Alexander
Tudo o que eu queria era mandar todo mundo para o inferno.
Só assim poderia me concentrar. E hoje era um daqueles dias que eu precisava estar afiado: uma reunião com a Zimpex, um possível cliente internacional.
Passei a manhã me preparando para a negociação, e todos sabiam da importância daquela reunião, ainda assim, me procuravam por assuntos que deveriam resolver sozinhos.
Não suportava liderar aquela equipe diplomada em incompetência. Ser sócio sênior eliminaria essas distrações e eu poderia focar no que realmente importava.
Tinha tirado o telefone do gancho, mas não podia fazer o mesmo com Hugo. Apesar de eu ter dito que não queria ser incomodado, ele apareceu na porta com cara de quem viu o Pé Redondo.
— Senhor, a escola ligou — disse ele com uma urgência exagerada.
— E?
— Sofie fugiu.
Levantei-me de imediato, pegando o paletó com um movimento brusco.
— Cancele a reunião com a Zimpex — ordenei, passando rapidamente por ele.
Por que o elevador estava descendo tão devagar?
Por que estacionei o carro tão longe?
Por que todos dirigiam como idosos?
Usei a buzina mais vezes do que em todos os meus anos de habilitação juntos.
Sabia que seria multado, mas não conseguia tirar o pé do acelerador. Naquele momento, nada importava.
Sofie era minha responsabilidade, se algo acontecesse com ela, recairia sobre mim.
Deveria procurá-la? Ir até a escola? Ou para sua casa?
Eu sempre recebia os problemas mais complexos e urgentes da empresa por ser considerado o expert em tomar decisões sob pressão. Mas agora estava desorientado.
Era o responsável por uma garota de 17 anos e ela fugiu da escola. Precisava raciocinar com calma, traçar uma estratégia. Mas por que diabos eu não conseguia pensar direito?
Acabei indo para a escola. Entrei como um tornado na secretaria, onde encontrei a diretora aflita. Ela abriu a boca, mas a cortei:
— Quero saber exatamente o que aconteceu.
Ela se encolheu um pouco, e eu não estava nem aí se tinha sido duro. Antes de falar, ela pegou um tablet da mão de uma funcionária.
— Um aluno fez uma postagem sobre Sofie, que se espalhou. Estão chamando-a de 'Sofie, a esposa de mentirinha'.
Ela virou o tablet para mim. Ver aquela postagem me deixou ainda mais furioso. Furioso com quem postou, com quem espalhou, comigo mesmo e com essa maldita escola.
— Como vocês deixaram uma adolescente fugir? Esta droga de escola não tem segurança?!
Minha fúria estava à beira de explodir. Mal prestei atenção na desculpa esfarrapada da diretora, peguei o celular e liguei para Sofie — coisa que eu deveria ter feito desde o início.
Uma vibração abafada veio de perto. Olhei e vi a mochila lilás de borboletas. Abri sem pensar e lá estava o celular dela.
Esfreguei o rosto com força enquanto a diretora continuava falando idiotices. Não havia tempo a perder. Peguei a mochila e, antes de sair, encarei a diretora uma última vez para dizer:
— Se algo acontecer com ela, farei da vida de vocês um inferno.
Fui direto para a casa de Sofie. Depois de esmurrar a porta gritando seu nome, me lembrei.
Thales e eu tínhamos a chave da casa um do outro, e eu ainda não tinha tirado do meu chaveiro desde que ele mor...
Maldito Thales! Se não tivesse forçado Sofie a se casar comigo, nada disso teria acontecido.
Gritei o nome dela pelos cômodos, e o silêncio me respondeu sem piedade.
Um gosto amargo invadiu minha boca antes de partir em uma busca alucinada pela cidade.
Eu era o culpado.
Minha resposta ríspida à estagiária da secretaria, na primeira vez que fui chamado na escola, desencadeou tudo isso. Quando ela perguntou: "Você não é jovem demais para ser o pai dela?", dei a mesma resposta irritada que tinha dado a Hugo minutos antes. Que erro grotesco.
Só fui entender o impacto disso quando Gutierre me contou como essa informação vazada estava prejudicando a vida dela.
Gutierre.
Liguei para ele e exigi que fizesse o registro de desaparecimento. O que o inútil me respondeu só aumentou minha ira:
— Só registram após 24 horas, Alex.
24 horas?! Quem foi o desgraçado que decidiu que esse é um tempo razoável? Muita coisa poderia acontecer com Sofie nesse tempo.
Duas dessas horas se passaram enquanto eu rodava as ruas feito louco. Casados há quatro meses e eu não sabia o suficiente sobre ela para ter um palpite de onde procurar.
Deveria ter prestado mais atenção ao que a diretora disse na primeira vez que fui chamado. Ela queria entender a natureza da minha relação com Sofie, e eu fui direto dizendo que era apenas o tutor dela. Achei que isso encerraria a conversa, mas ela insistiu, contando detalhes sobre Sofie que, segundo ela, eu precisava saber.
Naquele momento, só queria voltar ao trabalho, e ignorei quase tudo. Poucas coisas se fixaram, como Sofie ser um prodígio em matemática, nunca ter faltado e ser alérgica a frutos do mar.
Se eu tivesse escutado melhor, teria alguma pista agora.
Furei o terceiro sinal vermelho e a essa altura já estava à beira do colapso.
Irritado, desnorteado, preocupado.
Estava prestes a retornar à casa dela, então a vi.
Sentada em um balanço de uma praça deserta. Sozinha. Vulnerável. Exposta a qualquer tipo de pessoa mal-intencionada. Parei o carro de qualquer jeito e saí depressa.
Queria gritar por ela me fazer passar por tudo isso; queria agradecer por estar viva.
Estava tão furioso que queria brigar com ela. Tão aliviado que queria abraçá-la.
Mas não tinha o direito de fazer nem uma coisa, nem outra. Então respirei fundo e me forcei a recobrar o controle.
Sofie estava de cabeça baixa segurando as cordas do balanço, os pés pendendo no ar, imóvel.
De costas para mim, seus cabelos pretos eram levados pelo vento frio do tempo nublado.
Caminhei mais devagar para ganhar tempo de decidir o que fazer.
Enfim, cheguei ao balanço.
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Meu marido indesejado
Teen Fiction"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...