Eu mudo.

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Aviso de conteúdo sensível.

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Você sabe

Até quando eu tento esconder

Você sabe

Toda vez que eu digo sem dizer...

— Eu juro que vou gastar meu réu primário com esse homem! — Aurora esbravejou entrando no estúdio de dança, sabendo que a companheira estava sozinha e esperava por ela.  — Ele quer me ver na rua, Carolina!

— Você viu, não foi? — Pendeu a cabeça para o lado e suspirou, abrindo os braços e recebendo só o impacto do choque do corpo da morena no seu, brutalmente, pois a necessidade de um conforto era urgente.

— E tinha como não ver? Meu celular ta travando de notificação por causa dessa merda. — A voz já começou a embargar avisado o possível choro que ameaçava a todo custo sair. — E o pior é que eu tô sendo xingada por algo que eu nem fiz, amor.

— Eu sabia que você não seria capaz de fazer uma coisa assim. — Beijou o topo da cabeça da moça. — Me dê o seu celular. — Pediu.

— Mas por quê? — Escondeu o rosto no vão do pescoço pálido.

— Você tá muito estressada, é melhor que ele fique comigo um tempinho. Não acha? — Questionou querendo que o lado mais maduro dela se sobressaisse.

— Acho. — Fez beicinho entregando o celular. — Eu só não xinguei ele todinho porque fui obediente e vim até aqui como você pediu. — Admitiu mostrando que às vezes era impulsiva demais e agradecia por não ter feito, poderia transformar a situação em ainda pior.

— Não vai xingar ninguém. — Carolina repreendeu apertando mais a moça em seus braços. — Eu sei que foi muito injusto tudo isso, mas nós tomaremos as medidas cabíveis quando a poeira baixar, quando você se acalmar... Conversaremos com paciência. — Explicou, deixar um passo a passo era mais fácil de ser seguido por alguém ansioso. — A prioridade aqui é você e seus sentimentos, tá bom? — Mostrou que o que importava naquele momento era como Aurora se sentia, deixando sua escuta mais atenta e sensível, validando todos os sentimentos dela e priorizando a moça independente de tudo.

— Dói muito, amor. — Confessou tentando respirar fundo e sabendo que sua ansiedade poderia atacar. — Eu li poucos comentários, mas a maioria deles eram muito cruéis.

— Eu sinto muito por isso. — Seguia abraçada na moça, acariciando aqueles cabelos lisos.

— Muitos me xingavam de tantos nomes e o problema é que a foto realmente parecia. — Passou a liberar o choro com soluços. — E agora? O que é que eu vou fazer com meu restaurante? Eu tenho certeza que o movimento vai cair... Com uma crítica sobre ele já era ruim, mas eu ainda sim poderia mudar, mas imagina com uma crítica sobre mim? — Começou a cogitar as inúmeras possibilidades, passando a ficar ofegante pois o oxigênio parecia não existir mais, ficar escasso.

Aurora tinha aquele lugar como um porto, durante toda a sua vida profissional pulou de restaurante a restaurante sendo extremamente desvalorizada como cozinheira, mesmo sabendo o seu valor e sabendo que tinha potencial. Realizou o sonho de abrir o restaurante não só para ter estabilidade, ser a sua própria chefe e não precisar mais receber ordens, mas sim porque a cozinha para si era um lugar de demonstrar amor.

A morena cozinhava para quem amava porque comida é um abraço na alma e sempre é bem-vinda, pela cozinha tinha inúmeras boas memórias e uma delas era da sua avó a qual conhecia muito pouco, mas o cheiro do alimento que ela preparava demonstrava todo o carinho sentido ali e o sabor fazia com que elas se conectassem de alguma forma.
A ideia da cozinheira era fazer com que seus clientes despertassem as suas memórias afetivas por meio da comida, assim como era com ela e por esse motivo foi uma grande realização abrir um negócio só seu na área.

Bilhetes para Aurora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora