Encontro e Reencontro.

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Aviso de conteúdo sensível e spoilers da saga.

Esse é um dos capítulos que quem leu desde o primeiro livro vai saber de tudo o que foi exposto e quem não leu muito provavelmente vai ficar um pouco perdido.

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Assim que a ruiva e a morena pararam na porta daquele quarto de hospital, a mulher idosa inalou bem, expirando profundamente e sorriu.

— Hum... — Ela disse pensativa diante do cheiro de flor de tangerina que invadia ali. — Por favor, não me digam nada... Não falem nada. — Pediu pacientemente. — Eu gostaria antes de tudo, antes de ouvir as suas vozes, gostaria de senti-las com o meu tato, eu poderia? — Questionou educadamente.

— Poderia sim, mãe. — Uma mulher loira que também estava ali confirmou, após ver o casal assentir, estavam nervosas e tinham as mãos dadas.

— Por favor, se aproximem de mim. — Pediu com atenção aos sons, como já era idosa e foi perdendo a visão com o tempo, sua escuta, olfato e tato, ficaram três vezes melhor, pois havia se preparado e treinado para isso. Violeta era uma mulher extremamente inteligente e você percebia isso em pouquíssimos minutos de conversa com ela. — Posso tocar o rosto de vocês?

— Pode. — A loira respondeu ao ver o casal assentir em concordância.

— Quem será a primeira? — Perguntou e Aurora logo se prontificou, não tinha medo, muito pelo contrário... Sentia conforto, confiança, era como se estivesse encontrando um membro de sua família no qual tinha um carinho imenso.

A morena andou até a maca, sentando com cuidado na beira do colchão gelado onde estava recostada a mulher que inalou outra vez aquele cheiro, novamente riu e negou com a cabeça... Encantada.

Curiosamente as orbes castanhas passearam por Violeta, que não parecia que estava em seus últimos dias de vida tirando a sua respiração um pouco cansada, a idosa havia se recusado a usar as roupas do hospital. Seguia com sua saia longa, uma blusa com babados e um diklô cobrindo os cabelos, os dedos cheios de anéis grandes de ouro, sua pele era enrugada e os olhos haviam ficado esbraquiçados, mas ainda sim mostravam um pouco de verde nas orbes.

— Por favor, me dê licença. — Disse educadamente, voz de mulher madura.

Ela ergueu suas mãos com dificuldade, tremiam demasiadamente, mas conseguiram chegar até o rosto de Aurora que respirou fundo contendo a sua respiração e vontade de chorar, o tato era quente e confortante, nada invasivo. Violeta agiu pelos polegares, passando pelas sobrancelhas marcadas, os olhos puxados, o nariz, a boca carnuda, as maçãs das bochechas e  por fim a mandíbula até o queixo.

— Interessante. — Comentou falhadamente, com o cenho franzido, mas em pura atenção e fascinação, estava diante a uma prova de que aquilo que acreditava desde a infância, era real. — Agora a outra, cadê? Acredito que é outra, não é? Tenho certeza disso. — Sorriu, com Aurora era um conhecimento, já com Carolina era um reencontro.

E então a ruiva aproximou-se, sentando do outro lado da maca e cedeu seu rosto, com os olhos fechados, sentindo as mãos da idosa. Era bonito ver como Violeta não tirava o seu sorriso do rosto, mas como modificava ele sempre que esbarrava, propositalmente, por algo que conhecia. As digitais percorreram pelo mesmos pontos que antes havia seguido na morena, as sobrancelhas ruivas por fazer, os olhos, o nariz pontudo, os lábios rosados, o queixo fino... Mas aquele ela já conhecia, por já ter tocado, até quando ele não tinha mais vida, até quando o coração não bombeava mais o sangue naquele corpo.

Violeta havia sido a última a se despedir da outra vida de Carolina, antes de fecharem o caixão de Jasmine suas mãos tocaram sem nenhum medo aquele rosto gelado e desacordado, e então ela sussurrou para que a mulher fosse obediente outra vez e aceitasse o seu destino, aquele momento era um encerramento de ciclo e ela precisava entender isso... Bom, pelo visto a mulher pálida realmente compreendeu, já que estava novamente ali, diante dela e agora com um novo nome.

Bilhetes para Aurora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora