Capítulo 24

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Draco não conseguia acreditar que Potter estava na sua frente, na sua casa, em sua forma animaga. Ele queria agarrar o maldito pássaro para sacudi-lo e tentar colocar algum juízo em sua cabeça.

Em vez disso, ele pegou a carta rudemente e o corvo fez um coaxar indignado e balançou as asas. Draco revirou os olhos, escondendo sua diversão, preocupado demais que Potter fosse pego em casa para apreciar a presença do jovem em seu apartamento. Ele fungou e rosnou.

— Não acredito que você não aprendeu a ter cuidado depois de todos esses anos? E se eu não estivesse sozinho? E se alguém decidisse vir me ver? Estou sob vigilância, Potter!

O corvo arrepiou as penas e pulou para longe da janela; Draco ergueu uma sobrancelha perplexo, até que Potter apareceu, espreguiçando-se com um sorriso bobo.

Draco fungou e fez sinal para que ele o seguisse, sem dizer mais nada. De repente, ele abriu a porta do seu laboratório, que era a única sala sem janelas. Ele sempre foi um pouco paranóico com suas poções ou ingredientes que ele administrava para se sentir seguro ao preparar alguma coisa.

Sem surpresa, Potter o seguiu obedientemente, mas olhando ao redor com cuidado, descobrindo o lugar para onde Draco se mudou quando se afastou de seus pais.

Draco fechou a porta de seu laboratório um pouco mais abruptamente do que pretendia e encarou Potter, com os braços cruzados sobre o peito. Antes que ele pudesse falar, o grifo demoníaco se aproximou e levantou a mão para traçar uma segunda cicatriz no rosto de Draco.

Draco estremeceu, suprimindo a vontade de recuar, e encolheu os ombros como se as marcas em sua pele não importassem.

— A segunda versão da poção permitiu-lhe recuperar o cabelo. No entanto, ele realmente não gostou de se encontrar com uma calvície incipiente...

Potter riu nervosamente antes de recuperar a seriedade.

— Você deveria ter vindo até mim para que eu pudesse ajudá-lo a se curar, Malfoy.

Draco inclinou ligeiramente a cabeça, surpreso com a preocupação que detectou em Potter. Eles aprenderam a se comunicar sem gritar um com o outro e aos poucos descobriram que apreciavam a presença um do outro, porém eram cautelosos e não esqueciam o perigo que corriam.

Draco supôs que grande parte do apelo de seus encontros vinha do fato de serem proibidos e particularmente perigosos: se Voldemort descobrisse, ambos seriam mortos. Ainda assim, ele estava aprendendo a valorizar seu antigo inimigo e a apreciar sua preocupação por ele.

Ele mostrou um sorriso zombeteiro.

— Eu sou um garoto crescido, Potter. Eu fiz a coisa certa e é melhor deixar rastros de suas... punições para evitar pressioná-lo a fazer isso de novo. Acho que você também pode me chamar de aquele com cicatrizes, afinal.

Potter suspirou, não parecendo tão despreocupado quanto Draco sobre as sessões de tortura que estava sofrendo. Ele não protestou como se suspeitasse que Draco não queria falar sobre isso, e em vez disso perguntou bruscamente.

— O que aconteceu com sua poção?

Draco torceu o nariz e reprimiu um gesto de raiva.

— Eu não tenho certeza! Mesmo considerando o que ele fez com as horcruxes, há algo errado... não consigo entender.

Potter mergulhou em pensamentos, então murmurou, um pouco indeciso.

— Você está tentando... restaurá-lo à aparência original, mas não é o corpo dele. Não exatamente.

Draco rosnou.

— Eu sei, Potter. Mas como não sei qual ritual foi usado, tenho que fingir que não importa.

Potter sorriu maliciosamente e bufou.

— Eu estava presente. Obviamente, já que seu maldito rato de estimação usou meu sangue para trazê-lo de volta.

Draco congelou e então sussurrou, assustado.

— O que ?

Harry Potter fez uma careta e acenou com a cabeça, antes de franzir a testa, visivelmente perdido em pensamentos. Ele começou a falar, lentamente.

— Ele pegou primeiro os ossos do pai, retirados de uma cova naquele antigo cemitério onde ele havia me aprisionado. Então Rabicho cortou sua mão e ofereceu sua carne. Finalmente, ele pegou um frasco de sangue de mim e adicionou o sangue de seu inimigo. Acredito que ele queria se apropriar da proteção que minha mãe me ofereceu e que segundo Dumbledore corria em meu sangue.

Draco esfregou o rosto com um suspiro.

— Não é novidade que é magia negra, já que há bastante sangue e carne. A propósito, não tenho certeza... se ele ainda é humano. Ele profanou tanto seu corpo e alma que juntar tudo é uma tarefa gigantesca.

Potter zombou e inclinou-se para Draco com olhos travessos.

— E ele também não é mais um bruxo... O pai dele era trouxa. Eu sou mestiço e Pettigrew... Sirius me disse que ele também era mestiço. Sua mãe pode ter sido bruxa, mas seu pai era trouxa. Seu pai simplesmente deixou sua mãe quando descobriu que ela era uma bruxa...

Draco se conteve para não soltar uma exclamação desdenhosa, mas fez uma careta ao pensar na hipocrisia do mago das trevas. Ele já tinha ouvido Voldemort desprezar a genealogia de certos Comensais da Morte, porque havia ramos trouxas em suas famílias... Ele não conseguia acreditar que ninguém jamais tivesse descoberto suas origens, especialmente seu pai, que fez uma extensa pesquisa sobre a vida de seus colegas de trabalho antes de concordar em lidar com eles. No entanto, Lucius estendeu cegamente o braço assim que lhe foi oferecido para semear o caos no mundo mágico, tudo com a óbvia intenção de tomar o poder.

O jovem suspirou desanimado.

— Estou sem opções desta vez.

Potter zombou e cruzou os braços sobre o peito, com uma expressão levemente presunçosa.

— Ei! Você não leu a mensagem que lhe trouxe, o motivo da minha visita… oh Sonserino de pouca fé!

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