Vendo o medo nos olhos de Harry, Draco imediatamente se odiou.
Por ter a marca no braço, ele tinha uma clara tendência à autodestruição, tentando eliminar tudo de bom em sua vida.
Em Hogwarts, ele afastou todos os seus amigos e se isolou. Ele deixou Pansy tão furiosa que ela estava determinada a nunca mais falar com ele, e da última vez que ele passou por ela, ela simplesmente ignorou a presença dele.
Ele havia se isolado. Ficar longe do pai foi um alívio, é claro, mas ele também foi privado da presença reconfortante da mãe.
Ele cresceu sendo mimado e conseguindo tudo o que queria antes mesmo de querer, sem ter que fazer nenhum esforço para conseguir.
Ele teve que aprender a viver sozinho, a se alimentar e a se defender sozinho. Este foi apenas o começo de sua penitência autoimposta e ele rapidamente descobriu como a solidão poderia ser dolorosa de suportar.
Foi por essa razão que ele se arriscou ao ir a esse bar trouxa, só para ter a ilusão de estar cercado. Foi apenas uma ilusão, já que ele teve o cuidado de não criar nenhuma ligação.
Harry foi uma exceção mais uma vez. Ele não lhe deu escolha e enquanto lhe oferecia mais do que merecia, Draco o afastava.
Não diretamente, já que ele não teve coragem suficiente para isso. Ele estava agindo como um idiota mais uma vez, atacando Harry sabendo que acertaria o alvo.
Ele ia se afastar de Harry, sentindo que não merecia seu carinho, mas Harry o impediu de se mover e ele mostrou um sorriso triste.
— Você acha que eu teria me sacrificado diretamente? Que eu teria resistido corajosamente?
Draco piscou surpreso e encolheu os ombros.
— Não é isso que você tem feito desde o início? Você está atrapalhando o caminho dele e arruinando seus planos?
Harry bufou.
— Correndo o risco de te surpreender, só estou tentando sobreviver e proteger meus amigos. Minha família. Aqueles que eu amo. Eu teria sacrificado o mundo mágico para encontrar meu padrinho. Sem a menor hesitação.
Draco balançou a cabeça, perplexo.
— O que ? Mas… você se sacrificou! Você deixou ele... jogar uma avada em você!
Havia um toque de travessura no olhar verde, mas também muita tristeza.
— Foi só para salvar meus amigos. Eu não... não tive escolha.
Draco franziu a testa teimosamente.
— Claro que você teve escolha. Você poderia simplesmente ter virado as costas e fugido de toda essa merda! Você nem precisava voltar para Hogwarts.
Algo brilhou no olhar de Harry, brevemente, tão brevemente que ele não conseguiu determinar o que era. Então, Harry se levantou, seus olhos ardendo de raiva e Draco sentiu seu coração disparar ao vê-lo daquele jeito.
— Eu tinha um pedaço dele na minha cabeça. Um pedaço do assassino dos meus pais! Eu tinha que me livrar disso!
Draco parou de lutar e se encolheu.
— Eu deveria... trabalhar na maldita poção dele.
Ele sentiu o olhar de Harry queimando-o, mas não ergueu os olhos, imaginando que já havia causado dano suficiente.
Ele provavelmente deveria saber que o jovem não desistiria tão facilmente. De repente, Harry sussurrou, afetuosamente.
— Bobagem.
Draco pulou e olhou para cima, incrédulo. Harry não parecia bravo. Ele apenas parecia... triste. Ele acrescentou, sem desviar o olhar de Draco.
— Eu não vou embora, eu já disse. Eu conheço você, você sabe disso. Tão bem quanto você me conhece, suponho. Provavelmente já vimos o pior um do outro, então não tente me afastar.
Draco hesitou antes de revirar os olhos.
— Não fique tão orgulhoso de si mesmo!
Harry riu.
— Só se você parar de ser idiota. Eu sei que você geralmente é orgulhoso demais para aceitar ajuda, mas digamos que esta é uma circunstância excepcional...
Normalmente, Harry estaria certo. Draco estava bem ciente de que seu orgulho muitas vezes lhe causava problemas, mas desta vez não foi a causa do desentendimento entre eles.
Desta vez não foi uma questão de orgulho.
Ele só queria manter Harry seguro, tanto quanto possível.
A ideia dele se revelar apenas para poupá-lo de um pouco de dor o deixava enjoado.
Draco preferiu ficar em silêncio e se afastou um pouco mais de Harry. Tentando se levantar, mas não conseguiu esconder uma careta de dor.
Harry estava imediatamente perto dele, recusando-se a lhe dar qualquer espaço.
— Não seja teimoso e fique deitado. Você precisa de algum tempo para se curar completamente. As poções podem ser eficazes, mas demora um pouco para o seu corpo se recuperar.
Draco franziu a testa e suspirou.
— Eu sei disso, obrigado. Estou bem, não sou tão frágil e tenho que preparar a poção dele. Prefiro evitar outra de suas punições, se possível.
Ele viu a mandíbula de Harry apertar, enquanto seus olhos escureceram, cheios de raiva. Draco não lhe deu chance de protestar, sem se privar de lhe lançar um olhar zombeteiro.
— Te lembrando que você tem que ir cuidar de Snape…
Harry estreitou os olhos e por um momento Draco pensou que ele iria perder a paciência e ficar com raiva. Ele quase podia sentir o poder mágico emanando de Harry e engasgou, fascinado e atraído por ele. Ele teve o cuidado de esconder seu interesse o melhor que pôde, mas Harry o conhecia perfeitamente e deu um breve sorriso satisfeito antes de se aproximar com uma lentidão enlouquecedora.
Draco sentiu-se hipnotizado, olhos arregalados, pupilas dilatadas, olhando para ele sem a menor vontade de se mover.
Ele lambeu os lábios nervosamente e Harry pareceu fascinado.
Houve um breve momento de hesitação, durante o qual eles se entreolharam em silêncio, a tensão entre eles aumentando lentamente. Então Draco suspirou enquanto cedeu e puxou Harry para perto, beijando-o de volta com uma paixão que ele não sabia que tinha, esquecendo tudo que não era ele e sentindo pela primeira vez em muito tempo que havia encontrado o seu lugar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Faux semblants
FanfictionA Segunda Guerra Bruxa terminou, mas infelizmente Harry Potter falhou. O jovem foi morto para grande consternação de Draco Malfoy... Este último esperava secretamente que Potter pudesse libertar o mundo mágico da loucura de Voldemort. O mundo mágico...