Olimpíadas de Paris, 2024. Primeiro dia da ginástica artística feminina.
O ginásio estava agitado. As mais de quarenta equipes iam entrando, cumprindo os protocolos esportivos, causando a euforia de suas respectivas torcidas, no entanto, a mídia estava interessada no assunto do momento: a rivalidade entre o fenômeno brasileiro da ginástica artística Rebeca Andrade e a maior ginasta do mundo Simone Biles.
Aquela pauta começou a ser fomentada ainda na olimpíada anterior, pois Biles não participou de todos os aparelhos nas competições indivíduais por conta de alguns problemas em sua saúde mental. Sua ausência na competição coincidiu em duas grandes e históricas conquistas de Andrade: a brasileira conseguiu a prata na disputa individual geral e a medalha de ouro no salto. Em seu país, tornou-se a maior ginasta da história. Aquilo foi o suficiente para que Rebeca começasse, de forma inevitável, uma aposta para a superação de Simone no topo do pódio. De uma forma ou de outra, aquele era um jogo midiático muito bom, que mantinha os ânimos aquecidos dentro do ginásio.
– Muito bem! Muito bem! – Jade Barbosa, como uma boa capitã, organizava a equipe brasileira.
Enquanto se preparava para o aquecimento no primeiro aparelho, Rebeca percebia a movimentação da mídia estadunidense perto de onde a delegação dos Estados Unidos estava. Pelo que ouvira anteriormente, Simone estava gravando um documentário e encontrou a explicação para a cara de tédio que Lorrane fazia desde que tinham pisado ali.
– Já viu a nova pataquada da sua peguete? – Justamente a colega entediada se aproximava. – Por que esses americanos sempre têm que inventar alguma moda, hein!
– Ah! Amiga! – Rebeca riu. – Eu, particularmente, estou achando divertidíssimo todo esse circo.
– Imaginei que estaria. Levanta a sua moral, não é? Biles versus Andrade, o combate do século.
– Você fala como se fosse uma luta de UFC.
– Antes fosse. Mas, no sigilo, sabemos que a verdadeira luta entre vocês é a chave de coxas.
– Fica tranquila, Lorrane. Deixa a Biles curtir a mídia dela. Ela passou por poucas e boas em Tóquio. – Rebeca estava muito tranquila. – Quem eu quero mesmo enfrentar é aquela nariz empinado da Sunisa Lee. Ela que me aguarde!
Simone não precisava disfarçar. Adorava estar em evidência, adorava a atenção da mídia e, principalmente, adorava brincar com a narrativa. E toda aquela coisa de sua rivalidade com Rebeca era, em parte, culpa sua. Começou quando, ainda nas olimpíadas de Tóquio, deu uma declaração na internet demonstrando sua surpresa quando ela ganhou a medalha de ouro no salto e a prata no individual geral, pois nunca pensou que uma atleta que nunca tinha chegado nem entre as quatro melhores conseguisse tal feito. Aquilo, claro, caiu como uma bomba na mídia e muitos jornais deram a entender que estava demonstrando medo ou receio de perder o topo do pódio. No entanto, outra declaração polêmica de sua parte veio, jogando mais lenha na fogueira: "Rebeca Andrade só conseguiu o ouro porque eu não estava presente. Às vezes, é um ato esportivo dar lugar aos menos favorecidos". Claro, na época, realmente estava com o ego ferido, mas agora, se divertia pensando: "Ah! Se eles soubessem...".
– Deveria tomar muito cuidado, Biles. – Sunisa Lee, como o carma na sua vida que era, se aproximou com claras intenções de lhe provocar. – Vai que em uma dessas a Andrade lá te tire a coroa.
– Se eu fosse você, parava de se preocupar comigo e se preocupava mais com o seu próprio pescoço. – Simone respondeu o mais calmamente que conseguiu. – Ouvi por aí que ela está te caçando.
– Ui... Estou tremendo de medo. – Lee ironizou. – O que é que ela pode fazer contra minha pessoa? Ficar atrás de mim de novo no pódio.
– Eu vou te dar um bom conselho: não se meta com as brasileiras, Lee. Você não faz a mínima ideia do que elas são capazes. – Simone respondeu, de costas para ela, enquanto organizava suas coisas. – Se caso você não ouça e ainda assim decida cometer tamanha idiotice... – Virou-se para ela, antes de continuar: – Tome muito cuidado nos becos da vila olímpica.
Uma repórter brasileira loira e simpática se aproximou da equipe brasileira.
– Gente! Meu Brasilzão! Fernanda Gentil diretamente de Paris para entrevistar as nossas meninas! – Seu carisma era imenso e não demorou muito para arrancar um sorriso das ginastas. – Meninas, me contem, como estão as expectativas? Jade Barbosa, o que sente nesse momento de regresso para brigar por uma medalha pelo Brasil novamente?
– Bom, Fernanda... É um prazer te ver aqui, sou muito sua fã. – Jade também esbanjava carisma. – Bem... Como é de se esperar, estou muito honrada por estar de volta representando o meu Brasil lindo e demonstrar o meu amor por essa pátria através do meu talento de novo e... Posso dizer que todas nós estamos muito confiantes, nos preparamos muito, treinamos duro e estamos prontas para dar o nosso melhor. Esperamos sim dar orgulho à nossa mãe, Daiane dos Santos, a mãe de todas as ginastas, e pegar essa medalha, que, inclusive, deveria ter sido dela há muito tempo.
– Pois é, eu concordo! – Fernanda respondeu. – Me arrisco a dizer que Daiane dos Santos sem uma medalha olímpica é a maior injustiça da humanidade.
– Com certeza! Com certeza... – Jade concordou. – Então, nós estaremos na briga para ganhar e dar alegria para todo o Brasil e orgulhar a todos aqueles que vieram antes de nós. Alô, Diego Hipólito! Beijo!
– Então, como vocês podem observar aí de casa, as nossas meninas estão confiantes e, como boas brasileiras, farão de tudo para levar uma medalha para casa. – Fernanda Gentil disse, olhando para a câmera. – Mas, me digam... Ouvi dizer que estão até botando medo na Simone Biles! Rebeca Andrade, me explica essa história, minha filha!
Rebeca sorriu timidamente quando a repórter se aproximou.
– Olá, Fernanda! Olá, meu Brasil! – Disse. – Primeiramente, é sempre uma honra para mim e para todas nós estarmos em mais uma olimpíada representando o nosso Brasil maravilhoso. – O seu tom era meigo e gentil, como sempre. – Bom... Eu me sinto muito honrada por estar sendo reconhecida como uma possível rival para a Simone Biles, mesmo que a intenção não seja diretamente competir com ela, é sempre um lisonjeio. Eu a admiro muito, é, sem dúvida, a maior ginasta de nosso tempo e... É isso, será algo muito interessante. Vê-la competindo, com certeza, me dará forças para continuar desafiando a mim mesma.
Sutilmente, Rebeca olhou por cima do ombro da repórter,encontrando Simone olhando em sua direção.
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Podium and Fire
FanfictionSimone Biles é uma grande ginasta. Acostumada a sempre estar por cima do pódio e de ser a maior de seu tempo, não estava preparada para encontrar uma rival à sua altura: a brasileira Rebeca Andrade. No entanto, seu interesse vai muito mais além do e...