Interest

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               Rebeca sentia o corpo extremamente cansado, como de praxe, depois daquela noite duríssima de competições. Sua equipe tinha dado tudo de si naquela competição e tinham esperanças para o pódio, o que a deixava com um sorriso satisfeito no rosto. Tinha feito muito bem o seu trabalho. Entretanto, algo tinha lhe deixado inquieta no campeonato. Obviamente não era nada a ponto de lhe tirar a concentração, ao contrário, era uma sensação interessante. Durante as suas execuções, se sentira observada diversas vezes e o fato de não ter perdido a concentração lhe surpreendera muito, pois era desconcertante ser observada de forma tão intensa como aquela sensação sugeria.

           Enquanto tratava de tomar o seu banho, deixou a mente recapitular os acontecimentos e, em determinado momento, lembrou-se daquele instante específico à beira do tablado. Duas atletas da delegação estadunidense conversavam entre si e lhe olhavam. Mesmo que pudesse ouvi-las minimanente, não entendia uma única palavra do que diziam, uma vez que falavam em seu idioma local. Uma era branca, loira e de olhos azuis com traços juvenis e a outra era uma ginasta negra que tinha uma postura muito centrada e um olhar avaliativo. Como não enxergava muito bem e não podia utilizar lentes de contato durante as competições, Rebeca não conseguiu saber com exatidão se ela estava mesmo olhando em sua direção. Mas, sua intuição lhe dizia que sim, o que fazia muitas perguntas surgirem. A primeira delas era o por que de estarem lhe observando e o por que de o olhar daquela atleta lhe atingir daquela maneira. O que estaria se passando pela cabeça dela?

          Sabia o nome dela: Simone Biles. De acordo com os principais meios esportivos, era a mais nova promessa dos Estados Unidos. Não vira muitas provas dela, mas uma em especial lhe impressionou: a trave olímpica. Mesmo enxergando com bastante dificuldade, pode observar os movimentos precisos e potentes dela. Era realmente uma explosão. A nota dela passou de quinze, algo que nenhuma tinha feito. Geralmente, as atletas daquele porte não se interessavam muito por aquelas que consideravam mais "fracas", então, não estava realmente entendendo o interesse dela.


          Os dias foram correndo. A final do campeonato chegou. Nas individuais, o Brasil ficou em oitavo lugar, atingindo assim a sua melhor marca da história, até então. Rebeca tinha que confessar: ainda não entendia o interesse de Simone Biles em sua pessoa. Ela sempre se aproximava mais para vê-la durante as suas execuções, sempre ficava vidrada. Era como se estivesse lhe analisando e aquilo já estava começando a lhe desconcertar. Será que ela enxergava em sua pessoa uma possível rival?

          Quando a competição de ginástica feminina terminou, Rebeca se impressionou com aquela ginasta. Simone Biles, uma atleta jovem de apenas dezenove anos de idade, tinha conseguido cinco medalhas olímpicas, sendo quatro dessas de ouro – equipes, salto, solo e individual geral – e uma de bronze na trave. E não era para menos. Ela era uma atleta absurda: já tinha três títulos no mundial de individual geral – soube daquilo em uma pesquisa rápida –, mais três no mundial de solo e mais dois na trave. Realmente era um fenômeno. Podia facilmente ser a sua ídola, pois sua presença e resultados desafiavam um longo sistema racista nos Estados Unidos e em toda a estrutura olímpica em geral. 

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