Vilarejo.

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Há um vilarejo ali

Onde areja um vento bom

Na varanda, quem descansa

Vê o horizonte deitar no chão...

— De bucho cheio? — Carolina perguntou guardando os potes novamente na bolsa, estavam cheios de sanduíches, pedaços de bolo e pães.

Um lençol no chão havia sido aberto, acima das duas o céu fazia o seu show de cores, vibrando vitalidade e pronto para absorver qualquer pensamento que era  jogado para o universo.

— Tô sim, amei tudo o que fez. Obrigada por isso, Carolzinha. — Agradeceu terminando de beber o achocolatado e limpando os cantos da boca.

— Eu quem agradeço pela companhia. — Foi sincera. — Eu tinha uma pergunta para lhe fazer, vinha depois de perguntar se você estava aberta, mas acabei me distraindo. — Riu da situação que aconteceu, do beijo que não havia sido dado. — Você está procurando um relacionamento?

— Procurando não, eu tô deixando vir... Eu comecei a me permitir quando cheguei aqui nessa ilha, como já disse antes, eu estou aberta para novas pessoas. Tento não me cobrar em relação a isso, de arranjar relacionamento e de colocar expectativa nas minhas novas conexões com os outros, mas sempre que me permito ficar com alguém é na intenção de ter sim, algo a mais. Beijar na boca é bom, mas beijar na boca com sentimento é melhor ainda. — Respondeu em bom humor. — E você meu bem, é de ter romances sérios?

— Não me chame assim que o coração chega tamborila no peito, Aurora. — Resmungou e a moça gargalhou junto a ela. — Eu queria sim ter um relacionamento sério, não costumo me apegar rápido, mas às vezes acabo levando as pessoas a sério demais e me machuco no final... Mas não deixo de tentar, ter um dengo fixo deve ser bom demais. — Riu esperançosa.

— Qual a característica que te faria desistir de um relacionamento?  — Questionou curiosa enquanto refazia o coque nos cabelos, queria entender a forma que Carolina tinha de se relacionar.

— Uma má comunicação. — Respondeu de pronto. — Se existem problemas que eu odeio lidar são aqueles causados por uma má comunicação, que poderiam ser totalmente evitados. — Era um ponto de vista maduro que interessou Aurora. — Por exemplo, eu sou extremamente sincera em relação a tudo o que eu sinto, eu falo para as pessoas para que elas saibam. — Deu de ombros. — É claro que existem suas consequências, você tem que segurar a barra de ser alguém sincero. Imagina estar em um relacionamento onde você não ama mais a pessoa em que namora, eu seria sincera com ela mesmo nesse ponto e ela saberia disso assim que eu percebesse que está acontecendo. Entende?

— Entendo... — Respondeu deixando que ela prosseguisse.

— Se eu gosto de você, eu chego e conto como me sinto justamente porque você não tem uma bola de cristal para advinhar o que se passa comigo, se eu não contar, quem vai? E por ser totalmente transparente, você já vai saber como lidar comigo, pois estarei entregue e tudo o que sinto você saberá. Eu odeio joguinhos de desinteresse, quando você tem que fingir que não tá nem ai pra pessoa, odeio quando alguém não é sincero comigo, odeio quando não se abrem verdadeiramente e não me contam as coisas, odeio quando tenho que advinhar o que aconteceu, odeio quando ficam enrolando para serem totalmente abertos com quem se relacionam. Acredito que quando a gente começa um relacionamento, estamos dispostos a tentar fazer dar certo, abrindo mão do orgulho e do ego se preciso em alguma vez, eles às vezes nos fazem ter uma má comunicação e não falar a verdade sobre o que sentimos. — Coçou a testa pensativa. — Inclusive, acho que namorar uma pessoa como eu deve ser uma barra da porra, porque nem todo mundo está preparado para ser sincero, sabe? Mas existem coisas que podem ser totalmente evitadas, intrigas, briga besta, falta de compreensão, uma discussão por causa de um desentendimento que foi feito justamente pela falta de conversa... Essas e outras situações poderiam ser evitadas se o casal tivesse uma boa comunicação.

Bilhetes para Aurora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora