Capítulo 14

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Draco engoliu em seco, nervoso, horrorizado. A ideia de um bebê indefeso e inocente — apesar de seus pais monstruosos — sendo criado pelo mago das trevas e sua tia maluca foi o suficiente para deixá-lo doente, embora ele fizesse o possível para esconder seus sentimentos.

Alguns Comensais da Morte ousaram se aproximar para parabenizar seu mestre, curvando-se e enchendo-o de elogios. Voldemort deixou-os falar sem parecer prestar atenção às suas palavras, antes de dispensá-los abruptamente. Seu olhar parou em Draco e ele o chamou, com um sorriso mesquinho.

— Querido Draco… meu porcionista oficial. Chegue um pouco mais perto, precisamos conversar...

O coração de Draco deu um pulo, mas ele avançou com a cabeça erguida, sem demonstrar medo. Pelo canto do olho ele avistou seu pai, olhando para ele com as sobrancelhas franzidas, e suspeitou que não seria capaz de evitá-lo por muito tempo. Lucius eventualmente ordenaria que ele fosse vê-lo e Draco teria que decidir se iria se opor claramente a seu pai ou se iria agir como faz com Voldemort.

Ele empurrou tudo sobre seu pai para o fundo da mente, concentrando-se no momento presente. Ele estava perfeitamente ciente de que o menor erro poderia custar-lhe caro e ele não queria acabar em uma das masmorras do Lorde das Trevas.

Diante do mago negro, ele se curvou como sempre e manteve os olhos baixos. Se Voldemort achava que era um sinal de respeito, para Draco era mais uma forma de esconder seus pensamentos e segredos. Ele temia que o homem usasse legilimência nele e descobrisse seus segredos mais obscuros.

Voldemort suspirou e dispensou o resto dos Comensais da Morte. Mesmo sentindo o olhar dele enquanto a sala se esvaziava, Draco permaneceu imóvel, o olhar resolutamente fixo no chão, sem demonstrar o menor sinal de impaciência.

Finalmente, eles ficaram sozinhos e Voldemort falou novamente, em tom doce.

— Então, querido Draco, você tem algum resultado para me mostrar?

Draco hesitou brevemente e depois assentiu lentamente, tirando do bolso o frasco que havia preparado antes.

— Na verdade, sim, mestre. Acontece que consegui obter um elixir estável, que deve regenerar parcialmente a sua pele.

Ele apresentou o frasco, segurando-o para que Voldemort pudesse olhar para o líquido levemente dourado, e se conteve para não retirar a mão apressadamente quando o bruxo das trevas a agarrou, tocando a pele de Draco. Os dedos de Voldemort eram gelados e por um breve momento, Draco sentiu como se estivesse entrando em contato com um cadáver.

Ele se recuperou rapidamente, esperando que o mago negro não tivesse percebido sua reação instintiva de desgosto, temendo ser punido por esse gesto. No entanto, Voldemort demorou a examinar o líquido contido no frasco.

Quase pensativo, o homem murmurou.

— E como posso ter certeza de que não é veneno? Como posso ter certeza de que você não pretende me prejudicar?

Draco protestou imediatamente, mas suas palavras careciam de convicção até mesmo para seus próprios ouvidos. Voldemort deu um rosnado irritado e Draco ficou em silêncio, desconfortável. Ele finalmente sussurrou, hesitante.

— Posso ingeri-lo na sua frente e provar que é perfeitamente inofensivo, mestre.

Voldemort olhou para ele com uma expressão zombeteira e balançou a cabeça.

— Tão ansioso para servir, assim como seu pai...

Draco permaneceu em silêncio e baixou ligeiramente a cabeça para esconder o brilho de ódio em seus olhos à menção de seu pai. Foi ele quem os prendeu neste pesadelo sem fim e se recusava a perdoá-lo.

O jovem teve que esperar, de pé, de cabeça baixa, pela boa vontade de Voldemort. Este último estava demorando e mesmo ouvindo, Draco não tinha certeza se sabia o que estava fazendo.

Então ele ouviu a garrafa sendo aberta.
Houve alguns momentos de espera insuportável, então o mago negro bebeu o frasco, sem dizer mais nada. Draco resistiu à tentação de olhar para cima, para observar o resultado, mas não conseguiu fazê-lo.

Depois de um silêncio interminável, que deixou Draco quase doente de ansiedade, Voldemort soltou uma exclamação de desprezo.

— Pelo menos você não me envenenou, certo?

Surpreso, Draco ergueu ligeiramente a cabeça e viu o mago das trevas examinando seu rosto no espelho, apalpando sua pele pensativa. Não houve nenhuma mudança óbvia, embora Draco tenha notado que as escamas reptilianas que o mago das trevas tinha em suas bochechas e testa pareciam ter desaparecido.

Voldemort olhou para ele e Draco abaixou a cabeça mais uma vez, incapaz de evitar pedir desculpas.

— Sinto muito, Mestre. Achei que haveria efeitos mais pronunciados. Vou adaptar a fórmula e retrabalhar a poção. Eu posso…

Ele foi cortado por uma Maldição Cruciatus e desmoronou, com a boca aberta em um grito mudo. Seu corpo arqueou-se bruscamente enquanto ele tentava recuperar o fôlego, a dor levando-o à beira da insanidade.

Ele mordeu o lábio sem nem perceber, enquanto lutava para respirar, e o único pensamento coerente que teve foi que iria morrer ali, engasgado aos pés de Voldemort, porque não havia conseguido o impossível.

Então o feitiço parou abruptamente e Draco foi capaz de respirar fundo, o influxo repentino de oxigênio fazendo sua cabeça girar. Ele prendeu a respiração o melhor que pôde, de quatro no chão empoeirado, com lágrimas nos olhos. Ele sentiu algo escorrendo pelo seu queixo, então uma gota de sangue caiu no chão, um sinal de que ele havia se mordido até sangrar. Ele levantou a mão trêmula e limpou a boca, estremecendo quando seu lábio ardeu levemente, mas ele não olhou para cima. Ele simplesmente esperou, ciente de que este era apenas o começo de sua punição.

Voldemort se aproximou até que ele estava pairando sobre ele e sibilou, raiva claramente audível em sua voz.

— Você terá que fazer melhor do que isso, Draco Malfoy. Da próxima vez, não serei tão paciente com seus fracassos. Quero resultados, resultados rápidos. Não importa como você faz isso, não importa o que você precisa.

Draco fechou os olhos para impedir que as lágrimas caíssem e assentiu lentamente.
Voldemort deu um passo rápido para o lado e seu pé bateu em seu estômago, fazendo-o cair pesadamente.

— Não tenho certeza se você entendeu.
Com a voz quebrada, Draco se atreveu a falar, aterrorizado.

— Eu entendo, mestre. Farei todo o possível.

Voldemort bufou, não escondendo o desprezo que sentia pelo jovem caído no chão. Então ele lançou um feitiço cortante, cortando sua bochecha.

— Para cada falha, você receberá uma cicatriz. Talvez a perspectiva de ficar desfigurado lhe dê alguma inspiração... afinal, os Malfoys são tão orgulhosos!

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