Potential

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               Rio de Janeiro, ano de 2016. 31ª edição dos Jogos Olímpicos.

               Simone Biles, atleta de ponta, uma das melhores competidos da delegação americana de ginástica artística, preparava-se para mais uma apresentação. Mesmo sendo a sua estréia em uma olimpíada, até aquele momento, sua apresentação estava sendo impecável. Suas notas eram quase inacreditáveis e nos aparelhos anteriores, bateu recordes. Sua confiança estava no auge, fazendo-a se sentir imbatível. Tudo conspirava ao seu favor. No entanto...

               Uma delegação específica estava chamando sua atenção. Cinco garotas vestindo seus collants azuis e com alguns detalhes brancos pareciam muito determinadas. Todas eram jovens e, dentre elas, havia uma menina, uma adolescente muito carismática que estava estreando naquele momento: Flávia Saraiva. Era inegável o tanto que parecia determinada a ajudar a sua equipe e tinha conseguido nota suficiente para a final na trave olímpica, além de fazer uma apresentação muito artística no solo ao som de um can-can francês.

– A menina é boa, não é? – Sua colega Madison Kocian comentou, quando a nota da menina brasileira saiu.

– Isso é algo impressionante para alguém do tamanho dela. – Biles concordou. – Bem que dizem que as mulheres brasileiras são tão determinadas. Mesmo nem se aproximando de nós, elas não param de tentar.

– Essa é uma característica dos países de terceiro mundo. – Madison brincou.

               Outra atleta brasileira se preparava para sua apresentação. E essa era diferente. Biles já vinha observando-a desde o início, mas até o momento não tinha prestado tanta atenção assim, porém, agora podia observá-la de perto. Ela tinha um olhar muito concentrado, uma expressão fechada à princípio, era uma afro-latina de porte. Seu nome era Rebeca Andrade. Vê-la de perto, posicionando-se à beira do trablado para a sua apresentação e, de um segundo para ou outro adotar um sorriso carismático, estava atiçando a sua curiosidade. Quando ela começou a sua apresentação, foi inevitável não se sentir cativada por aqueles movimentos graciosos. Claro... Ela cometera alguns erros que diminuíria sua nota, mas aqueles movimentos eram simplesmente muito bonitos.

– Olha, Biles... Tenho que confessar: essa aí tem muita força de vontade. – Madison disse, também acompanhando a apresentação de Rebecca. – Será que a apresentação dela vai nos ameaçar?

– Não acho. – Simone foi enfática. – Ela tem movimentos interessantes, mas não tem tanta técnica. Não conseguiu cravar nenhum deles. Nem mesmo salta muito alto. Não é párea para mim.

– É, nisso eu tenho que concordar, mas... Não sei, tem algo nela que está me deixando muito curiosa.

– Como assim? – Simone franziu o rosto, deixando de olhar a apresentação e voltando-se para a colega.

– Estou enxergando potencial. – Madison disse, surpreendendo-a.

– Espera um pouco! Você está enxergando potencial nisso? Está falando sério?

– Estou sim e...

               No momento em que Madison estava elaborando a sua resposta, a nota de Rebeca Andrade foi anunciada. Era uma anota acima de catorze, quase encostando nos quinze e deixou o Brasil no quinto lugar. Aquilo surpreendeu Simone, deixando-a um pouco boquiaberta.

– Uau! Isso não é possível! – Exclamou, ainda desacreditada.

– Eu te disse, Biles! Essa aí tem potencial. – Madison lhe cutucou com a ponta do cotovelo.

               A partir daquele momento, a atenção de Biles se focou em cima daquela ginasta. Rebeca Andrade era ainda mais desafiadora do que imaginava. E ela não parou por ali. Seu grupo tinha sido classificado para a final por equipes em quinto lugar e ela tinha conseguido se classificar para o individual geral em terceiro lugar com uma pontuação impressionante de 58,732. Pela primeira vez, sentiu-se minimamente provocada por ela. Claro, aquela brasileira não se mostrava uma adversária à sua altura, porém, como Madison dissera anteriormente, tinha potencial.

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