Fire

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                  Jogos Olímpicos de Paris, 2024. Final do individual geral.

                  O ginásio estava "on fire", como definiu a repórter Fernanda Gentil, que estava atenta a tudo o que estava acontecendo no seu posto de trabalho. A mídia estava animadíssima, pois o assunto Andrade versus Biles estava no topo e as duas estavam juntas nos aparelhos. Uma seguiria a outra. Aquilo realmente ia ficar interessante.

                  No vestiário, Rebeca terminava sua preparação. Dessa vez, não tinha toda a sua equipe por perto, mas podia contar com todo o apoio de Flavinha e as duas teriam todo o apoio de Jade, Lorrane e Júlia lá da arquibancada.

– Você está muito nervosa, Rebe? – Flávia perguntou, se aproximando.

– Bom... Na verdade, estou pensando naquela receitinha de bolo de cenoura com cobertura de chocolate à la francesa que vi na internet, mas estou um pouquinho nervosa. – Rebeca respondeu, terminando de limpar os óculos. – E você? Não está com dor?

– Estou nervosa sim, mas estou pronta para dar o meu melhor.

– Isso aí. Você vai conseguir uma apresentação impecável. – Rebeca deu um abraço na amiga.

                   Flávia, então, pigarreou, apontando com o queixo para o lado. Rebeca se virou e viu Simone se aproximando.

– Bem... Eu vou passear um pouquinho por ali. – A mais baixinha disse, se afastando.

                   Com um olhar trocado com Biles, Rebeca sabia que deveriam ir para outro lugar, então, apenas assentiu, olhou para os lados e se afastou, indo para um lugar mais reservado.

– Eu só vim te desejar boa sorte no combate. – Simone disse, espalmando seu peito, encostando-a na parede.

                  Rebeca sorriu ladino quando ela apoiou as mãos na parede e se aproximou para beijá-la. Agarrou-lhe a cintura, puxando-a para si firmemente, beijando-a carinhosamente. O beijo durou poucos segundos, pois não queriam arriscar serem vistas ali.

– Hm... Esse beijo é de boa sorte?

– Com certeza. – Simone disse, mordendo o seu queixo. – Que vença a melhor entre nós.

– Não pensa que eu vou te dar moleza. – Rebeca disse, acariciando-a na cintura. – Pode esperar uma Rebeca Andrade implacável.

– Uh! Eu gosto disso. – Simone arfou. – Gosto muito... – A beijou novamente.

                  As ginastas entraram no ginásio. Cada uma foi recebendo os seus devidos aplausos. A animação da torcida por Flavinha Saraiva foi notável, pois ela ainda tinha o curativo no rosto, símbolo de sua superação na competição. Porém, quando as protagonistas do combate entraram, a torcida se levantou e as ovacionou como nunca.

                  Quando a competição começou, o lugar parecia se incendiar. O primeiro aparelho veio: as barras paralelas. Cada uma das atletas ali executou muito bem a sua série. O destaque foi para Flávia, que fez com perfeição, superando o seu resultado anterior. E então veio o primeiro grande acontecimento que incendiou a torcida brasileira: Simone Biles, a grande ginasta, fez uma série abaixo do seu rendimento comum. Como o esperado, não ficou nem um pouco feliz com o resultado. No entanto, não deixou de manter os olhos vidrados no aparelho, pois sua grande "rival" iria se apresentar.

                  Rebeca foi para a pararela sem muita pretensão, mas logo começou a gostar do jogo e não facilitou em nada. Ao sair, cravou muito bem. Biles, vendo aquilo, arregalou os olhos, não acreditando muito no que estava vendo. Realmente, Andrade não estava para brincadeiras. Lá no fundo, sentiu muito orgulho.

                   A estadunidense, então, demonstrando que ainda estava no páreo, alimentando ainda mais as mídias, recuperou os pontos, voltando ao primeiro lugar, na trave, o aparelho mais traiçoeiro de todos. Rebeca até fez uma excelente apresentação, mas não conseguiu superá-la. O destaque foi para Biles indo cumprimentar a brasileira.

– Não faça isso de novo... – Disse em português mesmo. Não queria que as mídias de seu país entendessem o que estava dizendo. – Você me deu trabalho... Essa foi quase.

– Eu te disse... – Rebeca respondeu, com um tom maroto. – Não vim aqui brincar, querida.

                     Os flashes dascâmeras logo começaram a ser acionados no momento em que as duas deram umabraço amigável.

                      Outro acontecimento inesperado aconteceu: Sunisa Lee, uma das favoritas à trave, acabou caindo. Na arquibancada, Lorrane, Jade e Júlia quase gargalharam.

– Ai, gente... Tadinha... – Lorrane ironizou.

– Tadinha... – Júlia disse, com ar de riso. – Que barra... – Meneou com a cabeça.

– Fico muito triste com uma notícia dessas. – Lorrane não conseguiu deixar de sorrir.

                         Biles ainda estava um pouco surpresa com a performance da colega, mas também virou-se de costas para rir. "Bem feito", pensou. 

                         Veio o penúltimo aparelho e com ele o espírito da rivalidade. Rebeca conseguiu uma execução impecável, levando um nota 15.100. Biles, então, foi e fez algo grandioso: um salto alto, difícil e carpado. Mesmo não cravando, conseguiu um 15.738, voltando para o primeiro lugar mais uma vez.

– Andrade... Andrade... Não brique comigo assim. – Foi o que disse ao cumprimentar a brasileira.

– Estou adorando tudo isso. – Rebeca respondeu.

                       Vendo a câmera se aproximando, Biles a cumprimentou com uma batida de mãos e um abraço. Então, estremeceu ao sentir a provocação dela. Andrade raspou a ponta do nariz em seu pescoço.

– O que está fazendo? – Perguntou, tentando não perder a postura.

– É que eu quero que isso aqui termine na cama, tá? É uma necessidade. – Foi a resposta de Rebeca, antes de se afastar.

As duas, então, se cumprimentaram com um aperto de mãos e assentiram, com um sorriso amistoso.

                      O último aparelho veio. Biles ia se apresentar depois de Andrade e se sentia um pouco desconcentrada. A provocação dela ao seu ouvido tinha surtido efeito. O fato de ter sido feita na frente das câmeras, tinha lhe deixado muito excitada e não estava ajudando em nada vê-la em sua apresentação. Quando percebeu que estava tocando os próprios lábios, retomou a postura e pigarreou, disfarçando. A temperatura estava aumentando, mas não era na competição.

                       Rebeca fez uma ótima apresentação, mas Simone, demonstrado o porquê de ter sido eleita a melhor ginasta do planeta, foi lá e fez uma de nível mais alta, impecável. Sua nota foi maior que 15.000. Então, aí veio a sua medalha de ouro. A prata ficou com a brasileira.

                       O ouro para os Estados Unidos era um feito grandioso, mas a prata para o Brasil foi um feito histórico. Rebeca Andrade se consolidava como uma das maiores atletas de seu país. Simone sentiu o coração quentinho de orgulho e a chamou para a seu lado no pódio. A foto das protagonistas do embate mais excitante daquelas olimpíadas foi a foto mais icônica do dia e correu o mundo. 

Podium and FireOnde histórias criam vida. Descubra agora