Momento certo.

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— Mãe. — Carolina chamou sentando-se a mesa e observando a mulher que fazia contas, com uma calculadora de um lado, notebook do outro e uma planilha no meio.

— Sim? — Mônica falou direcionando seu olhar a ela.

— Gostaria de conversar melhor com a senhora. — Informou, parecia um tanto abatida.

— É sobre aquilo? — Duda questionou a amiga e ela assentiu. Só tinham as três ali e Carolina não se importava de Eduarda ouvir, já que era sua melhor amiga.

— Tudo bem, pode falar. — Permitiu deixando o notebook de lado.

— Eu estava conversando com a Duda e agora que você sabe da minha sexualidade, posso falar disso. — Disse pensativa. — A senhora sabe que minha vida tem caminhado bastante desde a chegada de Aurora.

— Na verdade ela foi alguém que trouxe mudanças na vida de todo mundo, falando nela, como está? — Perguntou rapidamente só para abaixar sua preocupação.

— Não sei dizer agora, consegui acalmá-la antes de dormir e Helô deitou com a gente, ela ficou quietinha... Hoje a deixei só por causa do trabalho, mas a fiz comer e ela disse que iria tomar um banho, provavelmente já tem alguém com ela. Combinei com Ju e Valen de tentar fazer com que ela saia do quarto um pouquinho. — Explicou brevemente.

— Ótimo, pode prosseguir. — Cruzou as pernas e recostou-se na cadeira.

— Então, tenho sentido sentimentos que nunca havia antes e tenho ficado pensativa demais sobre isso, acredito que ninguém melhor que minha mãe para me ajudar agora. — Fez a mulher mais velha sorrir. — A senhora sabe o estado de saúde dela agora e se existe uma coisa que não cheguei nem a cogitar é de sair de perto dela. Não deixarei ela passar por isso só, meu sentimento por Aurora só cresce. — Sentia um peso no coração, era estressante e doloroso só falar sobre isso agora, mas queria colocar pra fora. — É a primeira vez em que me sinto assim, não tô bancando a emocionada nem essas coisas, mas por exemplo quando eu namorava com um homem... Não sentia nada além de carinho por ele, não sentia vontade de casar, de ter filhos, de beijá-lo, nem sequer de passar um tempo com ele porque ele era meu namorado e afinal das contas ia querer aproximação, andar de mãos dadas e coisas assim, isso me deixava desconfortável demais. — Analisou-se. — Eu não sentia vontade dele em relação a nada, eu ficava aguniada quando ele chegava, fugia de planos futuros e de conversas profundas. — Carol expressou suspirando. — Mas é isso, eu tenho pavor de não ser sincera com as pessoas e me sinto tão desesperada quando conto mentiras.

— Porque você contava a ele. — Duda complementou e ela assentiu.

— Não acho que a gente tem que ficar com alguém por pena, mas eu via ele tentar tanto que eu me forçava a fazer aquilo dar certo... Até que eu não aguentei mais, mas foi ele quem terminou comigo. — Cruzou os dedos das duas mãos obtendo uma postura mais séria. — Só que com Aurora eu me entreguei, eu vi as coisas acontecendo e eu não me forçava a fazer nada porque tudo foi natural demais. Eu estava perto dela porque eu tinha vontade, eu queria ouvi-la falar, eu queria que ela se abrisse comigo e me contasse seus traumas justamente para que eu não a magoasse sem saber, eu queria cuidar, eu queria ter contato físico. No primeiro dia quando a deixei no quarto, deixei sem vontade de ir, seu jeito de sorrir e o sotaque me prenderam tanto que eu fiquei nervosa, meu coração quase saía pela boca. Coisa foi quando segurei a mão dela pela primeira vez e quando ela correspondeu, quando ela me fez um carinho tão discreto e disse que havia alguém aqui na ilha que lhe chamava a atenção. — Começou a sorrir por recordar de tudo. — E eu me sentia bem, eu me sentia inteira... E foi tanta coisa ao mesmo tempo que eu tive que me policiar e não ir como um avalanche pra cima dela, e esperar os seus processos que foram de um por um, com calma. Ai o respeito cresceu, a admiração, o cuidado, o amor... Enfim.

Bilhetes para Aurora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora