Anunciação.

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Aviso de conteúdo sensível.

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— Agora a gente precisa tirar foto para a soberana da família. — Carolina informou lembrando a namorada que limpava os lábios rosados e sujos de vinho dela. — Primeiro a do buchinho de comida. — Puxou a noiva para perto fazendo ela rir e procurou. — Oxe, você não tem. — Resmungou.

— Nem você. — Aurora gargalhou tocando o abdômen da mulher. — Faz assim, força o máximo que dá pra dizer que a gente comeu demais. — Realmente levavam a sério.

Viraram as duas de lado e fizeram poses típicas de mulheres grávidas, com uma mão na parte de cima e outra na de baixo da barriga, mandaram de imediato e já receberam um áudio da menina explodindo em uma gargalhada tão gostosa de ouvir... De fato era uma de suas melhores características, a risada contagiante.
Logo depois mandaram a outra mostrando suas mãos com as alianças e com a legenda avisando que estavam noivas.

Enfim largaram o celular após Carolina escrever que estava tudo bem e que nada de ruim havia acontecido até o momento, Aurora estava "okay".

A ruiva teve uma ideia e colocou algumas músicas suas para tocar, sentaram-se na parte de fora da lancha, pegaram as duas taças mais a garrafa de vinho que não tinha sido bebida por completo, passaram a conversar sobre coisas aleatórias.

— Qual a sua memória de infância favorita? — Carolina perguntou olhando para a morena, tentava disfarçar, mas seu rosto estava chamando tanto a atenção. As bochechas meio coradas pós sol, os olhinhos brilhosos e a boca chamativa até demais.

— Da única vez que fui ver a minha avó, ela me ensinou a fazer macarrão a bolonhesa e me deixou comer tudo o que eu queria na geladeira. — Gargalhou lembrando que havia comido muito. — Na época eu não fazia a mínima idéia do que era, mas muito me encantava pela forma que se vestia, roupas coloridas e uma rosa na orelha, anéis e colares, hoje entendo que era da sua cultura cigana... Pisar em sua casa foi como renovar a alma, era purificado, era protegido de todos os males. E o que mais me chamou atenção era que ela não era aquelas idosas que a idade vai limitando aos poucos, ela fazia tudo. Tenho a imagem certinha na minha cabeça. — Fechou os olhos para voltar a aquele momento. — Eu estava sentadinha no chão simples e gelado, estava calor e eu estava só de calcinha, com meu buchinho pra fora, era pequena demais. — Carolina riu. — Ela me deu os seus anéis que ficavam enormes nos meus dedos e eu me ousei a colocar seus colares. Eu a vi dançar girando pela sala enquanto cantava uma música que eu dizia que era de palavras difíceis, mas hoje entendo que não era em português, era em romani.

— É uma memória muito bonita... Extremamente bonita. — Carol falou em sinceridade.

— E a sua? — Perguntou em curiosidade bebendo um gole de vinho.

— De quando eu sai com minha mãe e meu pai. — Respondeu. — Acho que é até a minha primeira lembrança da vida, andando de mãos dadas com eles bem pequenina, ele tava de bem com a vida, não estava irritado e nem parecia querer ficar. Ele me dava uma mordidinha do picolé dele toda vez que minha mãe não olhava pra gente. — Riu contagiando a namorada. — Não tava nem calor, o tempo fechado, eles me colocaram pra brincar nos brinquedos e no parquinho de areia, começou a chover, mas não foi um empecilho, era como se não tivéssemos totalmente encharcados de água, a gente continuou brincando com os pés na lama. Foi divertido esse dia, eu fiquei um pouco resfriada depois, mas valeu a pena. — Assentiu.

— Deve ter sido um dia bem legal. — Aurora comentou sorrindo ao ver que as pupilas da ruiva dilataram, mas não foram por sua causa.

— Foi sim, bastante. — Respondeu concordando. — Qual é sua memória mais vergonhosa da vida?

Bilhetes para Aurora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora