Sunisa Lee tentava correr, mas parecia que não tinha saída. Quem estava ao seu encalço não estava para brincadeira e, naquela madrugada parisiense, com a vila olímpica escura, sentia o verdadeiro terror. Logo atrás, uma Jade Barbosa caminhava com uma expressão fechada em seu rosto. Não precisava correr, pois sabia exatamente para onde ela ia. Não havia saída.
Lee tentou sair por três direções, mas seu coração quase pulou pela boca ao vê-las bloqueadas por três figuras conhecidas: Lorrane Oliveira, Júlia Soares e Flávia Saraiva. Essa última era a que mais estava lhe dando medo no momento. Quando Jade virou a esquina, voltou a correr. Então, respirou fundo ao vir de longe um homem grisalho e de expressão fechada sentado em uma das calças brincando com um gato. "Talvez, ele possa me ajudar", pensou, antes de se aproximar. No entanto, foi segurada pelo braço e depois pelo cabelo.
– Opa, opa! – Jade a puxou, impedindo-a de se mexer. – Eu avisei que não adianta correr. Também avisei que não queria problema, mas toda paciência tem um limite. Agora, temos contas a acertar.
– Socorro!!! Moço, me ajuda!!! – Gritou para ele. Porém, se calou no instante em que teve uma puxada no cabelo. Soube da pior forma o quão forte os braços da capitã da equipe brasileira de ginástica artística eram.
Para a surpresa da estadunidense, aquele homem se levantou e, pegando o gato nos braços, se aproximou.
– Vamos. – Se dirigiu a Jade.
– A outra já passou por aqui? – Ela perguntou.
– Já. Foi com a menina Júlia. – Ele respondeu, acariciando o gato.
Seguindo aquele homem, Sunisa percebeu que estavam indo para a delegação turca. O lugar andava meio vazio, pois já era tarde. O homem as levou para um dos quartos e, ao entrar, encontrou Jade Carey cercada pelas outras três brasileiras. O homem fechou e trancou a porta assim que entraram.
– Valeu, Yusuf. – Jade disse, empurrando Sunisa para o meio da roda, após soltá-la.
– Não me agradeçam, apenas cumpram o combinado. Vocês não contam sobre o Michi e eu não conto nada sobre essa reuniãozinha. Tá bom? - Yusuf Dikeç respondeu, indo sentar-se na outra cama com o seu novo bichinho.
As duas prisioneiras ali engoliram em seco ao olharem para cada uma das brasileiras e perceberem que estavam muito furiosas. A principal interessada, Lorrane Oliveira, era a que colocava mais medo.
– Não tenho nada a falar e muito a bater. – Lorrane disse, tirando o moletom. – Já estou pelas tampas com vocês. Chega.
– Vocês não vão ter coragem de fazer uma coisa dessas. – Sunisa rebateu.
– Isso é o que vamos ver. – Lorrane se aproximou, trincando a mandíbula.
– Garotas! Garotas! – Ela já estava com o punho levantado quando Yusuf interrompeu o momento. – Não se esqueçam: sem hematomas. Abaixo das costelas.
Lorrane assentiu e, sem esperar mais nenhum segundo, deu um soco violento em sua barriga, fazendo-a se curvar para a frente. Carey, vendo aquilo, quis gritar, mas teve a boca tapada por Júlia.
– Fica quieta, menina. Vai sobrar para você.
Lee levou mais dois socos e foi ao chão, curvando-se sobre a barriga. Lorrane, então, a segurou pelos braços, obrigando-a a levantar. A próxima a se aproximar foi Jade Barbosa.
– Você acha engraçado a desgraça dos outros, não é, Lee? Pois bem... Veja se você acha graça disso aqui. – Jade disse, antes de dar-lhe um soco.
A capitã não perdoou. Foram três socos bem aplicados. Teve que diminuir a força para que não houvesse hematomas, como Yusuf tinha aconselhado. O problema é que mesmo com a força diminuída, Sunisa sentiu dor. Muita dor. Para completar, deu-lhe um chute com a parte de cima de seu pé na coxa dela, fazendo-a pender para o lado.
– Não se meta com a minha pupila de novo ou terá mais disso. Me ouviu bem? – Disse, segurando-a pelo queixo.
Após soltar o queixo de Lee, Jade se afastou. Flávia foi a próxima a se aproximar e simplesmente não disse nada. Apenas encarou a estadunidense e deu-lhe um chute forte na coxa e um soco perto do flanco esquerdo.
– Vocês estão loucas... – Jade Carey estava assustada. – Eu vou denunciar isso...
– Não, branquela. Não vai. – Júlia disse, segurando-a pelo braço. – O que acontece em Vegas, fica em Vegas. Ninguém aqui viu nada, não é, galera? Você viu alguma coisa, Jade?
– Não vi nada. – Jade respondeu, cruzando os braços abaixo dos seios.
– Lorrane?
– Não vi nada. – Lorrane repetiu a resposta de sua capitã.
– Flavinha, você viu alguma coisa? – A pergunta de Júlia fez Flávia sorrir.
– Eu? Não, por quê? – Flávia respondeu, segurando no braço de Jade. O seu tom agora era carregado de fofura.
– Você viu alguma coisa, Yusuf?
– Eu? – Yusuf desviou o olhar do gato e olhou para ela. – Não vi e nem ouvi nada.
– Ótimo. – Júlia sorriu, soltando a loira. – Já entendeu, não foi? Nenhuma palavra disso ou você vai entrar na rodinha junto, ouviu?
– Minha querida... Temos dipirona de graça pelo SUS. – Lorrane disse. – Acha mesmo que vamos deitar para uma loira sem sal como você? Faça-me um favor!
– Se perguntarem o que houve com a vadia da Lee, você dirá que foi um pequeno acidente de bicicleta. Como vocês, estadunidenses, não têm o mínimo de inteligência e senso crítico, vai colar. – Júlia completou.
– Muito bem. Já lavei minha alma. – Jade disse. – Vamos embora.
Lorrane arrastou Sunisa Lee até uma cadeira e a sentou ali.
– Não se preocupa, fofa... Emdois dias, você estará novinha. – Debochou. – Podia ter sido pior. Você poderia ter ido para o corredor polonês.
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Podium and Fire
FanfictionSimone Biles é uma grande ginasta. Acostumada a sempre estar por cima do pódio e de ser a maior de seu tempo, não estava preparada para encontrar uma rival à sua altura: a brasileira Rebeca Andrade. No entanto, seu interesse vai muito mais além do e...