Capítulo 77

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Harry reprimiu com firmeza a sensação desconfortável que o incomodava e ignorou seus instintos que gritavam para ele que algo estava errado. A súbita onda de confiança de Voldemort não passava de um blefe, uma tentativa desesperada de desviar sua atenção para obter vantagem.

Exceto que Harry aprendeu com seus erros e desta vez ele não deixaria isso acontecer.

Voldemort poderia falar o quanto quisesse, sobre sua mãe, seu pai ou até mesmo sobre seu padrinho, poderia prometer deixá-lo viver ou poupar seus amigos, Harry não desviaria sua atenção.

O bruxo das trevas não sabia disso, mas Harry ainda tinha um bem escondido em seu bolso... a varinha das varinhas. O jovem estava convencido de que Voldemort ficaria furioso no momento em que a visse em suas mãos e contava com essa reação para pressioná-lo a atacá-lo.

Harry ansiava por recorrer a Draco e ter certeza de que ele estava bem, especialmente depois das ameaças de Voldemort. A única coisa que o impedia era que ele não queria chamar a atenção para o seu aliado e torná-lo um alvo e acabar machucado.

Quando Voldemort olhou para além de Harry mais uma vez, em direção a Draco, o jovem rosnou, determinado a pôr fim àquela situação estúpida.

— Por favor, Tom! Você gosta muito de se ouvir falar, não é? Estou na sua frente, sozinho... você tem medo de me atacar?

Voldemort estreitou os olhos e Harry ficou pronto, determinado. No entanto, antes que o mago das trevas pudesse atacar, a voz de Drago soou alta e clara.

— Expelliarmus!

Seguiu-se um choque surdo e um gemido de dor.

O coração de Harry deu um pulo e as piores suposições inundaram sua mente. Sem sequer pensar em suas ações, ele por sua vez lançou um poderoso expelliarmus em Voldemort e este bateu fortemente na parede, então escorregou no chão, inconsciente.

Harry não se incomodou em se aproximar dele, virando-se imediatamente para Draco, esperando encontrá-lo bem atrás dele, com a varinha na mão e Ileso.

Exceto que Draco não estava onde deveria estar. Harry piscou, tentando entender, ao ver sangue — muito sangue.

Se havia uma coisa que ele tinha certeza, era que expelliarmus não causava sangramento e foi o único feitiço que Draco lançou...

Harry caminhou em direção ao fundo da sala, lentamente, com os olhos arregalados. Draco estava deitado no chão, flácido, uma mão pressionada no pescoço e respirando com dificuldade.

Uma mão ensanguentada pressionou seu pescoço.

Ele ignorou a presença de Lucius antes de notar a adaga ao seu lado, também coberta de sangue e engasgou, antes de cair de joelhos ao lado de Draco.

As mãos de Harry pairaram sobre o corpo de Draco, sem ousar tocá-lo, com medo de machucá-lo. Seus olhos se encontraram e Harry balançou a cabeça, horrorizado.

Draco respirou fundo, sem desviar o olhar.

— Eles estão mortos ?

Por um breve momento, Harry se perguntou de quem o jovem estava falando. Então seu olhar pousou em Lucius e ele fez uma careta. Ele balançou a cabeça nervosamente.

— Ambos nocauteados, eu acho. O que aconteceu, Draco... você está ferido...

Draco fechou os olhos por um breve momento, então murmurou amargamente.

— Meu pai parece ter adquirido certa resistência aos castigos de seu mestre, já que me atacou de surpresa. Pensei... impedir que me usassem como moeda de troca, mas... quando batemos na parede, a faca dele... feriu-me.

Harry engoliu novamente, afastando o pânico para poder cuidar de Draco.

— Deixe-me ver. Eu vou te ajudar, ok? Você vai ficar bem, eu só preciso...

Draco o parou, agarrando a mão de Harry, a outra mão ainda pressionada firmemente em sua garganta.

— Harry. Temos que terminar aqui.

Harry piscou, frenético, e olhou em volta, um pouco perdido. Ele balançou a cabeça, recusando-se a deixar Draco ir.

— Eles estão nocauteados. Temos tempo, deixe-me ajudá-lo...

Draco olhou para ele com força de vontade e sua resposta foi clara.

— Não dá tempo, não. Me ajude, eu farei isso. Terminarei isso para você.

Harry franziu a testa, tentando entender o que Draco queria. Seu olhar percorreu a sala e parou em Voldemort, ainda no chão, imóvel. Imóvel, mas ainda vivo.

As peças do quebra-cabeça começaram a se juntar e Harry engasgou em estado de choque.

— Você quer matá-los? Draco... Você não pode...

Ao contrário dele, Draco parecia terrivelmente calmo. Ele segurou o ferimento no pescoço, e a poça de sangue que crescia lentamente abaixo dele não pareceu perturbá-lo. Ele estava olhando para Harry, oferecendo-se para acabar com a guerra como se...

Harry deu um passo repentino para trás quando finalmente entendeu. Ele balançou a cabeça lentamente e sua mão pousou na de Draco.

— Não. Eu ajudei Snape, posso ajudar você. Magia... você se lembra, eu tenho a varinha de Dumbledore comigo.

Draco chamou calmamente.

— Harry. Acabou.

Provavelmente foi seu tom calmo, com um toque de resignação, que silenciou Harry imediatamente. Ele olhou para o jovem, com os olhos cheios de lágrimas, com uma expressão horrorizada.

Draco sorriu tristemente para ele.

— É tarde demais. Essa adaga... está revestida de veneno. Faça o que fizer, eu vou morrer. Mas eu posso ajudá-lo. Posso fazer isso por você depois de tudo que você fez por mim.

Harry balançou a cabeça, pronto para protestar, mas Draco continuou, sem tirar os olhos dele.

— Tudo vai ficar bem, eu prometo. Eu só quero que você seja livre, Harry.

Harry se inclinou sobre Draco, deixando as lágrimas escorrerem por seu rosto, e o beijou suavemente.

— Eu preciso de você comigo.

Draco lançou-lhe um olhar exasperado, o tipo de olhar que teria feito Harry rir se não estivesse cheio de dor, e ele rosnou.

— Teimoso. Você sabe muito bem que estarei sempre ao seu lado, não é?

Uma vaga ideia passou pela mente de Harry com essas palavras, rápido demais para ser compreendida. Ele balançou a cabeça e franziu a testa teimosamente.

— Deve haver um jeito! Alguma coisa, qualquer coisa. Uma poção? Algo para venenos? Não seja estúpido, Draco, você não gosta de bancar o mártir…

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