Abstinência.

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Aviso de conteúdo sensível.

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"O deserto faz parte do trajeto, mas não é o seu destino". (bilhetedosenhorr).


Aurora bateu na porta três vezes, chamando a menina que estava dormindo já fazia muito tempo, Carolina tinha uma bandeja de metal em mãos com o café da manhã preferido dela, algumas frutas onde ela sempre comia todas primeiro e o misto quente com o achocolatado.

Não ouviram nada como resposta, decidiu então bater outra vez e outra, e outra, e outra, até que escutaram um resmungo, talvez um grunhido, um gemido de dor baixinho que fez a morena franzir o cenho e o seu coração já apertou em total preocupação.

— Helô? — Chamou em um tom consideravelmente alto e ouviu então outro gemido de dor. — Abre a porta, Helô. — Pediu com medo.

Esperaram por pouco tempo, mas nada aconteceu, Aurora em uma tentativa tola forçou a porta, porém como de esperado, não se abriu.
Carolina entregou a bandeja para a namorada e vasculhou no bolso uma chave qualquer, por meio dela conseguiu fazer um truque específico para funcionários e abriu a porta do quarto.

Encontraram o cômodo completamente revirado, as roupas espalhadas pelo chão, os travesseiros jogados pelos cantos, copos vazios, que provavelmente continham água, em cima de quase todos os móveis, havia gastado todo o estoque, e na cama um montinho em formato de gente, totalmente coberto, gemia.

Aurora depositou a bandeja em cima de uma escrivaninha e correu até a menina, abaixando o cobertor dela até a cintura e se assustando com a imagem, parecia ter se banhado e não se secado de tanto suor, seu pijama de bolinha estava totalmente molhado e ela tremia batendo os dentes, parecia não estar ali presente, estava pálida e a pele gelada.

— Meu Deus, Helô. — A morena expressou em total assombro tentando pensar no que fazer. — Me dê licença, vou abrir o seu pijama. — O primeiro passo era livrar as roupas da menina, seu corpo precisava respirar. — Você consegue conversar comigo? — Tocou a mão na testa dela e jogou a coberta inteira para longe, olhou Carolina e fez um sinal para que ela ligasse para Valentina. Enquanto as mãos ágeis abriam a blusa de botão. — O que aconteceu? Você tá sentindo dor? Consegue me dizer o que está se passando? — Questionou sentindo os pelos dela se eriçarem por completo e a menina começar a chorar alto.

Enquanto isso a ruiva andava de um lado para o outro com o celular no ouvido que chamava incansavelmente na ligação para a médica.

— Fome. — Helô falou uma única palavra e a repetiu algumas vezes a mais que o normal. — Dor. —  Seus dentes batiam e ela tremia quase em uma convulsão, porém totalmente consciente.

Assim que ouviu o celular sendo atendido, a ruiva partiu para o corredor para que pudesse falar com mais calma longe daquela situação.

— Valentina? É a Carol, a Aurora pediu pra te ligar. A gente veio trazer um café da manhã pra Helô e encontramos o quarto dela todo revirado, ela tá na cama gemendo de dor, toda banhada de suor e tá gelada também. — Despejou todo o seu nervosismo, tentando controlar a voz, também tremia. — A gente não sabe o que fazer, ajuda.

— Eu não posso ir ai, eu e Duda estamos longe, iria demorar muito pra chegar. — Se praguejou por ter achado que seria um dia tranquilo. — O primeiro passo é ter calma, vamos ter calma? — Ela percebeu que Carolina estava nervosa demais. — Vocês precisam transpassar a calma para ela, o nervosismo só vai atrapalhar agora. — Ouviu a mulher respirar fundo na ligação e prosseguiu. — Mais algum sintoma?

— Tá dizendo que tá com fome, disse que tá com dor de cabeça... Tremendo muito e tá muito alheia, agitada. — Tratou de listar rapidamente.

— É uma crise de abstinência forte. — Deu o diagnóstico. — Vocês não podem dar remédio de jeito nenhum, ouviu? Por mais que ela esperneie, grite, implore. Ouviu? — Questionou seriamente e teve a confirmação de Carol. — A dor é causada pelo psicológico, a necessidade de ter alguma substância circulando no corpo causa isso. Vão dar um banho frio nela, deixá-la muito bem alimentada e hidratada... Sempre com supervisão, ela vai procurar em qualquer coisa alguma substância que a deixe alucinada, que tenha o cheiro forte, esmalte, acetona, álcool, bebida alcoólica e dentre outras coisas, privem tudo o que vocês acharem suspeito. — Informou. — Dêem muita atenção a ela, como sair desse vício é algo que ela quer, é necessário que vocês foquem no objetivo e não deixem ela esquecer dele por nem um segundo. Distraiam ela, façam programações, conversem sobre o que ela está sentindo. E marquem uma sessão de terapia com algum psicólogo porque ela vai precisar fazer acompanhamento.

Bilhetes para Aurora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora