Capítulo 23

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Harry olhou para Malfoy por um momento, inquieto com a pergunta. Perplexo, ele balançou a cabeça antes de responder hesitante.

— Dumbledore sempre sugeriu que eu era o único que poderia enfrentá-lo, então acho que ninguém ousaria enfrentá-lo. Não posso... deixar as coisas piorarem assim.

Malfoy bufou de aborrecimento, mas pela primeira vez seu ressentimento não foi direcionado a Harry.

— Por favor, Potter. Com o que você acabou de me contar, a única coisa que ele queria de você era o seu sacrifício. Ele provavelmente tinha seus peões prontos para terminar o trabalho.

Harry cruzou os braços sobre o peito, ligeiramente emburrado.

— Bem, ninguém tentou nada. Eles anunciaram minha morte e ele tomou conta do mundo mágico.

Malfoy ergueu uma sobrancelha zombeteira. 

— E daí ? Você está vivo e livre. Seus amigos estão vivos e aparentemente seguros, já que ninguém mencionou a presença deles. Você fez o que todos esperavam de você. Por que você iria querer ajudar bruxos que o arrastaram pela lama e o ignoraram durante toda a vida?

Harry gemeu e respondeu com um toque de acidez, sem entender por que Malfoy era tão insistente.

— Se você quer se livrar de mim, não vou impedi-lo, Malfoy. Farei o que for preciso, com ou sem você.

Malfoy hesitou, antes de suspirar, passando a mão pelo rosto.

— Não era... para fugir de você. Não entendo por que você quer se colocar em perigo quando tem a oportunidade de ter a vida que sonhou. Só queria ressaltar que ninguém pode culpar você por querer ir embora, não depois de se sacrificar sem pedir nada em troca.

Harry franziu a testa ao olhar para Malfoy, mas este parecia genuinamente perplexo e não havia o menor traço de zombaria em sua atitude. Ele também parecia exausto.

Ambos tiveram grande dificuldade em se entender desde o início, mas talvez esta fosse a oportunidade de enterrar o passado para sempre, sendo honestos sem evitar as perguntas um do outro. Ele encolheu os ombros com um sorriso.

— Não estou fazendo isso pelos outros ou por qualquer recompensa, Malfoy. Eu faço isso porque é o que é certo. Acredito que tenho a capacidade de fazer alguma coisa, talvez porque não tenha medo dele como a maioria dos bruxos, e se eu for embora me recusando a agir, terei uma responsabilidade compartilhada por cada ferimento que ele infligir.

Malfoy balançou a cabeça, franzindo a testa.

— Mas…

Harry o interrompeu apontando para a cicatriz em sua bochecha.

— Agora que sei como ele trata você, realmente espera que eu deixe você com esse esquisito? Podemos não ser amigos, Malfoy, mas eu não desejaria esse tipo de vida para você.

Malfoy sorriu hesitante, provavelmente porque ainda duvidava da sinceridade das intenções de Harry, e disse ironicamente, com um toque de amargura.

— Exatamente, depois do nosso passado, você deveria ir embora e me deixar pagar pelos meus erros...

Harry revirou os olhos.

— Não seja estúpido, Malfoy. Você e eu vamos trabalhar juntos para acabar com aquele mago negro lixo.

Draco Malfoy não protestou, apenas olhou pensativo para o jovem à sua frente.

Como Harry confessou dois de seus segredos a Draco Malfoy, ele decidiu encontrá-lo regularmente. Afinal, o jovem sabia que o moreno estava vivo — ele até sabia seu endereço — e como conhecia seu animago, Harry poderia se dar ao luxo de chegar em sua casa em sua forma de corvo.

Nos primeiros dias depois de tratar Malfoy em sua casa, Harry dormiu mal, quase esperando ver um exército de Comensais da Morte aparecer e arrastá-lo até os pés de Voldemort. Ele não queria acreditar, mas aprendeu a ser cauteloso depois de ser traído tantas vezes.

No entanto, como ainda era considerado morto, ele parou de se preocupar, aliviado por poder realmente confiar em Draco Malfoy.

A primeira vez que esteve na casa de Malfoy, ele realmente não havia pensado em sua iniciativa. Ele só sabia que eles não tinham pensado em estabelecer uma maneira de entrar em contato um com o outro rapidamente e precisava ter certeza de que seu rival de longa data estava bem. Ele achou difícil esquecer o estado em que o encontrou, depois que Voldemort o torturou para puni-lo por não ter restaurado sua face humana.

Ele também havia feito pesquisas para Malfoy, embora poções estivessem longe de ser sua paixão. No entanto, crescer perto de Hermione deixou sua marca e ele era perfeitamente capaz de folhear grimórios empoeirados para encontrar informações...

Assim, o corvo que pousou no parapeito de uma das janelas do apartamento de Draco Malfoy poderia ter chamado a atenção: não apenas carregava uma carta no bico, mas também olhava pelas janelas com curiosidade.

No entanto, ele estava em um bairro quase exclusivamente mágico e não era incomum ver um pássaro carregando correspondência.

Harry rapidamente avistou Malfoy, sentado à sua mesa, o nariz enterrado em um livro grosso e uma caneca fumegante ao lado dele. Observou-o por alguns momentos, certificando-se de que estava sozinho, mas a paciência nunca foi uma das principais qualidades do jovem. Então ele começou a ficar agitado, pretendendo bater o bico na janela, mas foi atrapalhado pela carta que carregava.

Seus movimentos eventualmente chamaram a atenção de Malfoy e este levantou a cabeça, franzindo a testa. Ao ver o corvo, porém, arregalou ligeiramente os olhos, atordoado, depois levantou-se rapidamente e correu até a janela, que abriu abruptamente.

Ele acenou com raiva para o pássaro, convidando-o a entrar, e inclinou-se para se certificar de que ninguém estava interessado no que estava acontecendo em sua casa.

Malfoy relaxou um pouco ao ver a rua vazia e fechou a janela, então se virou para o corvo em sua mesa e rosnou de aborrecimento.

— Caramba! O que você estava pensando? Você realmente quer ser morto? Você pode imaginar se eu não estivesse sozinho?

Harry abriu as asas e as sacudiu, antes de pular para se aproximar de Malfoy e entregar-lhe sua carta. Este último estreitou os olhos ao observá-la, como se de repente duvidasse da identidade do mensageiro, então pegou a carta abruptamente, murmurando aborrecido. Ele não abriu imediatamente, mas lançou um Muffliato antes de apontar para Harry.

— O que você está fazendo aqui, Potter? Espero que você tenha um bom motivo, porque você merece acabar espetado por sua imprudência!

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