A ascensão meteórica de Alexandre, o Grande — um jovem que chegou ao poder muito cedo e cuja vida terminou de forma igualmente precoce — era o assunto da aula naquela manhã.
Meu caderno estava cheio de anotações sobre suas conquistas, mas algo na história de Alexandre me frustrava.
Mesmo tendo tudo, ele estava isolado, cercado de inimigos e desconfiança. Sua ambição foi sua ruína, a busca constante por mais teve um alto preço. No fim, viveu pouco para desfrutar os resultados de seus sacrifícios.
O sinal do intervalo tocou, fechei o caderno e voltei aos tempos atuais, onde um nome parecido também era fonte de frustração: Alexander.
Não o via desde que fui em seu trabalho, e ele não fez questão de me procurar. Não que eu esperasse um "feliz quatro meses de casamento", mas doía que ele nem se afetasse com o fato de sermos casados.
Às vezes, Gutierre aparecia para me buscar na escola e me levava para almoçar com sua esposa e a filhinha. Eles eram gentis, mas eu sempre me policiava, sentindo que tudo o que eu dissesse chegaria aos ouvidos de Alexander.
Mesmo que Gutierre genuinamente se preocupasse ao perguntar sobre a escola, o cursinho e minha escolha de faculdade, eu não conseguia afastar a sensação de que Alexander, de longe, acompanhava tudo.
Não por se importar. Se ele se importasse, me procuraria, nem que fosse com uma simples chamada — eu nem tinha seu número. Se Alexander se informava sobre mim, era apenas por um senso de responsabilidade. Por obrigação.
Esperei todos saírem da sala antes de mim, evitando trombar com Ícaro, como aconteceu semana passada. Mal nos cumprimentávamos, e isso me machucava. Sentia falta dele. Sem Ícaro, o intervalo voltou a ser a pior parte do dia.
No pátio barulhento, percebi que deixei o celular na mochila e me virei para buscá-lo. Quase esbarrei em Isabelle, a garota mais bonita da escola.
— Oi, Sofie — ela abriu um sorriso de lábios atolados de gloss.
Fiquei surpresa. Isabelle sabia meu nome? Ela nunca falava comigo, sempre desprezava os "nerds", como eu.
— Oi... — falei, incerta.
Ao seu lado, Maria Clara sufocou uma risadinha. Isabelle prosseguiu:
— Já assistiu aquele filme? A Esposa de Mentirinha?
A gargalhada de Maria Clara atraiu olhares.
— Não — murmurei, meu estômago revirando.
— Ué, mas é o seu filme, não? Sofie, a esposa de mentirinha! — ela falou mais alto.
Olhei ao redor e vi que mais pessoas estavam rindo.
Eles sabiam. Todos sabiam.
Minha garganta fechou, meus olhos se encheram de lágrimas. Fechei os punhos de tanta raiva e dor. Queria empurrá-la.
Isabelle cruzou os braços e me olhou de cima.
— Só assim pra alguém te querer, né? Mas você vai morrer BV!
Mais risadas.
Tudo em mim queimava. Coração destroçado, mente atordoada. Mas ao invés de reagir, que era o que eu queria naquele momento, meu corpo entrou em modo de fuga, e corri.
Cega pelas lágrimas, na saída do refeitório acabei esbarrando em...
Ícaro.
Ele foi o único para quem confiei aquele segredo. Sua traição doía nas vísceras.
— Sofie... eu posso explicar — seu rosto estava contraído de sofrimento e os olhos cheios de culpa.
— Eu confiei em você, Ícaro. Você espalhou pra todo mundo — minha voz soou quebrada, chorosa.
Ícaro abriu a boca, mas nada saiu. Ele tentou se aproximar. Me desviei e voltei a correr.
Precisava me esconder e não havia lugar seguro na escola. Não podia continuar ali.
Mas como ia sair? Jamais pularia o muro, como o grupinho de Yuri sempre fazia. Só o pensamento de fazer uma coisa dessas já me dava taquicardia. Fugir da escola era algo que nunca pensei que faria na vida.
Avistei um carro saindo pelo portão e meu coração disparou furiosamente.
O que poderia acontecer? Eu seria suspensa? Expulsa?
Minhas mãos tremiam pelo medo e a adrenalina do que estava cogitando, mas minhas pernas estavam no comando e agiram.
— Ei, garota, você não pode sair! — gritou o segurança, mas eu já estava atravessando o portão.
Corri com toda força, deixando os gritos dele para trás.
O mundo passava por mim como um borrão. Só conseguia sentir aquela dor esmagadora.
Eu ia embora. Para longe. Ninguém nunca mais ia me encontrar.
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Meu marido indesejado
Teen Fiction"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...