15. O dualismo

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Já fazia alguns minutos que estávamos sentamos à mesa, mas eu ainda não conseguia esquecer aquele toque de Alexander nas minhas costas.

Não estava muito atenta à conversa, mas também não importava; não ia abrir a boca e arriscar receber um olhar matador de Alexander.

— Por falar nisso, senhora Vilarino, eu soube... — dizia ele.

— Por favor, não me chame de senhora. Me sinto uma velha! Me chame apenas de Sofia, sim?

— Temos o mesmo nome — saiu sem que eu pudesse conter. — Quero dizer... quase. O meu é Sofie — falei baixo, envergonhada.

— Que coincidência adorável! — ela sorriu, entusiasmada.

— De um lado, Alexander e Sofie. Do outro, Anselmo e Sofia — Gutierre estendeu uma mão para cada lado.

— Um encontro entre passado e futuro — disse Anselmo, sorrindo, e meu cérebro criou uma imagem que apaguei depressa.

Não tive coragem de olhar para Alexander.

— Como eu dizia, Sofia — Alexander retomou com uma pausa, ela sorriu satisfeita. — Li sobre seu projeto ambiental em prol da vida marinha. É muito promissor.

Que ironia: Sofia querendo ser tratada como mais nova; eu, mais velha.

— É um sonho antigo. Agora aposentada, posso finalmente me dedicar à minha verdadeira paixão: a biologia.

Algo se remexeu dentro de mim.

— Você é bióloga? — escapou novamente, e fiquei constrangida, mas ela sorriu para mim.

— Sim, mas pratiquei pouco. O mundo empresarial acabou me engolindo. Ainda assim, nunca perdi o fascínio pela vida marinha — ela inclinou a cabeça, me olhando com atenção. — Pelo brilho nos seus olhos, diria que você tem afinidade com o tema, Sofie.

— Era a profissão da minha mãe — falei, deixando a emoção transparecer.

— Será que a conheço? Qual o nome dela?

— Ana Francis...

Seus olhos acenderam em reconhecimento.

— Ana Francis? A grande bióloga? — repetiu, surpresa.

Assenti. O peito apertou e espalmei a mão na mesa em busca de equilíbrio tangível.

— Eu adoraria conhecê-la — disse ela, sorrindo.

Uma fisgada no coração me fez encolher.

— Na verdade... ela morreu há alguns anos. Em um acidente de carro com meu pai — acrescentei automaticamente, como um script ensaiado. As pessoas sempre perguntavam, então me acostumei a antecipar o resto da história.

Baixei os olhos para esconder a dor.

Então senti uma mão quente na minha, apertando-a de forma reconfortante. Surpresa, olhei para Alexander. Seus olhos azuis, diferentes do gelo habitual, transmitiam compreensão e apoio.

— Sinto muito, não foi minha intenção — Sofia disse suavemente.

— Tudo bem, eu era criança, não lembro de muita coisa — menti para aliviar seu desconforto, mas me lembrava de tudo.

— É trágico que ambos tenham perdido os pais quando ainda crianças — Gutierre comentou com um tom cuidadoso.

Alexander também perdeu os pais na infância?

Olhei para Gutierre, que acenou com um olhar complacente. Voltei para Alexander, mas ele já não me olhava. Apertei sua mão com força.

— Que bom que vocês têm um ao outro — disse Anselmo, condescendente.

Meu marido indesejadoOnde histórias criam vida. Descubra agora