Biles encarava o teto enquanto concentrava-se em sua própria respiração. Deitada em seu peito, Andrade dormia serenamente. As duas estavam, de fato, muito cansadas com todo aquele movimento. Um exercício de alta intensidade, ela diria. O quarto estava muito silencioso e o silêncio lhe permitia observar e apreciar mais os detalhes: o primeiro deles era a mulher abraçada ao seu corpo. A coxa direita dela estava sobre a sua, a mão sobre a sua cintura... Riu da própria ironia do destino. Rebeca Andrade tinha um ar fofo e simpático no ginásio, falava sempre com um sorriso tímido no rosto, sempre assentindo, mas fora dele era completamente diferente, dominante, com um ar sonso – essa parte lhe irritava na mesma proporção que lhe excitava – e muito assertiva. Como era possível?
Enquanto pensava, fazia-lhe um carinho lento no braço dela que estava em sua cintura, sentindo-a, admirando-a. Suspirou ao segurar a mão dela e entrelaçar os seus dedos. "O que você está fazendo comigo, Andrade?", a pergunta ecoava em sua mente. O seu sorriso se alargou um pouco mais quando Rebeca mexeu-se inquieta, se aconchegando mais.
O momento estava bom, mas Simone, olhando pela janela, viu que já havia escurecido e soube que era hora de voltar para a sua própria delegação, mas, ao tentar se mexer, a brasileira se aconchegou mais, como um cachorrinho, encaixando o rosto na curva de seu pescoço. O ato fofo lhe fez rir.
– Rebeca. – A chamou, sacudindo-a. – Rebeca...
Ao ter o seu sono perturbado, Rebeca resmungou manhosamente, se espreguiçando:
– Hmmmphhfff... O que foi?
– Já está tarde. Preciso ir.
– Não... Eu não quero que vá. – Andrade disse, manhosa, voltando a abraçá-la.
– Mas... – Biles virou-se de lado, tentando escapar, mas o movimento não deu certo e a brasileira acabou lhe puxando mais. – Rebeca... – Tentou disfarçar que estava gostando do grude, quando ela encostou o rosto em seu ombro e pôs a perna direita entre as suas. – Ah! Não faz assim...
– Fica aqui... Por favor... – O tom de Rebeca era sonolento e seus movimentos preguiçosos.
– E as suas amigas? O que vão pensar se chegarem e nos encontrarem assim?
– Não vai acontecer nada. Elas não vão voltar.
Ouvindo-a falar daquela maneira tão fofa, lenta e sonolenta era algo que definitivamente Simone não esperava. Seu sorriso bobo demonstrava que não iria sair dali, então, cedeu, aconchegando-se mais a ela. Minutos depois, enquanto a acariava no braço, também se sentiu sonolenta e, entrelaçando seus dedos aos dela, decidiu dormir.
Na manhã seguinte, Rebeca tinha um sorriso ladino no rosto quando entrou no refeitório da delegação. Após pegar o café da manhã, visualizou as companheiras em uma das mesas e foi sentar-se com elas. Ainda era muito cedo, então, o lugar estava meio vazio, havia apenas um casal de mesatenistas em um canto e um rapaz de cara fechada em outro.
– Bom dia. – Disse, sentando-se ali. Precisou se segurar ao extremo para não completar com o trecho de uma música viral "... Por favor, sente na glock.".
– Bom dia, Bequinha. – Flavinha lhe cumprimentou. – Como passou a noite?
– Deu formiga na sua cama, amiga? – Lorrane brincou. – Você nunca acorda tão cedo.
– Isso sim é um milagre. – Jade se pronunciou em seguida, garfando mais um pedaço de fruta em seu prato.
Rebeca não respondeu. Seu pensamento estava longe e, desta vez, não estava pensando em receitas ou em séries médicas, como era de costume, mas sim na despedida que teve com Simone antes de chegar ali. Sua mulher lhe abraçou pelos ombros, deu-lhe um beijo suave nos lábios e, ao se afastar, sussurrou um bom dia. Suspirou, sorrindo.
– Rebeca! Você está ouvindo? – Júlia chamou sua atenção.
– Ahn... O quê? – Perguntou, um pouco desnorteada, voltando a si.
– Eu estava falando que vamos dar um passeio pela cidade depois do treino. Não quer vir?
– Ih! Olha só como ela está! Parece que está surda. – Lorrane disse, achando engraçado. – Parece que a Biles gemeu muito alto no ouvido dela.
– Meninas, ainda não são nem oito da manhã. – Jade interrompeu o assunto. – Por favor!
– Obrigada. – Rebeca disse, dando-lhe uma piscadela.
– Ai, olhem só como são as coisas! – Flávia disse, limpando a boca. – Nossa menina Rebeca descobriu que a vida é muito mais do que as receitinhas icônicas da Ana Maria Braga.
Ouvindo aquilo, Lorrane e Júlia caíram na gargalhada.
Em seu quarto, após o seu banho, Simone terminava de se arrumar após o banho quando se assustou com a chegada de Jordan Chiles, que também levou um susto ao lhe ver.
– Biles? O que faz aqui? – Chiles ficou desconfiada.
– De onde você está vindo? – Biles percebeu que ela estava fazendo coisas duvidosas por aí.
– Te faço a mesma pergunta. – Jordan rebateu.
– Olha... Vamos fazer o seguinte: não comento de você e nem você de mim. Pode ser?
– Você pode ser o meu álibi?
– Com certeza. – Simone responder. – Olha, se me permite um conselho, não chegue de cabelo molhado.
– Anotado. – A outra sorriu, dando-lhe um aperto de mãos.
As duas saíram juntas do quarto e foram para o refeitório. Após pegarem a comida, foram se sentar com as outras.
– Bom dia, queridas. – Hezly Rivera as cumprimentou, olhando-as com um olhar desconfiado.
– Por onde vocês andaram?
– Eu estava com a Chiles. – Simone respondeu. – Ela acabou fazendo amizade com um britânico que aprendeu a fazer tricô e acabou que ficou bem tarde, enfim... Acabamos ficando por lá.
– É... Foi isso mesmo que aconteceu. – Jordan confirmou.
– Vocês estão fora de controle. – Sunisa respondeu. – Anotem o que estou dizendo: isso ainda vai nos dar muitos problemas.
– Oh, senhorita mau humor, não vem com as suas opiniões insuportáveis porque ninguém pediu, valeu? – Simone rebateu. – O meu dia começou formidável, não vem querer estragar.
– Nossa, Biles... Você realmente está tendo um dia muito bom. – Henzly disse, lançando-lhe um olhar maroto. – Está de bom humor... Sua pele está ótima... O tricô foi uma excelente terapia, pelo visto.
– Pois é, acredita? – Biles respondeu, comendo mais um pedaço de sua panqueca. – É uma excelente terapia para desestressar. Inclusive, Lee... Você também deveria praticar.
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Podium and Fire
FanfictionSimone Biles é uma grande ginasta. Acostumada a sempre estar por cima do pódio e de ser a maior de seu tempo, não estava preparada para encontrar uma rival à sua altura: a brasileira Rebeca Andrade. No entanto, seu interesse vai muito mais além do e...