Boas ações e café.

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Assim que pisou dentro da cozinha foi até o seu armário e procurou uma nova dólmã limpa, já que a outra havia arrebentado os botões no desespero de se livrar daquele calor, depois a vestiu com todo cuidado, pegou o pingente do colar que carregava sempre no pescoço e beijou com carinho o nome que havia escrito ali, passando o dedo indicador logo em seguida na pequena bandeira do Brasil bordada na gola do seu uniforme, estava disposta a honrar todos os seus anos naquela profissão.

Voltou ao comando, fazendo agora tudo com atenção pois a conversa que teve minutos mais cedo havia lhe dado esperança, até se arriscou a soltar alguns sorrisos e brincar com seus funcionários pois sabia que ela não era a única que sentia o peso de toda a cobrança.

Aproveitou que na dinâmica do seu restaurante oferecia a janta para todos os seus empregados após ou durante o serviço, preparou com todo carinho algo diferente para todos eles, incluindo a si mesma. Pediu desculpas para aqueles que tiveram que lidar com os respingos dos seu estresse e para aqueles a quem ela havia sido grosseira.
Tiveram então um ótimo jantar e seus amigos de trabalho afirmaram que com aquele tipo de comida aquele estabelecimento não fecharia as portas nunca, depositando toda a confiança em Aurora que absorveu absolutamente todos os elogios como incentivo para prosseguir.

Liberou todos eles mais cedo e disse que ficaria sozinha para a limpeza, arrumou tudo enquanto sua mente fazia anotações do que ela precisava checar quando voltasse no outro dia, até que ouviu batidas em sua porta, estranhou pois todas as luzes estavam desligadas, mas foi atender do mesmo jeito.

— Ei, você de novo. — Sorriu genuinamente ao receber o abraço apertado na cintura. — E está limpa!

— É por isso o abraço. — Riu soltando-a. Os olhos verdes da menina até brilhavam em admiração. — Desculpe bater aqui tão tarde. Eu percebi que seus funcionários foram embora e a senhora foi a única que ainda não tinha saído.

— Já lhe disse que meu nome não é senhora, é Aurora. Pare de me chamar assim, tão formal. — Resmungou. — Entre por favor, Heloísa.

A morena deu espaço para a mulher mais nova passar, realmente parecia ter tomado um bom banho, já que sua pele pálida não estava mais tão suja, as unhas bem escovadas, o cabelo loiro cacheado estava amarrado em uma trança, mas ela usava o mesmo vestido surrado e rasgado. Aurora riu e negou com a cabeça ao ver que o presente que havia dado a moça tinha se tornado a coisa mais preciosa do mundo para ela.

Lembrou-se da vez em que Heloísa bateu em sua porta chorando em desespero pois haviam feito um rasgo em seu traje novo durante uma luta corporal, pouco tempo depois de Aurora presentea-la com a roupa. A jovem mulher chorava com medo de que sua amiga não fosse perdoá-la e jurou de dedinho que havia cuidado direito do tecido, o problema é que não teve como evitar o rasgo, pois ela havia sido a vítima da situação.

— Vamos sente-se, não precisa ficar envergonhada, somos só eu e você aqui. — Falou encostando-se na parede e cruzando os braços enquanto a jovem se sentava em uma das cadeiras de madeira. — Está limpa também... Daquele jeito? — Questionou em curiosidade, se referindo a dependência química que a moça tinha.

A menina assentiu mexendo nos próprios dedos, se havia alguém que ela respeitava e temia, esse alguém era Aurora. Não eram parentes, mas desde que a morena passou a ajudá-la e enxergá-la como uma pessoa de verdade, dando carinho, atenção e cuidado, Heloísa começou a obedecê-la ainda que estivesse em treinamento.

— Eu juro que não iria vir. — Começou nervosa. — Mas eu estou com muita fome, já fazem quatro dias sem comer. — A cabeça baixou se sentindo insuficiente, não havia conseguido dinheiro algum para comprar nem que fosse alguma besteira ou um pão, se sentia culpada por sempre ir atrás da amiga.

Bilhetes para Aurora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora