Shot, beating and bomb

13.8K 1K 694
                                    

    – Levamos de novo! – Júlia celebrou mais um ponto. As cartas estavam ao seu favor. – Valeu, parceira! – Deu uma batida de mãos em Lorrane, sua dupla.

– Sorte de principiante. – Jade resmungou. – Vamos de novo. Eu reparto as cartas.

                    As quatro ginastas estavam em uma rodinha no corredor e jogavam uma partida de truco. Estavam ali à postos para evitar que qualquer visita indesejável se aproximasse daquele quarto ou tudo iria se complicar. Os gemidos vindo do quarto foram simplesmente ignorados, mas já tinha um tempo que haviam cessado.

– Será que a Biles está bem? – Flávia perguntou, vendo Jade repartindo as mãos.

– Eis o mistério. – Barbosa disse, começando a distribuir as cartas novamente. – Ou ela matou a Rebeca ou a Rebeca matou ela.

– Gente, ela estava mesmo bolada por causa do twitter? – Lorrane riu. – Eu, definitivamente, amo aquele site.

– Vocês ouviram a Rebe? – Júlia tinha um ar de riso na voz. – "Não sou a dona do twitter". – Imitou o tom de voz de Rebeca, fazendo as outras rirem.

                   Em meio às boas gargalhadas, retomaram o jogo.

– Gente... – Flávia chamou a atenção delas. – O que é aquilo ali?

– O quê? – Jade, que estava de costas, se virou para verificar.

– Misericórdia! – Lorrane colocou a mão no peito.

                   Quem vinha no corredor eram duas ginastas colegas de Biles. Uma era Sunisa Lee e a outra – loira e de pele extremamente pálida – era Jade Carey. A atenção de todas voltou-se para a segunda ginasta.

– Nossa! O que é que está acontecendo aqui, hein? – A de traços oriental chegou primeiro. – Que bagunça é essa?

– Podemos ajudá-las, queridinhas? – Lorrane perguntou em um tom claramente irônico. – Perderam alguma coisa?

– Onde está a Biles? – Sunisa foi direta.

– E como vamos saber? – Júlia respondeu. – Por acaso, somos babás dela?

– Querem explicar o porquê de estarem jogando cartas no meio do corredor? – Jade Carey se aproximou, ficando do lado da colega.

– Tem alguma regra que proíbe, por acaso? – Soares se pronunciou mais uma vez.

– Meninas, meninas... – Jade respondeu, jogando como se nada estivesse acontecendo. – Vamos manter a classe, ok? – Trocou outra de suas cartas. Um valete de ouro por um de copas. – A Biles não passou por aqui e nem tem motivo. – Dirigiu-se as estadunidenses ali. – Por favor, não queremos problemas com vossas senhorias, queiram se retirar. – Completou, vendo Flávia, sua dupla, tirando outra carta do monte.

– Não sairemos daqui até verificarmos se a Biles está ou não. – Sunisa parecia determinada. – Nos disseram que a viram entrando aqui.

– Bom... – Jade jogou mais uma vez, após Lorrane. – Das duas uma: ou estão doidos ou estão cegos. Escolham.

– Ah! Qual é! Não se façam de sonsas! – Carey retrucou.

– Estão vendo isso? – Lorrane falava com suas companheiras em seu idioma para que não as estrangeiras ali não entendessem. – Estão vendo a audácia dessas filhas da puta? – Estava indignada. 

– Não me venham com essa sua língua de terceiro mundo. – Sunisa respondeu. – Vamos... Nos deixem passar.

                     As brasileiras se entreolharam e largaram as cartas antes de se levantar. Lorrane, então, deu um passo na frente do grupo. Em questão de segundos, Lee e Carey viam-se acuadas em uma rodinha.

– Epa! – Jade impediu Lorrane de avançar contra alguma delas. – Deixa que eu cuido disso. – Minhas caras Lee e Carey, peço que as duas deem meia-volta e saiam daqui pelo mesmo caminho que vieram.

– E o que acontece se não fizemos? Huh? – Sunisa tentou intimidá-la, dando um passo em sua direção.

                    Jade imediatamente a puxou pelo braço com força e agarrou-lhe a nuca, fazendo-a sentir dor ali.

– Nossa! Eu não queria estar na pele da sua amiga agora. – Flávia disse a Carey, que estava de olhos arregalados.

– Vem aqui. – Jade puxou a outra estadunidense para o lado, torcendo seu braço para trás. – Se vocês duas não saírem agora mesmo, teremos um problema. E eu imagino que você não vai querer isso, não é? Não é? – A segunda pergunta foi feita com uma pegada mais firma na nuca dela.

                    Lee apenas assentiu freneticamente. De repente, as palavras sumiram de sua boca. Jade a soltou.

– Podem deixá-las ir. – Disse às colegas.

A rodinha foi desfeita. Carey e Lee, sem alternativa e com medo, decidiram sair.

– Qual é, Jade? Por que não me deixou dar uma surra nelas? – Lorrane reclamou. – Vai ver que até conseguiríamos o ouro.

– Não seja palhaça! – Jade rebateu.

– Ai, gente! Vocês viram a tal de Carey? – Júlia disse. – Como pode ser tão sem sal e sem vida a coitada? Por um instante, achei que estava no filme Colheita Maldita. – Sua fala fez Flávia e Lorrane rirem.

– Fiquem frias, meninas. O que é delas está chegando. – Jade disse, arrumando o cabelo. – Podem aguardar.

– De uma coisa eu sei: a Biles nos deve uma. – Lorrane disse, recebendo a concordância delas. 

Podium and FireOnde histórias criam vida. Descubra agora