59| que o amor vença

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Olhei os meus dedos pela milésima vez e suspirei cansada.

Meu corpo sentia tudo, mas a minha mente não entendia ao certo o que fazer, estava processando tudo o que ocorreu.

Fechei os olhos mais uma vez e pedi em silêncio que a realidade não me abalasse, que não sentisse a dor que estava sentindo, não queria ter filhos ainda, mas... saber que nunca... vou poder gerar  um, me faz sentir como uma inútil.

Já havia chorado bastante, e as lágrimas pareciam não cessar nunca, direcionei minha atenção para a porta e desabei ainda mais quando vi a minha mãe e meu pai parados me encarando com pena.

Não era digna disso.

__ filha!__ mamãe disse, antes de caminhar até minha cama e envolver-me em um abraço caloroso, e não demorou até que papai se juntasse a nós.

__ mãe... por que as coisas nunca dão certo comigo?__ pergunto e ela respira fundo, se afastando e enxugando minhas lágrimas enquanto seus olhos lacrimejavam.

__ eu sinto muito Emi, sei exatamente o que está sentindo, vamos dar um jeito, vamos cuidar de você.__ fala e acaricia meu rosto.

__ princesa, sinto tanto por você.__ papai diz de maneira sofrega, e suspiro.

__ eu...eu...eu... nunca vou poder dar um neto para vocês... e eu queria isso, me perdoem por ser um fardo seco.__ falo tornando a chorar e o meu pai me abraça mais forte.

__ não diga besteiras, você nunca foi e nem será um fardo, e há uma possibilidade de você...

__ não pai, não alimente esperanças que não tenho, a mamãe me contou todo o processo de como isso aconteceu e foi doloroso, não quero criar expectativas para depois desmoronar quando falharem.__ confesso.

__ você pode adotar.__ papai sugere e respiro fundo.

__ não seria a mesma coisa...

__ quem disse que não? Quando vimos você, tivemos certeza que era a nossa filha, não importava quem havia te trazido ao mundo, naquele momento em que seus lindos olhinhos azuis nos encararam com tanto amor sabíamos que era você, sempre foi você filha.__ mamãe fala e fecho os olhos contendo o bolo que se formava em minha garganta.

__ eu quero ir embora.__ digo.

__ vamos voltar para a fazenda assim que... você estiver melhor.__ papai comenta.

__ vocês não entenderam, eu não quero voltar para a fazenda, quero ir embora para Nova York com vocês.__ confesso e os dois fitam o meu rosto de maneira confusa.

__ mas... e os meninos?__ mamãe pergunta.

__ não posso fazer isso com eles, não posso prendê-los a uma mulher de ventre seco, que não serve para dar um filho a eles.__ respondo sentindo as últimas palavras saírem de forma amarga da minha boca.

__ você só vai saber quando conversar com eles.__ papai fala.

__ não quero conversar, não quero ter que olhar para eles e saber que nunca vamos ter um bebê... mãe, pai, eu não queria ter filhos, não ainda, mas... eu me imaginava daqui à alguns anos com uma criança minha e deles em meu colo... como vou encara-los diante disso? Os dois querem ser pais, e não vai ser comigo que vão realizar isso.

__ mas... eles amam você, e você os ama também.__ ela afirma e engulo enxugo meu rosto.

__ as vezes só o amor, não é o suficiente para uma relação dar certo.__ respondo e ela suspira desanimada.

Eu sei que ela queria poder dizer alguma palavra que me confortasse, e também sei que ela tem a plena ciência de que, nada do que me disser me fará sentir menos insuficiente.

__ vai ter que conversar com eles, se está disposta a abrir mão do que sente por este pequeno detalhe, terá de encara-los.__ papai explica e faço que sim com a cabeça.

__ é claro que vou contar a eles, só tenho que... que... entender como vou dizer que não os quero mais, sem soar como mentira.__ explico.

__ ah filha, eu sinceramente não sei o que falar para fazê-la mudar de ideia, eles te amam e certamente compreendem a situação e também estão sofrendo com tudo o que está acontecendo, cada um de sua maneira, é muita responsabilidade para carregar sozinha meu amor.__ mamãe fala compadecida, e respiro fundo, olhando para os meus dedos.

__ não posso mãe! Não posso mantê-los presos a uma relação assim, sendo que ambos podem ter filhos e seguir cada um com a sua vida.

__ e você? O que vai fazer? Ficar parada no tempo, vindo visitar o seus avós e dar de cara com duas mulheres desconhecidas beijando e tocando no que pertence a você?__ pergunta frustrada e a ideia fazia meu sangue ferver mas mesmo assim, me mantive firme.

__ vou seguir a minha vida, e se eles forem felizes eu também serei.__ confesso, mas minha voz falhou ao pronunciar as últimas palavras.

__ você é nossa filha, te apoiaremos em qualquer decisão que tomar, então decida sozinha o que quer fazer.__ papai fala e sorrio sem mostrar os dentes.

__ podem chama-los para mim?__ pergunto.

__ e quer fazer isto agora? Emi você ainda está fraca filha.__ mamãe diz e a encaro.

__ preciso fazer isso agora, antes que a coragem se vá.__ respondo.

Ela abaixa a cabeça, se aproxima de mim e beija a minha bochecha, papai faz o mesmo e logo em seguida, os dois saem do quarto e até perdi as contas de quantas vezes encarei aquela porta esperando os dois homens que me fizeram sentir a mais completa das mulheres adentrarem neste quarto, e quando o fizeram me senti pequena e inválida.

__ oi.__ falo e eles se aproximam, Damon do lado direito e Micha do esquerdo.

__ sua mãe disse que queria falar conosco... Emi eu...__ Micha começa mas preciso que os dois fiquem na minha frente para poder dizer o que tenho que dizer.

__ por favor, fiquem na minha frente, tenho algo para falar.

__ fogo... o que está acontecendo?__ Damon questiona com a voz falha.

Soltei o ar que nem sabia que estava prendendo e os fitei séria.

__ vocês sabem que... eu... não vou poder ter filhos, e não posso fazer isso com vocês, ambos podem ter filhos e serem felizes, não posso deixar que fiquem presos a uma mulher de ventre seco, com tantas outras por aí, querendo só uma oportunidade para tê-los.

__ o que está dizendo?__ Michael pergunta confuso.

Damon ainda mantinha os olhos fixos em mim, talvez ele... saiba onde quero chegar.

__ que não nos quer mais.__ afirma e abaixo a cabeça.













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O coração fica assim 💔😔

Nosso Segredinho SujoOnde histórias criam vida. Descubra agora