Descobridor dos sete mares.

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O dia da viagem chegou e não tinha como ser pior, tudo estava programado para nada dar certo.

Aurora acabou distraindo-se com Heloísa em sua despedida, mas por culpa puramente sua, pois a moça insistia para que ela fosse embora logo. No final de tudo, a jovem loira tocou seu dedo indicador na ponta do nariz da morena, alegando que se estivesse limpa, daria um beijo carinhoso ali, havia sido ensinada desde muito cedo que deveria dar o devido carinho e atenção as pessoas que amava.
Aquele gesto derreteu Aurora, que sentou-se com ela e conversou por algum tempo sobre os devidos cuidados que a moça deveria tomar e que ela estaria sempre disponível, mesmo que por celular e mesmo que Helô não tivesse um, que fosse no restaurante pedir ajuda.

Depois disso partiu diretamente para o hospital, fez os exames todos no mesmo dia e por esse motivo atrasou, ficou na sala de espera e prioridades como grávidas, idosos e bebês apareciam o tempo todo tomando o seu lugar.
Aurora foi paciente, por mais que não estivesse em estado de calmaria, jamais descontava nas outras pessoas a sua confusão interna, isso acontecia de vez em nunca, quando a pólvora do seu barril se enchia e ela não tinha mais onde guardar, como aconteceu na situação do restaurante.

Por seguinte, passou em algum lugar para fazer um lanche, erraram seu pedido e ela não tinha mais tempo para esperar, teve que ficar com o café puro sem açúcar e um tipo de pão com uvas passas, mesmo que ela não gostasse daquilo, precisava encher seu estômago.

O trânsito naquele dia estava um caos, a mulher checava o relógio de minuto em minuto, pois seu táxi dirigia tão rápido como uma tartaruga que andava sem pressa, tudo bem, não tinha como jogar a culpa nele, parecia que todos os carros daquele lugar estavam em algum tipo de complô contra a chegada de Aurora no aeroporto.
Enquanto isso, ela apertava suas próprias mãos e tentava não alimentar os seus pensamentos negativos, um deles alertava que poderia ser um aviso para que ela não pisasse naquele avião... Compartilhou isso no grupo das suas amigas e elas como boas otimistas reverteram a situação e disseram que talvez tudo estivesse dando errado para que ela persistisse, pois estaria indo pelo caminho correto.

Assim que chegou no aeroporto, Aurora não teve tempo nem para receber o troco do dinheiro que havia dado ao taxista, cheia de malas, interpretou um típico papel daqueles que se vê em filme, uma bela patricinha se equilibrando para segurar todas as suas bagagens enquanto corre pelo aeroporto com o seu nome sendo chamado em todos os alto falantes daquele lugar, fazendo com que as pessoas a olhassem já sabendo quem era exatamente.

Despachou a bagagem e correu para entrar no avião, sendo recebida com uma gentileza falsa da comissária de bordo e por olhares desagradáveis dos outros passageiros, o que a fez se remoer em vergonha e raiva por causa do dia que estava tendo.

Após sentar na sua poltrona, cumprimentou a moça que estava acomodada ao seu lado e que inclusive era extremamente falante, simpática e engraçada. Benzeu-se com toda a calma do mundo, beijou o pingente do colar que era sagrado para si e na hora da decolagem com ajuda da sua mais nova amiga e vizinha de assento, cedeu a mão para que ela apertasse, pois por pura coincidência as duas tinham medo.
Durante todo o caminho passaram conversando, tirando as horas que dormiram, era uma longa viagem e em algum momento cansava o corpo.

Ao sair do avião, Aurora descobriu que a nova amiga iria para o mesmo lugar que ela e não poupou a moça de saber o porquê que ela estava indo para aquele local, claro que tirando suas críticas pois agora já estava perto do seu destino e havia dado uma chance, iria tentar se divertir, afinal férias não se tira sempre.
Pegaram um táxi juntas e partiram para o ponto de saída do barco, algumas horas de viagem em alto mar para chegar até a tão falada ilha.

Primeiro Aurora teve que vencer a aflição que era estar em uma peça pesada que conseguia boiar sobre as águas onde ela não conseguia sequer ver o fundo, olhar para aquela imensidão não trazia tanta calma assim, mas com o tempo foi acostumando, apesar do balanço começar a lhe dar enjôo e tontura, tentava segurar a barra, até porque não tinha outra opção. Sentou-se e fechou os olhos, sentia o estômago revirar e aquela comida desagradável querer voltar inteiramente pela sua guela, respirava fundo e engolia em seco, até finalmente chegar e ela levantar as mãos aos céus e agradecer por não ter vomitado, odiava a sensação.

Bilhetes para Aurora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora