Jogos Olímpicos de Paris, 2024. Final do solo.
Com o collant trocado, um roxo por um verde com lindos detalhes brilhantes, Rebeca entrou no ginásio com uma expressão firme e bastante concentrada. O solo, após o salto, era o seu melhor aparelho e, nos jogos de Tóquio, tinha lhe rendido uma medalha de prata. Porém, agora, sentia de perto o gostinho do desafio e aquilo lhe causava uma adrenalina gostosa pelo corpo. Estaria agora enfrentando a maior do mundo, coisa que não aconteceu na olimpíada passada. Tudo ficava ainda melhor com a satisfação de que já havia dominado sua "rival" na cama e, naquele momento, queria fazê-lo no pódio.
Simone estava rodeada de câmeras enquanto se concentrava em seus exercícios mentais para aumentar sua coragem e confiança. Ao seu lado estavam suas colegas Jordan Chiles e Jade Carey, que também tinham se classificado para aquela final.
– Precisamos fazer todo o possível para que estejamos juntas nesse pódio. – Carey dizia. – A Lee tinha razão, Biles. Você anda muito descuidada.
– Carey, dá um tempo. – Chiles respondeu. – A Biles precisa se concentrar. Você está piorando tudo deixando ela estressada dessa maneira.
– Você não tem nada a dizer? – A loira se dirigiu diretamente a Simone.
– Você deve se concentrar apenas no próprio trabalho, Carey. – Biles respondeu com a pouca paciência que ainda lhe restava. – Vai ver se eu estou na esquina. – Resmungou.
O aquecimento passou e a competição se iniciou com uma música animada enquanto todos os olhares se voltavam para a beira do tablado, onde Rebeca Andrade se preparava para a sua apresentação. Então... A icônica mistura das canções "End of Time", da cantora estadunidense Beyoncé, e "Movimento da Sanfoninha", da cantora brasileira Anitta, começou. A atleta brasileira, então, começou. E começou forte.
Naquele solo, Andrade deu o seu nome. A dificuldade de sua apresentação era de 5.900 e a de execução era de 8.266. O ritmo contagiante e sua energia fazia o público e até mesmo ginastas de outras delegações dançarem e aplaudirem. A mais animada era a própria Simone Biles, que parecia encantada e mexia os ombros sorrindo e brincando ao som daquela música. A apresentação de sua rival, além de muito artística, era também muito técnica e todas as chegadas foram cravadas, beirando a perfeição. Aquilo lhe fazia rir e suspirar.
Ao terminar, Rebeca recebeu os aplausos e gritos de seu público, das outras ginastas e do seu treinador. E, como era de se esperar, Simone não demorou a se aproximar, dando-lhe um abraço amistoso, seguido de uma batida de mãos.
– Excelente apresentação, Andrade. – Biles disse, sorrindo.
– Muito obrigada. Você também vai arrasar.
As duas se olharam de forma cúmplice, assentiram e sorriram, dando outra batida de mãos. Assim que sua "rival" se afastou, Rebeca sentou-se, pegou os óculos e, após limpá-los mais uma vez, os colocou no rosto. Queria ter certeza e sua nota. E ela veio: um impressionante 14.166, deixando-a em primeiro lugar. No entanto, como ainda era o início da competição, ela não comemorou, pois sabia que nada estava tão definido assim. No entanto, as candidatas que vieram em seguida estavam pressionadas por sua nota alta e a pressão lhe induziu ao erro. Até que outro momento inesperado aconteceu: Simone Biles também errou.
A ginasta estadunidense, durante a sua apresentação, pisou duas vezes foram do tablado com os dois pés. Então, ficou nervosa, já imaginando a possibilidade de não ultrapassar a nota da brasileira. E foi exatamente o que aconteceu: sua nota foi de 14.133, ficando apenas 0.30 de Andrade. O segundo lugar era seu.
– É... – Disse, suspirando. – A Rebeca levou essa. – Falava com Jordan, que assentiu. – Ela conseguiu... Conseguiu me passar.
Olhando para dentro de si, Simone não estava mesmo se importando com aquilo. A sensação de perder o ouro para a sua maior rival das competições não tinha tido todo o peso que imaginava. Não sentiu raiva dela, sentiu orgulho. Tanto orgulho que quase teve vontade de chorar. Realmente... Se fosse para ser superada, que fosse por alguém excelente. E não havia ninguém mais excelente do que Rebeca Andrade.
A confirmação do ouro da brasileira veio com a apresentação de Jordan Chiles, que acabou ficando com a medalha de bronze. A torcida brasileira estava eufórica e as bandeiras do Brasil tremulavam no ginásio. Era algo lindo de se ver. Rebeca, alegre e ainda sem acreditar no próprio feito, recebeu abraços e comemorou com o seu treinador, psicóloga e até mesmo com outras atletas. No fim, o último abraço – e o mais caloroso – foi dado por Simone Biles.
– Milton Cunha, me responda... O que foi isso, meu filho? – Fernanda Gentil voltou a se apresentar diante das câmeras. – Então, está confirmado! O ouro é nosso! O ouro é da menina Rebeca e ninguém mais tira dela.
– Com certeza! A menina Rebeca deu um verdadeiro show! Mostrou mesmo a que veio! Triunfou sobre a mais alta majestade, a toda poderosa, a rainha da ginástica artística. Nossa! Estou todo arrepiado.
– Uma coisa que eu gostaria de comentar foi o espírito esportivo da Simone Biles. O tempo todo ela ia lá, dava uma moral para a Rebeca, era também incentivada... Realmente, uma linda amizade pode sair disso aí, não acha?
– A Simone Biles sabe muito que está lidando com uma excelente atleta e respeita muito a nossa diva Rebeca. Então, ela deve estar até mesmo orgulhosa porque essa pessoa é a Rebeca. É aquela lógica, não é? Se for para ser superado, que seja por alguém realmente melhor do que eu.
– Perfeito. É o que eu também acho. Vamos lá para a cerimônia.
Quando a cerimônia de entrega das medalhas começou, as atletas já estavam com as suas calças e casacos por cima de seus collantse com os tênis em seus pés. Rebeca estava nervosa e seus cabelos cacheados escorriam por seus ombros e costas. Jordan Chiles foi a primeira a subir no pódio, recebendo a medalha de bronze; Simone Biles foi a segunda, recebendo a medalha de prata. Na vez de Rebeca, as duas estadunidenses se olharam e assentiram entre si e, quando ela subiu, se ajoelharam diante dela, em um sinal de reverência.
– AAAIII... Fernanda... Fernandinha... – Milton estava eufórico e dramatizava. – Me abana! Me abana! Eu vou passar mal!
– Calma, Miltinho! – Ela riu. – Estamos vendo com os nossos próprios olhos um momento icônico, senhoras e senhores de todo o meu Brasil! Simone Biles de joelhos diante de nossa Rebeca! Isso é ABSOLUTE CINEMA!!!
Rebeca Andrade recebeu a medalha de ouro, fazendo algo que nenhuma ginasta brasileira tinha conseguido. Após a foto com as medalhas, abraçou as americanas de lado, compartilhando de sua felicidade. E olhando para Simone, voltando a enxergar a sua mulher, sentiu o coração errar as batidas e aquela contração na boca de seu estômago com o olhar de puro orgulho dela. Biles, então, brincando, pediu para que se ajoelhasse e fez um gesto simbólico: fingiu tirar uma coroa da própria cabeça e pôr na cabeça da brasileira. Quando Andrade voltou a ficar de pé, se curvou perante ela mais uma vez.
– Gente! Isso é grandioso! – Milton disse.
– Com certeza, Miltinho! – Fernanda confirmou. – Esse é o momento em que o espírito esportivo prevalece, não é? E hoje, estamos tendo a oportunidade de presenciar o encerramento desse embate entre duas grandes atletas, as melhores do mundo, com esse momento lindo de respeito e admiração entre ambas.
– Já dizia lá em American Horror Story, na temporada três, sabe? Coven? Quando a antiga suprema enfraquece é porque uma nova suprema está surgindo. Muito bem... Simone Biles brilhou durante sua trajetória e hoje, após acontecimentos inesperados, viu a ascensão de outra grande atleta. E isso é lindo, Brasil! Um luxo! - Ele respondeu. - Então, é isso! Simone Biles reinou e que grande reinado! Mas hoje, uma nova rainha está pronta para assumir o seu lugar! Que venha o reinado de Rebeca Andrade!
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Podium and Fire
FanfictionSimone Biles é uma grande ginasta. Acostumada a sempre estar por cima do pódio e de ser a maior de seu tempo, não estava preparada para encontrar uma rival à sua altura: a brasileira Rebeca Andrade. No entanto, seu interesse vai muito mais além do e...