Bilhetes para Aurora.

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Aviso de conteúdo sensível.

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— Será que eu posso ficar um pouquinho sozinha? — Aurora perguntou limpando seu rosto.

— Pode, mas chama a gente quando você quiser conversar ou quiser companhia? Não se exclui não. — Carol pediu.

— Tá bem. — Ela disse dando um selinho na namorada. — E obrigada vocês por terem me dado essa notícia de um jeito mais empático, por se importarem em me deixar confortável e principalmente por não terem falado na frente de Heloísa. — Deu um beijo na testa de Ju e outro na testa de Valentina. — Eu amo vocês demais. — Falou saindo pela porta e indo direto para o quarto.

Onde entrou em um desespero de desmoronar, trancou a porta numa urgência e se sentou na beirada da cama, ali ficou por horas, imóvel.

Um tiro à queima roupa

Outra cicatriz

Senti a dor na pele

Por tudo que eu não fiz

O aperto aqui no peito

Me roubou o amanhecer

Eu dei meu melhor...

Até que se jogou no chão de joelhos, beijou a medalhinha com o nome do filho e benzeu-se para começar a sua oração, as suas preces. Pediu que seu Deus fosse misericordioso, que tivesse piedade dela e das suas amigas, que olhasse por ela. Caiu no choro outra vez, pedia socorro, pedia um sinal, lembrou de que não procurava a ele somente nos momentos de dor, estava sempre agradecendo por mais uma conquista, por mais um dia, por tudo de bom que havia acontecido consigo.

Questionou ao silêncio o porquê que estava passando por aquilo, se sentia vítima da realidade injusta e cruel.

— Eu te entendo agora, Melinda. — Lamentou para a mulher. — O que eu fiz de errado? — Perguntou abaixando seu corpo e colocando o rosto sobre as mãos que tinham os dedos cruzados, ainda de joelhos. — O que foi que eu fiz de errado? — Repetiu. — Por que eu tô passando por isso tudo de novo? Onde eu tô errando? — Sua voz saía tão dolorida, os olhos inchados e vermelhos, o rosto inteiro molhado.

Claramente ninguém respondeu, mas era mais um questionamento para si.

— Sirena? — Falou baixinho e sentiu uma pontada imensa de dor na cabeça, até grunhiu. — Eu demorei demais? Foi isso? — Os prantos ficaram mais fortes por pensar na possibilidade de ter pedido tempo. — Eu estava mundando a minha vida agora, eu tenho uma filha... Eu não mereço isso. — Disse entre soluços fortes que até faziam ela se engasgar e cair em tosses fortes. — É assim que eu tenho que reagir? Você disse que Melinda e Serena iriam me fazer reagir. É assim? Eu só tô começando a lutar pela minha vida por causa de um tumor? — Doía falar aquilo, sua coluna, pulmões e costelas já doíam tanto. — Eu não fui ingrata... Eu tô curtindo a minha vida, não tô? Eu estou desperdiçando tempo? É por isso que me deram essa consequência? Eu não já agradeci tanto por uma nova oportunidade? — Sua mente cogitava milhares de possibilidades e que tinham grande chances de estar corretas. — De qualquer jeito, isso não deveria ser só pra mim? Fazer minhas amigas, namorada, filha, sogra, sofrerem? Por que isso? — A garganta machucava, arranhava.

Sentia vontade de gritar, de descontar tudo na raiva, de espernear e se negar a viver aquilo, de não acreditar que era consigo... Mas de qualquer forma, aquela doença estaria em si e se não cuidasse, iria falecer mais rapidamente.

Bilhetes para Aurora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora