30. O perigo

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Só aguentei até a primeira esquina para perguntar:

— Vocês eram mesmo colegas de quarto?

— Só dou informações a troco de algo — ele lançou um sorrisinho de canto. — O que você vai me dar?

Desviei os olhos com o rosto quente. Se havia um sentido malicioso, preferia não descobrir.

Cruzei os braços, me sentindo enganada. Quando ele pegou o caminho errado, meu alarme interno disparou. Já tinha informado meu endereço.

— Minha casa é para o outro lado.

— Vamos passar num lugar.

— Que lugar? — olhei de soslaio, desconfiada.

— Um lugar aí. Preciso deixar uma parada.

— Parada? É coisa ilegal? — minha voz saiu em pânico.

Ele deu uma risada baixa.

— Você pensa o pior de mim, não é? Fica tranquila, docinho, nada do que você imagina chega perto do que sou capaz de fazer — pausa carregada. — Nem do que já fiz.

A adrenalina correu em minhas veias.

— Vou colocar uma música especial para você. Para criar um clima — ele mexeu no monitor do painel.

A voz de Lady Gaga ecoou. Qual música? Alejandro.

Olhei para ele, incrédula.

— Droga, errei — mas o sorriso maldoso dizia o contrário.

Ele colocou outra cujo título dizia "Tear You Apart", de She Wants Revenge. Com uma melodia sombria, entendi o clima que ele pretendia criar: medo.

A letra falava "quero te partir em pedaços", mas havia ambiguidade se era no sentido literal ou... outro sentido.

A tensão aumentava à medida que ele entrava em ruas estranhas, me lançando olhares suspeitos. Estava me testando ou tramava algo? Afinal, naquele jantar, ele disse que sabia violar leis sem ser pego.

Quando chegamos na rodovia, as músicas ficaram ainda mais sombrias: Cyaho da banda Molchat Doma, e outras sobre enterrar corpos.

O pôr do sol ameaçava que algo viria ao cair da noite. Ele pisou fundo, e a velocidade disparou adrenalina em minha corrente sanguínea, junto com um frio na barriga. Agarrei o banco, nervosa, mas, de alguma forma, aquela sensação de velocidade era... boa.

— Tudo certo aí, docinho? — perguntou, satisfeito ao ver minha mão agarrada.

— Tudo — sussurrei.

Mesmo apavorada, não acreditava que ele me faria mal. Não muito.

Guilhermo sabia o que estava fazendo. Era como se conduzisse uma dança, e cada reação minha satisfizesse sua provocação.

O céu estava escuro quando cruzamos a placa de saída. Eu já não sabia o que esperar, só desejava que Alexander não ficasse bravo se algo me acontecesse.

Guilhermo freou bruscamente girando o volante; os pneus cantaram. Meu coração subiu à garganta.

Pisquei várias vezes tentando me acalmar. Ele dirigiu por uma estrada de terra até uma casa grande, com um lago verde escuro ao fundo que lembrava seus olhos.

Um garoto com tatuagem na garganta apareceu na porta.

— Espera aqui, docinho — disse saindo do carro, mas deixou a chave na ignição.

Respirei fundo enquanto eles pegavam algo no porta-malas e entravam na casa. Então ele realmente ia deixar algo, e não era meu corpo. Suspirei quase aliviada.

Meu marido indesejadoOnde histórias criam vida. Descubra agora