Capítulo 79

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Harry se sentiu estúpido.

Foi precisamente por isso que ele não era um herói como muitos pensavam. Ele era incapaz de se defender sozinho...

Em Hogwarts, ele tinha Ron e Hermione. Foram eles, seus primeiros amigos, que o guiaram sempre que ele se encontrava em perigo. Ele... ele estava contente em seguir em frente e lidar com a situação da melhor maneira que pudesse.

Sem seus amigos, Voldemort o teria matado no primeiro ano, com a proteção de Dumbledore ou não... Harry demorou muito para perceber isso e se arrependeu de muitas coisas.

Como ele era próximo de Draco, ele estava mais perto do que nunca de acabar com a guerra. Ele havia parado de se esconder e Draco... ele o estava pressionando para dar o melhor de si.

Harry saiu do esconderijo para protegê-lo e era por ele que queria agir.

Porém, ele havia esquecido um detalhe: ele era apenas uma arma, como Dumbledore pretendia.

Por causa dele, Draco estava morrendo.

Claro, ele estava plenamente consciente de que não foi ele quem machucou Draco. Ele sabia que Lucius era o culpado por esfaquear seu próprio filho, ele também sabia que Draco não o culparia nem por um momento por ter sido ferido.

No entanto, sempre havia uma solução. Foi mais um ato de fé, uma tentativa desesperada, mas Harry havia se esquecido completamente disso, até que Draco mencionou isso sem querer...

Harry parou seus pensamentos, recusando-se a pensar que Draco poderia realmente morrer. Ele já estava terrivelmente pálido, quase sem sangue, e havia muito sangue ao seu redor.

Harry olhou para a varinha das varinhas, com a testa franzida em concentração, imaginando que feitiço deveria lançar. Com um suspiro, ele enfiou a mão no bolso e tirou a capa da invisibilidade e a pedra da ressurreição. Ele as colocou no colo de Draco, mantendo uma mão em ambas as relíquias.

Assim, ele tocou as três relíquias da morte.

Decidindo que isso deveria ser suficiente, ele olhou para o ferimento de Draco com uma leve careta e deu um episkey incerto.

Draco pulou imediatamente, um sinal de que o feitiço estava funcionando, mas a ferida não parecia estar fechando, não tão rápido quanto Harry esperava.

Ele procurou desesperadamente em sua memória, procurando por um feitiço de cura, qualquer feitiço de cura, quando percebeu que Draco estava imóvel.

Fixo.

Ele engasgou, tremendo, se recusando a acreditar que Draco tivesse morrido diante de seus olhos, quando ouviu risadas atrás dele.

Ele pulou e se virou antes de piscar, perplexo.

Voldemort ainda estava inconsciente, assim como Lucius. A sala estava deserta, mas ele sabia que não estavam sozinhos.

Olhando novamente na direção de Draco — ainda desesperadamente imóvel, olhando fixamente para o espaço — Harry percebeu que uma gota de sangue do jovem parecia estar pendurada no vazio, sem qualquer lógica.

Franzindo a testa, ele apontou o dedo para frente, mas a pequena gota de sangue congelou.

— É impossível…

A risada aconteceu novamente, mas desta vez Harry não estava mais sozinho. Um velho observou-o com curiosidade, vestido com uma capa que se parecia terrivelmente com a sua capa de invisibilidade.

O homem era magro — até ossudo — e de estatura média. Sua cabeça pálida era encimada por uma coroa de ossos e ele se apoiava em uma bengala esculpida cujo formato lembrava uma varinha de sabugueiro.

Ele não parecia hostil, mas Harry podia sentir que o homem era perigoso apesar de sua aparência frágil. Ele exalava poder e se comportava com uma calma que provava que não se sentia em perigo.

Harry ficou tenso, mudando de posição na frente de Draco, lançando-lhe outro olhar preocupado, mas ele ainda estava irremediavelmente congelado. Então ele falou com o velho, desconfiado.

— Quem é você ?

O homem encolheu os ombros e deu um passo em sua direção, revelando um rosto completamente comum. Ele não tinha o menor sinal distintivo que permitisse descrevê-lo com precisão.

Ele respondeu a Harry com um pequeno sorriso zombeteiro, apoiando-se incisivamente em sua bengala.

— Você não tem ideia, meu jovem?

Harry engoliu em seco e seus olhos se moveram da varinha de sabugueiro em sua mão para a bengala entalhada, uma verdadeira réplica da varinha. Então ele sussurrou.

— Você é a morte?

O velho riu e depois assentiu.

— Sempre parece tão dramático, mas sim, definitivamente sou eu. Você é o primeiro em muito tempo a possuir esses três objetos que me pertencem...

Harry franziu a testa.

— Você veio buscá-los?

O velho não respondeu de imediato, encarando Harry como se tentasse ler seus pensamentos. Preocupado com Draco, o jovem não pôde deixar de olhar novamente para ele.

A morte riu.

— Seu companheiro está… congelado no tempo, meu jovem. Não há risco no momento e o tempo retomará seu curso quando eu partir.

Harry relaxou um pouco e assentiu, murmurando um hesitante 'obrigado'. A morte sorri.

— Ofereci gratuitamente essas relíquias, como você as chama, mesmo sendo enganado. Porém, gosto de… conhecer quem os tem. Quero ter certeza de que meus bens não correm o risco de espalhar o caos. Não muito, de qualquer maneira. Afinal, todos nós precisamos de distração…

Harry piscou e então assentiu lentamente.

— Mas e se eu devolvê-los para você?

A morte inclinou a cabeça, ainda sorrindo.

— Devolve-os para mim? Por que ?

Harry hesitou e depois esfregou o rosto.

— Eu não preciso disso. Eu posso… entregá-los a você. Eu só quero que você me ajude a salvar Draco. Só isso.

A morte suspirou.

— Você não é o primeiro a negociar comigo, mas é definitivamente o primeiro a se oferecer para me devolver o que antes me pertenceu e a pedir um serviço que não é para você. Infelizmente, não funciona assim, meu jovem.

Harry soltou um soluço.

— Você não pode salvá-lo? Não há nada a se fazer ?

A morte encolheu os ombros.

— Conhecer-me nem sempre é uma má notícia, você sabe. Às vezes, alguns esperam impacientemente por mim e sentem a morte com… alívio.

Com a voz embargada, Harry sussurrou, sem esconder o quanto ele se importava com Draco.

— Eu preciso dele…

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