Capítulo 53

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Harry lutou para manter o foco, pois a raiva quase o cegou. Ele nunca gostou do pai de Malfoy, mas não tinha medo dele, não da maneira que a maior parte do mundo mágico parecia temê-lo.

A primeira vez que o desafiou, ele era uma criança de doze anos, e ainda assim... ele o humilhou ao privá-lo de seu elfo.

Em Hogwarts, ele acreditava que o homem era pelo menos um bom pai. Ou pelo menos um pai carinhoso, já que o Sonserino falava dele constantemente.

No entanto, a realidade parecia muito diferente do que ele acreditava. Malfoy parecia ter superado o fascínio que seu pai exercia sobre ele e abriu os olhos para o que Lucius realmente era.

Saber que Lucius havia escapado da punição de Voldemort oferecendo literalmente seu filho como seu substituto deixou Harry enjoado e ele não tinha certeza se conseguiria evitar atacar o homem se ficasse cara a cara com ele.

Harry segurou Draco perto e Malfoy permaneceu estranhamente calmo e silencioso, embora as coisas tivessem acabado de mudar entre eles. Ou melhor, Harry mudou as coisas ao beijá-lo espontaneamente, mas ele não conseguia se arrepender. Eles teriam que conversar, isso era uma certeza, mas Harry daria ao jovem o tempo necessário em seus braços para melhorar. Desta vez ele não lhe daria as costas e não se afastaria dele.

Malfoy não pareceu concordar enquanto sussurrava, sua voz um pouco rouca — o pensamento de que ele havia gritado a ponto de machucar a garganta deixou Harry ainda mais irritado.

— O que é que foi isso ?

Harry ergueu uma sobrancelha, hesitante em bancar o ignorante, antes de suspirar, decidindo que Malfoy merecia sua honestidade. Ele sussurrou, com a garganta apertada.

— Eu poderia ter perdido você.

Seus olhares se encontraram e Harry pôde ver um mar de perguntas nos olhos cinzentos. Ele mordeu o lábio, tentando organizar os pensamentos antes de começar a falar, sem largar o jovem em seus braços.

— Nos conhecemos desde que entramos em Hogwarts, não é?

Malfoy rosnou levemente, mas sua resposta foi mais divertida do que qualquer outra coisa.

— Se com isso você quer dizer que estivemos discutindo esse tempo todo, a resposta é sim.

Longe de se ofender com suas palavras, Harry zombou.

— Obviamente. Você não gostou que eu tenha escolhido Ron em vez de você e... eu estava determinado a mostrar que você não era tão excepcional quanto pensava...

Malfoy ergueu a cabeça para encará-lo, mas Harry o conhecia bem o suficiente para saber que ele não estava realmente bravo. Longe de lá. Ele estava disposto a apostar que estava se divertindo, se a curvatura de seus lábios fosse alguma indicação enquanto ele lutava para não sorrir.

Harry torceu o nariz e continuou, um pouco mais sério.

— Não sei se teríamos continuado brigando assim até o final de Hogwarts se ele não tivesse voltado. Quer dizer... tudo ficou confuso e você teve que seguir sua família.

Malfoy interrompeu, com um suspiro.

— Não pense que sou melhor do que sou, Potter. Se tudo não tivesse saído dos trilhos, talvez eu não tivesse entendido o quão tóxicas eram as ideias do meu pai.

Harry riu, divertido.

— Sou teimoso, você sabe. Prefiro imaginar que teria conseguido fazer você abrir os olhos. Na verdade, recuso-me a imaginar que haja alguma coisa boa advinda do seu regresso e do seu reinado de terror.

Ambos ficaram em silêncio por alguns momentos, perdidos em pensamentos, então Malfoy se afastou dele com um suspiro.

— Não vamos começar a especular sobre o que poderia ter acontecido se o mundo mágico não tivesse caído naquela guerra estúpida. Vamos nos ater à realidade, se você não se importa.

Harry sorriu tristemente e acenou com a cabeça, então lambeu os lábios antes de encolher os ombros.

— Quando você voltou para Hogwarts com essa marca no braço, logicamente você tinha outras coisas em que pensar além das nossas briguinhas. Porque no fundo era apenas uma ninharia em comparação com o resto… Mas eu precisava que as coisas não mudassem. Minha vida foi... um desastre e sua presença, seu hábito de me intimidar era algo familiar.

Malfoy rosnou.

— Não ouse me dizer que você precisava da minha maldade para se sentir bem…

Harry bufou, sorrindo.

— Sua presença era bastante familiar. É muito difícil de explicar, em última análise. Quando você começou a fugir de mim, isso me deixou louco.

Malfoy murmurou com naturalidade, embora seu olhar não conseguisse focar em Harry, mostrando sua agitação interior.

— Você está ciente de que isso não faz o menor sentido?

Harry encolheu os ombros e continuou, ignorando a intervenção de Malfoy.

— Hermione estava constantemente furiosa comigo naquele ano. Ela tentou me afastar de você e eu persisti em te seguir, te observar. Quanto mais você tentava ser discreto, mais eu queria saber o que você estava escondendo...

Ele fez uma pausa. Harry não conseguia explicar claramente como Malfoy havia se tornado uma constante em sua vida, bem como uma aparência de normalidade no caos de sua existência.

Malfoy nunca olhou para ele com medo ou esperança, nunca esperou que ele fizesse milagres. Mesmo agora, ele estava ao seu lado, pronto para apoiá-lo quando a maior parte do mundo mágico estava determinada a empurrá-lo para a linha de frente e deixá-lo lutar por eles.

Harry respirou fundo e retomou sua explicação, tentando fazer com que o jovem em seus braços entendesse o quanto ele significava para ele.

Ele fez uma careta ao recordar uma de suas piores lembranças, a culpa nublando seu olhar.

— Quando eu te machuquei, no dia que quase te matei, eu... tive tanto medo... deixei de ser tão... pressionando você, mas não conseguia parar de te procurar olhando constantemente. Quero dizer... eu percebi que você poderia se machucar ou pior nesta guerra e isso era mais assustador do que qualquer outra coisa. Tornou tudo tão real…

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