Capítulo 45

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Harry revirou os olhos quando o retrato falou, segurando a mão de Malfoy com segurança e dando-lhe tempo para digerir a situação. Finalmente, sem desviar os olhos do retrato, Malfoy murmurou incrédulo.

— Como isso é possível ?

Harry abriu a boca, mas o retrato o alcançou. Ele se levantou e ajeitou suas vestes de bruxo, então explicou calmamente.

— Hogwarts tem uma tradição: cada diretor, ao assumir o cargo, recebe um retrato encantado. Normalmente o retrato fica exposto na sala do diretor, mas dada a minha... posição precária, preferi mantê-lo à distância. Seguro.

Malfoy balançou a cabeça e olhou para Harry, com um brilho divertido nos olhos.

— Então foi daqui que vieram os preciosos conselhos sobre poções que você me trouxe? De certa forma é reconfortante...

Harry fez uma careta e revirou os olhos, mas conteve uma risada. Mais uma vez, o retrato falou acidamente.

— Se você aceitou cegamente o conselho do Sr. Potter de preparar uma poção, terei que reconsiderar minha posição sobre sua inteligência, Sr. Malfoy.

Harry rosnou.

— Obrigado pelo voto de confiança, senhor. Você não precisa fingir que me odeia, Malfoy conhece cada detalhe.

O retrato de Severus Snape cruzou os braços sobre o peito e olhou para eles com olhos escuros. Malfoy torceu o nariz.

— Acho que o Professor Snape não confia mais em mim, considerando a marca no meu braço.

Embora sua expressão fosse cheia de desafio, Harry podia ouvir claramente a amargura em sua voz e rosnou, irritado.

— E ele estaria particularmente em má posição para julgar você dada a marca em seu próprio braço!

Malfoy engasgou, seu olhar indo do retrato de Snape para Harry, como se estivesse chocado por ele estar contradizendo seu ex-professor. Harry sorriu levemente e encolheu os ombros.

— Não fique tão chateado por eu enfrentá-lo. É um retrato e ele não tem mais como me deter ou tirar pontos da minha casa…

O retrato interveio secamente.

— E isso é particularmente lamentável.

Porém, ele sorriu, como se estivesse se divertindo — se um retrato pode se divertir.

Malfoy assentiu.

— Tudo bem. Você encontrou um retrato do Professor Snape e ele será valioso para nós… pelo resto. Por que me mostrar isso, Potter?

Harry suspirou e esfregou os olhos nervosamente. Ele murmurou, um pouco desconfortável.

— Isso não é tudo…

Malfoy ficou tenso e estreitou os olhos.

— Já são muitas revelações... Devo me preocupar com o que acontecerá a seguir?

O retrato zombou, ainda com um sorriso zombeteiro.

— Tudo sobre o Sr. Potter é preocupante. Você deveria saber disso, Sr. Malfoy.

Harry olhou para ele e rosnou.

— Esse maldito retrato é muito falante, se você me perguntar... Não importa. Eu te disse que me escondi em Hogwarts, lembra?

Malfoy assentiu, parecendo perplexo. Harry suspirou e fechou os olhos por um momento, afastando com firmeza as memórias prontas para invadi-lo. Ele sussurrou, baixinho.

— Eu… voltei para o local onde ele foi atacado. Snape.

O retrato rosnou.

— Professor Snape. Ou diretor, se preferir.

Harry revirou os olhos, evitando mostrar a língua para ele. Era algo que ele fazia com frequência, desde que encontrou o retrato de Snape.

Malfoy olhou para ele com os olhos semicerrados, provavelmente tentando entender o que Harry queria dizer.

Harry hesitou, depois balançou a cabeça. Ele ergueu sua varinha e sussurrou um “Incendio” para acender todas as velas da sala, afugentando a escuridão.

Malfoy piscou, observando o quarto antigo, mas perfeitamente conservado. Seu olhar fixou-se na cama e ele engasgou, ficando violentamente pálido.

Harry fez uma careta e então explicou, quase sussurrando.

— Ele não estava morto. Quase morto, provavelmente. Ele me mandou aqui, para que eu pudesse me esconder com segurança, mas... eu não podia deixá-lo.

Malfoy se aproximou da cama hesitante, sem tirar os olhos do corpo imóvel de Snape. Sua pele era calcária e ele estava imóvel. Ele estendeu a mão, mas não chegou a tocá-lo, visivelmente desconfortável.

Malfoy sussurrou, sua voz instável.

— Ele está morto?

Harry suspirou.

— Não. Ele está em coma, eu acho. Quando cheguei aqui, ele estava quase inconsciente, apenas o suficiente para me mostrar seu retrato. Foi a pintura que me orientou a cuidar dele da melhor forma possível. Aparentemente, o Professor Snape fez questão de se imunizar da melhor maneira possível contra o veneno de Nagini, o que lhe permitiu permanecer vivo até que eu o encontrasse. Consegui preparar algumas poções simples para continuar, mas não tenho nível para ir além disso.

Malfoy murmurou, pensativo.

— Eu posso fazer isso. Prepare essas poções.

Harry piscou e sorriu.

— É verdade! Nem pensei nisso, apenas imaginei que o retrato poderia te ajudar de forma mais eficaz com a poção que você tem que preparar. Mas se conseguirmos curá-lo...

Malfoy fez uma careta ao olhar para o corpo inerte.

— Vai demorar muito, Potter. Nem tenho certeza se ele voltará a ser o que era antes.

O retrato interveio bruscamente, assustando Malfoy.

— Tive o cuidado de orientar o Sr. Potter a fazer o que fosse necessário para evitar que eu acabasse como um vegetal. Além disso, sou um Legilimente e Oclummente Confirmado, então minha mente ficará bem.

Harry riu, determinado a melhorar o clima.

— E tudo graças a mim... você vai ter que erguer uma estátua para mim...

Como ele esperava, o retrato de Snape franziu a testa e resmungou. Seu comportamento trouxe um sorriso a Malfoy, mas este ainda parecia tenso e preocupado.

Harry puxou-o de lado e sussurrou, evitando o olhar do jovem.

— Sinto muito, eu deveria ter te contado antes.

Malfoy pareceu surpreso e balançou a cabeça, fazendo uma careta.

— Você não precisava confiar em mim, Potter. Porém... você tem certeza de que ele está realmente do seu lado? Ele poderia trair você, certo?

Harry olhou de Malfoy, que parecia genuinamente preocupado, para o retrato de Snape, que olhava tristemente para seu próprio corpo inerte, e suspirou.

— Honestamente? Se eu não tivesse as lembranças dele, num momento em que ele pensava que estava morrendo, poderia ter dúvidas. Mas passei a conhecê-lo um pouco melhor desde que chegamos aqui, quer dizer, através do retrato dele e... também confio nele.

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