com a sua melhora e no seguinte, mesmo quando os médicos acreditavam que podíamos esperar por boas notícias, elas nunca chegavam.

— Você não pode acreditar que isso é culpa sua. Você não controla o mundo. Você não tem esse poder.

— A mamãe teve o que é conhecido por LMA, leucemia mieloide aguda. Basicamente, o que acontecia era a redução das células sanguíneas normais, então ocasionava a queda de glóbulos brancos e glóbulos vermelhos, além da diminuição das plaquetas. É um tipo de câncer raro e avança de forma rápida. Mas com ela não foi assim. -Fez uma breve pausa. — Nós demoramos para perceber os sintomas. Normalmente era só um pouco de fraqueza, palidez, mal-estar... Nada que chamasse atenção, já que além do trabalho ela tinha uma filha adolescente para criar, e eu a deixava cansada demais com essa função... Então, um dia ela desmaiou no trabalho e novamente em casa. Quando o diagnóstico chegou foi assustador.

— Você não pode se culpar por não ter notado, por vocês não terem notado.

— Foi um ano difícil, eu não soube processar o que estava acontecendo, eu estava com raiva, zangada com Deus e o mundo. Eu precisava sair de casa, ficar longe de tudo que me lembrasse ela e ainda assim encontrar uma forma de honrá-la. Então, vim para New York e me afastei até mesmo do meu avô, esquecendo que se eu havia perdido uma mãe, ele havia perdido uma filha.

— Eu sinto muito, eu sequer consigo imaginar tudo pelo que você passou.

— Eu acabei trocando de curso, evitei voltar para casa por todo esse tempo, por isso peguei essa disciplina com o Holbrook... Enfim, mudei meu jeito de me vestir, de me comportar, tentei me afastar de tudo que eu achei que fosse me fazer sofrer novamente... Mas claramente não deu certo. Hoje completa 1 ano que ela se foi, eu pensei que estar longe fosse amenizar a dor, mas parece que está bem pior.

— Sabe de uma coisa? Eu fico feliz que você tenha vindo até aqui. Eu odiaria que você ficasse sozinha nesse momento.

— Acontece que tem mais uma coisa... -Suspirou. — Eu gosto de você. Muito. Eu gosto de uma forma que me assusta. -Confessou, usando toda a sua força e coragem.

— Isso é bom... -Sorriu. Talvez tenha sido o sorriso mais bonito e verdadeiro que havia dado em toda a sua vida. Ele jamais seria capaz de conseguir explicar o que aquelas palavras causaram nele. — Porque eu também gosto de você.

— Não, Tony. Não é. Eu não fico assustada pela intensidade dos meus sentimentos... Talvez um pouco, mas em geral porque em todas as vezes que senti isso, as coisas não acabaram bem.

Come Back... Be HereOnde histórias criam vida. Descubra agora