Capítulo 21

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Embora tenha ficado surpreso ao ser consolado por Draco Malfoy, Harry achou difícil afastar a culpa que o consumia. A sensação de fracasso foi avassaladora, especialmente depois de ver as consequências de sua fuga: ele foi responsável por todos os ferimentos que Malfoy recebeu, só porque não havia encerrado o reinado de Voldemort.

Ele ouviu os conselhos de seus pais falecidos, sem sequer tentar lutar. No entanto, ele destruiu todas as horcrux e Voldemort agora era mortal... mas ele havia se escondido.

Quando ele confessou que havia destruído cada fragmento da alma de Voldemort, ele permaneceu em silêncio e imóvel, esperando pela repreensão de Malfoy. Este último não seria errado em pressioná-lo um pouco, não quando ele sofria todos os dias com a decisão de Harry.

Depois de um longo momento, Malfoy suspirou.

— Você não tem medo que ele faça isso de novo? Mais horcrux?

Harry lutou para sair de seus pensamentos, um pouco surpreso com a pergunta de Malfoy. Ele balançou a cabeça com uma careta.

— Se ele tentasse, correria o risco de se destruir. Quero dizer, o que sobrou de sua alma está tão danificado e instável... Acho que ele enlouqueceria para sempre.

Malfoy bufou, com uma pitada de diversão em seu olhar cinza.

— Acho que ele já enlouqueceu, Potter. Ele não tem mais nada do político carismático de que meu pai me falou... se ele realmente existiu.

Harry olhou para Malfoy por um momento, surpreso ao ouvir sua amargura quando mencionou seu pai. Em vez disso, lembrou-se de sua admiração ilimitada pelo homem. Em Hogwarts, Draco Malfoy era um filhinho do papai, nunca hesitando em envolver seu pai sempre que ele estava chateado... E Malfoy Sr. parecia mimar escandalosamente seu filho, já que o garoto conseguia tudo o que pedia.

Ele decidiu que era uma conversa para outro momento e respondeu com um suspiro.

— Pelo que aprendi, ele era realmente um líder carismático. Ele reuniu seus Comensais da Morte facilmente, pois sabia como encantar e conversar com eles.

Malfoy descartou o assunto para voltar à conversa inicial.

— Ok, então se ele não pode mais criar essas coisas, ele ainda é mortal, certo? Ele pode ser morto a qualquer momento, por qualquer pessoa?

Um arrepio percorreu a espinha de Harry e ele olhou para Malfoy por um momento, tentando adivinhar suas intenções. Perdido em seus pensamentos, o jovem não percebeu e continuou com um suspiro.

— Honestamente? Você fez bem em partir naquele dia. Você provavelmente estava ferido e exausto. Eu lembro…

Malfoy calou-se de repente e Harry se inclinou em sua direção, preocupado.

— Malfoy? O que você lembra?

Afastando uma mecha de cabelo loiro com um gesto nervoso, ele encolheu os ombros, envergonhado.

— Lembro-me do seu estado de exaustão quando nos encontramos na sala de idas e vindas.

Harry engoliu em seco ao entender porque Malfoy hesitou. Ele se lembrava desse momento também e especialmente do falecido de Vicente, que devastou a sala com fogomaldito quase matando Malfoy.

Quando Harry o viu puxando seu companheiro inanimado na tentativa de escapar das chamas, ele não conseguiu deixá-lo. A ideia de o Draco ser morto era insuportável para ele e ele mergulhou no coração das chamas, sem hesitar um só momento.

Naquele dia, Harry ficou aliviado por tê-lo ajudado, embora nunca tivessem sido amigos.

Deixando as memórias de lado, Harry suspirou e abaixou a cabeça.

— Talvez. Mas eu não estava tão machucado. Eu poderia ter... tentado. Lute um pouco mais. Em vez disso, saí e dei-lhe tempo para recuperar as forças.

Draco soltou um suspiro amargo.

— Brigar um pouco mais? Se você tivesse falhado, ele teria matado você sem hesitação. Ou ele teria trancado você em uma masmorra para torturá-lo de acordo com seu humor. Droga, Potter! Você teve que se afastar para se preparar para enfrentá-lo! Você tinha acabado de receber um Avada e milagrosamente conseguiu sobreviver. Não sei como você fez isso, mas foi a única coisa certa a se fazer. E embora e prepare-se.

Harry hesitou, as palavras de Malfoy aliviando um pouco sua culpa, mas ele finalmente rosnou.

— Me preparando... eu simplesmente tinha que morrer, Malfoy. Esse Avada... ele teve que me matar e eu fiquei na frente dele sem nem tentar evitar o que iria acontecer.

Houve um silêncio desconfortável enquanto Harry mantinha os olhos teimosamente baixos. Malfoy finalmente respirou fundo e sussurrou, claramente em estado de choque.

— Um segundo… O que você quer dizer com você teve que morrer? Quer dizer que você teve que confrontá-lo, certo?

Harry se odiou por ser fraco enquanto seus olhos ardiam e se enchiam de lágrimas. Ele piscou para afastá-los, cerrando os dentes para engolir a tristeza e o ainda intenso sentimento de traição. Ele poderia simplesmente evitar a pergunta de Malfoy e deixá-lo ir, já que agora ele tinha a informação que lhe faltava sobre a aparência monstruosa de Voldemort. Ou ele poderia escolher confiar nele completamente e confessar a ele o que o estava corroendo desde aquele dia, desde a Batalha de Hogwarts, quando ele obteve as memórias do Professor Snape as últimas peças que faltavam no quebra-cabeça de sua vida.

O bom senso gritou para ele ter cuidado com Malfoy. No entanto, seus instintos o empurraram para ele e Harry sempre esteve acostumado a confiar em seus instintos...

Ele manteve os olhos baixos, não querendo ler a pena ou horror nos olhos de Malfoy e lambeu os lábios antes de abrir a boca e falar.

— Você provavelmente sabe que eu sempre me encontrava no centro de toda essa história, é porque houve uma profecia estúpida que me tornou a única pessoa capaz de... matá-lo. Para pôr fim ao seu reinado com mais precisão. Até o último momento, acreditei nisso... acreditei na mesma coisa. Que eu deveria lutar e enfrentar isso. Você estava certo sobre uma coisa, Malfoy, eu não era bom o suficiente, forte o suficiente ou preparado o suficiente. Não havia nada de extraordinário em mim. Apenas um presente por me ver jogado em situações impossíveis e escapar por pouco, milagrosamente ileso...

Harry fez uma pausa e engoliu em seco, reunindo memórias do dia em que morreu, por vários minutos. Como se suspeitasse da importância do que iria ouvir, Malfoy ficou em silêncio e até se aproximou um pouco mais de Harry, sem tocá-lo.

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