Jade não estava conseguindo dormir, pois sua mente estava pesada demais para lhe permitir descansar e aquela era a terceira vez que Sunisa se levantava para ir ao banheiro e todas as vezes, vinha com a respiração arfante e tossindo baixo, dando sinais muito claros de que não estava bem. Aquilo estava lhe perturbando muito. Então, ao vê-la se levantar pela quarta vez, não aguentou e, afastando o lençol e a mão de Flavinha de sua cintura - ela sempre queria dormir perto como uma irmãzinha mais nova -, se levantou e, tateando pelo escuro, conseguiu sair de onde as outras estavam e foi atrás dela.
Na porta do banheiro, a ouviu vomitando. Sua expressão se fechou ao imaginar o que ela tinha e, obviamente, a coisa era muito séria. Enquanto a ouvia, esperava quase que pacientemente, pois tinha que ficar atenta a Biles, pois se ela lhe visse ali, iria lhe dar uma bronca. Sunisa saiu do banheiro e, ao lhe ver ali, quase paralisou.
– O-o que... – Ela gaguejou, assustada.
– Lee, precisamos conversar. Por favor, fala comigo. – O tom de Jade era baixo e conciliador. – Para de fugir de mim.
– Está bem... – Sunisa respirou fundo, cedendo. – Mas procura um lugar discreto. Não quero levar outra bronca da Biles.
– Vem comigo. – A brasileira segurou na mão da estadunidense e a levou para fora dali.
Jade levou Sunisa para um lugar até cômico para a situação: a área de serviço. A situação era tão urgente que praticamente ignoraram a bagunça típica do lugar e algo nem tão inesperado assim aconteceu: Lee desabou em um choro sôfrego. Não estava mais aguentando segurar e sentou-se no chão, abraçando os joelhos. Barbosa, então, aproximou-se e sentou-se ao seu lado.
– Fala comigo.
– Você não é idiota... – Sunisa disse, olhando para ela e se segurando para não soluçar. – Estava ouvindo, sabe o que está acontecendo, não é? – As lágrimas, àquela altura, encharcavam seu rosto. – A idiota sou eu.
– Você está...?
– É o fim da minha carreira... Eu nunca mais... Nunca mais... – Lee não suportou e jogou-se nos braços da outra mulher. Buscava consolo.
– Eu não posso acreditar nisso... Não posso estar grávida... Não posso ter uma criança dentro de mim... – A estadunidense estava inconformada.
– Shhh... Shhh... – Jade tentava acalmá-la, enquanto a abraçava e passava a mão em suas costas. – Fica tranquila.
– O que vou fazer agora?
– Você vai conseguir superar, ok? E também não vai precisar passar por tudo sozinha.
– Que idiota que eu fui! – Sunisa se afastou de Jade e sua expressão também se tornou um pouco mais furiosa. – Aquele maldito fez isso só para me punir... Ele queria isso...
– Está falando daquele seu namorado? O...?
– Robert Finke? O cara que bateu o recorde mundial e o recorde olímpico em Paris? Pois é... Quem vê aquela cara bonita, nem imagina o canalha que ele é... Você não tem ideia do que eu passei.
– Por favor, não me fale disso. Eu fico...
– Queria saber o que estava acontecendo, não é? Pois bem. Agora, vai ouvir. – Sunisa parecia determinada. Enxugou as lágrimas antes de continuar: – Quando nós tivemos aquela briga lá em Paris, sabe, antes de voltarmos para as nossas casas, eu fiquei com tanta raiva de você que fui atrás dele. Não era a minha intenção, mas, basicamente, o Finke foi o primeiro a estar ali e, no impulso, me joguei.
– Ah! Por isso que você estava estranha quando foi me ver na minha casa.
– Exatamente. Eu estava me sentindo muito culpada por ter ficado com ele. Por isso quis ficar com você de novo. Precisava tirar essa culpa... E você... Nossa, Barbosa... Você foi tão atenciosa, tão... Que eu não sei como brigamos de novo e...
– Você voltou para os Estados Unidos e voltou a ficar com ele.
– Sim. Foi isso mesmo... – Sunisa teve vontade de chorar novamente, mas se conteve. – Nós ficávamos de forma casual, ele sempre se mostrou um cara legal e divertido, sabe? Sempre me colocava para cima... Mas aí, quando começamos a namorar, a coisa ficou bem feia. O Finke começou a querer me controlar, a seguir os meus passos. O pior de tudo foi quando ele quis me proibir de continuar o meu trabalho. Até me proibia de ir treinar por quase dois meses.
– Meu Deus... – Jade estava assustada. Durante as comunicações que as duas tinham, nunca pensou que ela pudesse estar sofrendo aquilo.
– Ele vinha com umas conversas estranhas sobre as mulheres precisarem saber o seu lugar. Nunca entendi, de fato, o significado dessas palavras, mas... Aquele canalha ficava insistindo para casarmos e termos um filho. Eu tentei explicar o que um filho significava para a minha carreira, mas o Finke não me ouvia e continuava insistindo.
– Lee, ele fez alguma coisa que você não se sentiu confortável? Aquele miserável se atreveu a...? – Jade ficou um pouco alarmada.
– Não. Ele não... – Sunisa estranhou. – Tudo foi consensual, mas eu não entendo como ele conseguiu me engravidar. Nós nos prevenimos.
– Típico de homem babaca. Ele deve ter furado o preservativo. E, como você mesmo disse, como ele te proibiu de continuar o treinamento por esse tempo, seu corpo voltou a subir os níveis de fertilidade. Ou seja... – Barbosa achava a situação cada vez mais perturbadora. – Aquele filho da puta te induziu a um estado estado fértil para te engravidar e...
– Antes de vir para cá, eu contei a ele o que estava acontecendo. Aquele maldito riu da minha cara. E agora... Agora ele acabou com a minha carreira... – Lee voltou a chorar.
Jade a abraçou de lado, consolando-a. Lágrimas saíram dos seus olhos também.
– Não fica assim... – Tentava dizer coisas suaves para ajudá-la.
– Você não entende, Jade. Eu amo o meu trabalho e a minha carreira. Aquele homem tirou isso de mim... É como se tivesse me matado por dentro.
– Ei... – Jade, então, sentou-se de frente para ela e pegou uma de suas mãos, dando um beijo ali. – Você não precisa passar por isso sozinha, ok? Não precisa... Vai ficar tudo bem.
– Por que você é assim? – Sunisa disse, abraçando-a.
Jade, então, fez-lhe um carinho calmo, querendo tranquilizá-la.
Pela manhã, todas tomavam o café da manhã e, enquanto tagarelavam sobre os detalhes do casamento de Simone e Rebeca, Jade tinha o foco em Sunisa, que estava abatida e não tocava na comida, em um claro sinal de enjoo matinal. A brasileira estava com o corpo inteiro em alerta.
– Hey, girls! – Lee disse, fazendo todas se calarem e lhe olharem. – Tenho uma coisa para contar.
– Você está bem, Sunisa? – Biles perguntou, reparando em seu estado. – Por que não comeu ainda?
– Meninas, eu... – Ela não conseguiu segurar as lágrimas. – Eu estou grávida... – A informação foi jogada. – Estou esperando um filho daquele maldito do Robert Finke.
Ninguém ali soube o que dizer, apenas se entreolhavam confusas. Os olhares das ginastas brasileiras, então, se voltaram para Jade, que apenas assentiu em silêncio e voltou sua atenção para o prato de comida.
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Podium and Fire
FanfictionSimone Biles é uma grande ginasta. Acostumada a sempre estar por cima do pódio e de ser a maior de seu tempo, não estava preparada para encontrar uma rival à sua altura: a brasileira Rebeca Andrade. No entanto, seu interesse vai muito mais além do e...