twenty-two

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Aquelas massagens me deixavam tensa, estigada, algo bom, e ao mesmo tempo ruim. Mitty tinha umas mãos dos Deuses.

— não vai falar nada? Ou quer que eu adivinhe como foi sua infância? — sorri debochando.

— bom, somos em três irmãos, meus pais são bem unidos e amigáveis, eu tenho um irmão mais velho, e ele transformou o que era pra ser algo marcante, em algo aterrorizando, durante 13 anos da minha vida inteira.

— achei que só tinha o Clinton de irmão.

— não, na verdade só considero o Clinton, o outro, não gosto nem de comentar muito.

— agora vai falar, começou, termina.

— olha eu sempre fui um meio de passa tempo pra ele, sempre gostou de me trancar em um baú de madeira, que cabia um adulto, de mais o menos 1,66 de altura, e eu sempre fui baixo, então aquilo era uma tortura, ele me enfiava lá, e me trancava, me deixava preso até a hora que ele queria — piscou rápido, estava se sentindo um pouco mal, pela expressão que me passava — eu fui me fechando, e Clinton sempre tentava evitar, mas ele era bem maior que a gente, eu fiquei mas quieto, um pré adolescente sorridente, não sorria mais, não gostava de sair, ou de brincar...

— sua mãe não fazia nada?

— tinha medo de falar algo a ela, então eu fui aguentando aquela tortura, e uma vez peguei ele fumando, ele começou a usar drogas e eu escondi todas no quarto de minha mãe, ela achou, brigou com meu pai, e meu irmão com medo da separação, assumiu que era dele, ele apanho, me senti aliviado, mas ele não sofreu nem o mínimo, do que me fazia passar. Após isso ele me bateu, me deu muitos tapas e até cortou meu rosto com seu anel de caveira, Clinton contou a minha mãe, e eu com medo e assustado de ele fazer algo bem pior, comecei a me dopar de entorpecentes, virei um viciado, e ele se formou em alguma faculdade, e eu não compareci, e nem Clinton.

— caraca vc ganhou... — sorri com pena dele, agora sei pq ele é meio fora da casinha.

Ele parou com as massagens e soou o nariz.

— outra coisa que eu não mencionei, uma vez meu pai me deu um tapa na boca, e nessa época eu usava aparelho, cortou toda minha boca, e eu caí da sacada de casa, que era baixa, essa cicatriz nas minhas costas, não foi bem um acidente, é a cicatriz que ficou após eu cair lá de cima.

— seu pai é maluco? Como não foi bem um acidente? Vc caiu de uma sacada Pietra! — me encarou.

— meu pai não gostou de ouvir o que eu falei, é pode ser considerado um acidente.

— o que vc disse?

— que ele perdeu a mulher, o filho, e ia perder a filha, pq ela não ia querer crescer tendo ele como inspiração — dei risada.

— vc sim é maluca kkkk — riu de minha cara e coçou a nuca.

— e me diz uma coisa, quando vc resolveu fazer essas tranças? Quando eu te conheci, não tem muitas lembranças, mas lembro que vc andava de bicicleta com o Krass, seu cabelo não era assim.

— resolvi mudar de visual, um que fosse só meu, que eu mesmo pudesse fazer em casa, no caso, cagada com a máquina de cabelo, eu tinha 18 anos.

Sentados um do lado do outro, com as pernas cruzadas, olhando as grades.

— outra pergunta? — me olhou.

— uma sem noção?

— manda aí.

— como foi sua primeira vez?

— isso é bem sem noção kkkk — ficou constrangido e cruzou as mãos em cima do joelho.

Revirei os olhos rindo.

— foi...ahn...normal, não foi emocionante, nem um "caraca eu faria a noite toda", foi um "uau que legal, até outro dia", e esse outro dia nunca chegou, pq eu desapareci kkkk.

— vc transou com a garota e sumiu? Qual a lógica? Não foi o que esperava?

— não foi o que eu imaginava que seria, em filmes e quente e contagiante, mas na hora foi um "o que eu faço agora?".

— poxa kkkk.

— a garota já era mas entendida do que eu, e sabia me conduzir né, mesmo que eu soubesse o que era pra fazer naquela hora. Minha primeira vez foi uma tremenda de uma merda, e a sua?

— não foi o que eu esperava, e eu não cheguei a completar o serviço, eu dei uma desculpa, fingi passar mal, e foi um constrangimento total, foi péssimo, uma merda também.

— mas depois que se acostuma, todas as vezes serão iguais.

— isso aí — fingi saber do assunto.

Conversamos um monte, a noite foi passando, e Mitty adormeceu, fui pra outra cama, dormimos até às sete e meia da manhã.


Meu Novo Vício - Chase Atlantic Onde histórias criam vida. Descubra agora