Bilhetes para Aurora - Lésbico. (CONCLUÍDO)

Juri da internet.

Aviso de conteúdo sensível.

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— Vai meu amor, você é forte e corajosa. Você consegue. — Carolina incentivou dando um beijo na fronte da namorada e outro na ponta do nariz.

— Tem certeza? — Aurora respondeu com as mãos em cima da mesa passou a estalar os dedos com anéis, estava um tanto insegura.

— Toda do mundo, eu sei que você vai se sair incrivelmente bem. — Afirmou assentindo. — Você sabe exatamente o que fazer, qualquer coisa a gente para ou você me chama. — Sorriu tentando passar conforto. — Agora, isso precisa ser feito.

— Tudo bem. — Ela fechou os olhos e inspirou fundo. — É só isso e acabou. — Repetia pra si mesma tentando acalmar a perna que balançava. — Tá. — Disse por fim. — Pode iniciar.

E então o botão foi apertado e a câmera conseguiu começar a gravar Aurora em um bom enquadramento, vestida num moletom lilás, vulnerável, sem maquiagem... Era visível em seu rosto as olheiras de quem não dormia bem porque estava abalada, era notório que ela chorava antes.

— Olá. — Ela disse um tanto desanimada, seu olhar foi na namorada que estava do outro lado da sala que sorriu pra ela tímidamente sem mostrar os dentes e sibilou um "continua, amor", fazendo Aurora soltar o ar dos pulmões, tensa. — Eu sei que vocês esperaram um tempo pra isso, mas eu estava aguardando o aval dos meus advogados e uma certa estabilidade emocional para que eu conseguisse vir aqui e conversar com vocês mais diretamente. — Ela deu um sorriso de canto, rápido, sútil. — Bom... Meus poucos fãs que restaram pediram muito a minha versão da história porque felizmente ainda acreditam que eu sou alguém bom e por eles eu vim aqui, expor o meu lado nesse circo todo que tá acontecendo para que o juri da internet julgue e decida se eu sou culpada ou inocente, não é? Porque é assim que tem funcionado ultimamente.

A morena respirou fundo e outra vez o seu olhar vacilou, voltou para a ruiva que prestava atenção e que deu um legal empolgado para informar que ela estava indo bem.
Passou a mão entre os cabelos castanhos escuros que estavam soltos e puxou as mangas do moletom escondendo as mãos, para que pudesse mexer nelas enquanto falava e não descontasse na própria pele os seus beliscões... Tarde demais, já havia pegado a mania de automutilação de Carolina quando estava com a ansiedade muito atacada.

— Queria deixar claro que primeiramente eu não imaginei que tudo seria exposto dessa maneira, mas vindo do queridísimo crítico pode se esperar tudo, como ele mesmo disse. Incluindo um vídeo chorando embaixo da chuva enquanto gritava que foi severamente agredido e que ninguém fez nada para ajudá-lo. Ele quis dizer que estava hospedado no hotel onde minha sogra é proprietária e por culpa minha e da minha namorada, ele foi expulso. — Ela pigarreou controlando o seu deboche. — Ele gosta de aumentar as coisas e adicionou mais duas pessoas no espetáculo de ofensas, assim como também usou de Heloísa, a garota de rua que aparece naquela foto, para me acertar, como se todo mundo fosse marionete e fizesse parte do jogo dele. — Umideceu os lábios nervosamente. — Ele gosta de palco, mas como em qualquer show, a gente só mostra o que é atrativo, o que gera gargalhada, o que gera julgamento, a gente só mostra aquilo que a gente quer mostrar, porém eu vou expor o camarim, porque é fácil demais cortar parte da história em que você sabe que você foi muito cruel.

Carolina apoiou o rosto na mão e o cotovelo na mesa, prestando muita atenção em tudo o que a namorada falava, ela tinha uma desenvoltura muito boa com as palavras e facilmente lhe prendia naquela explicação... O seu jeito um tanto ácido, com um pouco de deboche, a irônia e a maestria junto com a delicadeza de saber que estava segurando uma bomba prestes a explodir entre as mãos, porém manuseando para que ela pipocasse no momento certo.