Você já teve que fazer uma escolha impossível, daquelas que, no fim, qualquer opção acaba te machucando?
Talvez se eu me rebelasse diante de tudo isso... mas não posso.
Sempre fui uma "boa menina".
Meus pais me ensinaram a ser sempre educada, gentil e obediente — talvez até um pouco submissa.
Na escola, quando as outras crianças me provocavam, eu apenas baixava a cabeça. Engolia tudo como parte do meu dever de ser "boa".
Mesmo quando minha única amiga traiu minha confiança espalhando um segredo e isso virou motivo de bullying, eu sofri em silêncio. Porque eu era a menina boa.
Quando meus pais morreram, eu tinha apenas nove anos. Achei que o mundo desabaria de vez, mas, ainda assim, não me rebelei. Eles teriam esperado que eu continuasse obediente, sempre grata. E foi exatamente isso que fiz.
Fui morar com tio Thales, que, apesar de estar sempre viajando a trabalho, era uma companhia incrível quando estava em casa. Ele contava piadas, me fazia rir, e, por mais ausente que fosse, sempre me tratou com carinho.
Ao longo dos anos, aprendi a não reclamar. Tio Thales cuidava de mim, e eu era grata. Simples assim.
Até agora.
Meu tio morreu há uma semana, e o mundo desabou pela segunda vez.
Os advogados chegaram no dia seguinte ao enterro e eu achei que fosse uma mera formalidade. Mas aí veio o baque: casamento.
Eu deveria me casar. E não era com alguém que eu amava, ou mesmo conhecia. Era com um tal Alexander, o sócio e melhor amigo do meu tio. Um homem que eu jamais tinha visto na vida.
Os advogados esclareceram que era um casamento só no papel. Apenas para cumprir as exigências do testamento. Que eu poderia seguir minha vida como se nenhum matrimônio tivesse acontecido.
E eu deveria aceitar, ou então... um abrigo de menores.
Essas eram as minhas opções: me casar com um estranho, ou ir para um lugar onde perderia o pouco controle que ainda tenho sobre minha vida.
Dormi chorando naquela noite. Não pelo casamento em si, mas pela falta de escolha. Não queria ir para um abrigo e dividir quarto com estranhas, perder meu espaço, minha privacidade, a única coisa que ainda me resta.
Hoje, com a mente mais clara e o coração mais endurecido, tomei a decisão que parecia menos pior. Liguei para os advogados.
Eles me levaram para a empresa do meu tio, que também era do tal Alexander. Uma sala de reuniões gelada, onde tudo estava pronto para o casamento. Sem festa, sem vestido, sem troca de olhares.
Antes de assinar, no entanto, algo me corroeu por dentro. A assinatura dele já estava ali. Fria, indiferente.
Era o máximo de contato que eu teria com o meu "noivo" antes de nos casarmos.
Eu só sabia seu nome, sobrenome e data de nascimento.
Quem era esse Alexander De Luca Monteiro de 22 anos? Como ele aceitou se casar com uma pessoa que nunca viu? Eu não podia me casar com ele sem sequer saber a cor de seus olhos.
— Não posso assinar assim, sem nunca tê-lo visto — falei para os advogados. — Podem chamá-lo?
Os advogados hesitaram, mas acabaram ligando para ele.
Enquanto aguardava, me senti ansiosa imaginando o nosso primeiro contato. Como seria a aparência dele? E o timbre de sua voz? Será que era um homem gentil como seu melhor amigo?

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Meu marido indesejado
Teen Fiction"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...