Capítulo 56

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Vendo o medo nos olhos de Harry, Draco imediatamente se odiou.

Por ter a marca no braço, ele tinha uma clara tendência à autodestruição, tentando eliminar tudo de bom em sua vida.

Em Hogwarts, ele afastou todos os seus amigos e se isolou. Ele deixou Pansy tão furiosa que ela estava determinada a nunca mais falar com ele, e da última vez que ele passou por ela, ela simplesmente ignorou a presença dele.

Ele havia se isolado. Ficar longe do pai foi um alívio, é claro, mas ele também foi privado da presença reconfortante da mãe.

Ele cresceu sendo mimado e conseguindo tudo o que queria antes mesmo de querer, sem ter que fazer nenhum esforço para conseguir.

Ele teve que aprender a viver sozinho, a se alimentar e a se defender sozinho. Este foi apenas o começo de sua penitência autoimposta e ele rapidamente descobriu como a solidão poderia ser dolorosa de suportar.

Foi por essa razão que ele se arriscou ao ir a esse bar trouxa, só para ter a ilusão de estar cercado. Foi apenas uma ilusão, já que ele teve o cuidado de não criar nenhuma ligação.

Harry foi uma exceção mais uma vez. Ele não lhe deu escolha e enquanto lhe oferecia mais do que merecia, Draco o afastava.

Não diretamente, já que ele não teve coragem suficiente para isso. Ele estava agindo como um idiota mais uma vez, atacando Harry sabendo que acertaria o alvo.

Ele ia se afastar de Harry, sentindo que não merecia seu carinho, mas Harry o impediu de se mover e ele mostrou um sorriso triste.

— Você acha que eu teria me sacrificado diretamente? Que eu teria resistido corajosamente?

Draco piscou surpreso e encolheu os ombros.

— Não é isso que você tem feito desde o início? Você está atrapalhando o caminho dele e arruinando seus planos?

Harry bufou.

— Correndo o risco de te surpreender, só estou tentando sobreviver e proteger meus amigos. Minha família. Aqueles que eu amo. Eu teria sacrificado o mundo mágico para encontrar meu padrinho. Sem a menor hesitação.

Draco balançou a cabeça, perplexo.

— O que ? Mas… você se sacrificou! Você deixou ele... jogar uma avada em você!

Havia um toque de travessura no olhar verde, mas também muita tristeza.

— Foi só para salvar meus amigos. Eu não... não tive escolha.

Draco franziu a testa teimosamente.

— Claro que você teve escolha. Você poderia simplesmente ter virado as costas e fugido de toda essa merda! Você nem precisava voltar para Hogwarts.

Algo brilhou no olhar de Harry, brevemente, tão brevemente que ele não conseguiu determinar o que era. Então, Harry se levantou, seus olhos ardendo de raiva e Draco sentiu seu coração disparar ao vê-lo daquele jeito.

— Eu tinha um pedaço dele na minha cabeça. Um pedaço do assassino dos meus pais! Eu tinha que me livrar disso!

Draco parou de lutar e se encolheu.

— Eu deveria... trabalhar na maldita poção dele.

Ele sentiu o olhar de Harry queimando-o, mas não ergueu os olhos, imaginando que já havia causado dano suficiente.

Ele provavelmente deveria saber que o jovem não desistiria tão facilmente. De repente, Harry sussurrou, afetuosamente.

— Bobagem.

Draco pulou e olhou para cima, incrédulo. Harry não parecia bravo. Ele apenas parecia... triste. Ele acrescentou, sem desviar o olhar de Draco.

— Eu não vou embora, eu já disse. Eu conheço você, você sabe disso. Tão bem quanto você me conhece, suponho. Provavelmente já vimos o pior um do outro, então não tente me afastar.

Draco hesitou antes de revirar os olhos.

— Não fique tão orgulhoso de si mesmo!

Harry riu.

— Só se você parar de ser idiota. Eu sei que você geralmente é orgulhoso demais para aceitar ajuda, mas digamos que esta é uma circunstância excepcional...

Normalmente, Harry estaria certo. Draco estava bem ciente de que seu orgulho muitas vezes lhe causava problemas, mas desta vez não foi a causa do desentendimento entre eles.

Desta vez não foi uma questão de orgulho.

Ele só queria manter Harry seguro, tanto quanto possível.

A ideia dele se revelar apenas para poupá-lo de um pouco de dor o deixava enjoado.

Draco preferiu ficar em silêncio e se afastou um pouco mais de Harry. Tentando se levantar, mas não conseguiu esconder uma careta de dor.

Harry estava imediatamente perto dele, recusando-se a lhe dar qualquer espaço.

— Não seja teimoso e fique deitado. Você precisa de algum tempo para se curar completamente. As poções podem ser eficazes, mas demora um pouco para o seu corpo se recuperar.

Draco franziu a testa e suspirou.

— Eu sei disso, obrigado. Estou bem, não sou tão frágil e tenho que preparar a poção dele. Prefiro evitar outra de suas punições, se possível.

Ele viu a mandíbula de Harry apertar, enquanto seus olhos escureceram, cheios de raiva. Draco não lhe deu chance de protestar, sem se privar de lhe lançar um olhar zombeteiro.

— Te lembrando que você tem que ir cuidar de Snape…

Harry estreitou os olhos e por um momento Draco pensou que ele iria perder a paciência e ficar com raiva. Ele quase podia sentir o poder mágico emanando de Harry e engasgou, fascinado e atraído por ele. Ele teve o cuidado de esconder seu interesse o melhor que pôde, mas Harry o conhecia perfeitamente e deu um breve sorriso satisfeito antes de se aproximar com uma lentidão enlouquecedora.

Draco sentiu-se hipnotizado, olhos arregalados, pupilas dilatadas, olhando para ele sem a menor vontade de se mover.

Ele lambeu os lábios nervosamente e Harry pareceu fascinado.

Houve um breve momento de hesitação, durante o qual eles se entreolharam em silêncio, a tensão entre eles aumentando lentamente. Então Draco suspirou enquanto cedeu e puxou Harry para perto, beijando-o de volta com uma paixão que ele não sabia que tinha, esquecendo tudo que não era ele e sentindo pela primeira vez em muito tempo que havia encontrado o seu lugar.

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