14. O toque

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Alexander vinha em minha direção a passos decididos, como se cada pisada fosse uma sentença.

O smoking preto perfeitamente ajustado ao seu corpo o fazia parecer ainda mais imponente.

Eu soube, pela expressão de insatisfação em seu rosto, que a decisão de vir até aqui foi, sem dúvidas, a mais tola da minha vida.

Quando parou diante de mim, minha respiração falhou.

— O que faz aqui? — a voz dura como uma rocha.

Engoli em seco, piscando vezes demais.

Já estava claro que não foi ele quem me convidou. Mas alguém o fez e não era justo eu ser tratada como intrusa.

— Eu fui convidada — minha voz saiu quase trêmula.

Hugo surgiu como meu herói pessoal.

— Senhor, eu que mandei o convite para a senhora Sofie — explicou ele, quase gaguejando.

Estávamos distantes das mesas, ninguém teria ouvido a conversa. Ainda assim, Hugo chegou se justificando de imediato — ele conhecia o chefe que tinha.

— Por quê? — agora a dureza de Alexander tinha outro destinatário.

— Bom, eu achei... eu... — Hugo passou a mão na nuca, mal conseguindo sustentar o olhar. — Ela não é sua esposa?

Alexander fechou os olhos e respirou fundo, claramente irritado.

Meu corpo esquentou de vergonha e a garganta fechou. O coração destroçado era algo para pensar na escuridão do meu quarto. Não podia deixá-lo ver o quanto me machucou.

— Já entendi que não sou bem-vinda — murmurei já me virando para ir embora.

Antes que eu pudesse dar um passo, no entanto, senti sua mão segurando meu braço. Aquele toque decidido fez meu coração disparar. Minha pele se arrepiou da ponta dos pés ao último fio de cabelo.

Era a primeira vez que ele me tocava.

— Fique — a voz de Alexander soou mais baixa, uma ordem, mas com um leve tom de relutância.

Me virei devagar. Encarei-o tentando decifrar sua expressão, mas não consegui extrair nada do semblante fechado.

— Você já está aqui. Não precisa ir embora — disse soltando meu braço.

Então entendi: ele só me mandou ficar por pena, mas preferia que eu desaparecesse.

Hugo saiu de fininho.

Fui incapaz de reagir. Ainda nem tinha conseguido processar a sensação de ser tocada por ele.

— Fica perto de mim e não fala nenhuma besteira — ditou.

Queria responder, mas nem sabia o quê, tampouco tive tempo; Gutierre surgiu sorridente.

— Sofie! Que bom vê-la aqui! — ele me cumprimentou com um beijo em cada lado do rosto. — Você está belíssima.

— Obrigada... Você também está belíssimo — respondi, tentando disfarçar o desconforto com a presença de Alexander.

Gutierre fingiu tirar um chapéu e fez uma leve reverência. Nós dois rimos. Alexander, não.

Em seguida pareceu haver uma rápida comunicação não verbal entre eles, com Gutierre erguendo duas vezes as sobrancelhas em uma expressão divertida e Alexander franzindo a testa em irritação.

— Veja quem chegou! — Gutierre exclamou de repente.

Um casal se aproximava. O homem de smoking com cabelos brancos e a mulher de cabelo loiro escuro, embora aparentasse idade para ter cabelos brancos também. Exalavam uma sofisticação sutil, como se quisessem passar despercebidos, mas falharam, pois um grupo ali perto olhava para eles como se fossem uma refeição.

Gutierre os cumprimentou animadamente e logo os trouxe para perto de nós.

— Senhor e senhora Vilarino, quero que conheçam o senhor e a senhora Monteiro.

Senhora Monteiro?

Minhas pernas fraquejaram.

— É um prazer finalmente conhecê-lo, senhor Vilarino — Alexander disse, apertando a mão do homem.

O senhor Vilarino olhou de Alexander para mim.

— Então os boatos são verdadeiros. O implacável homem de aço da Atlântico realmente se casou. E com uma bela madame, se me permite dizer — ele pegou a minha mão e a beijou.

Sorri timidamente, sem saber ao certo como responder.

— Só não é mais bela que a minha, obviamente — ele emendou, piscando para a esposa que estava sendo cumprimentada por Alexander.

— Oh, querido, não seja bobo. A senhora Monteiro é realmente linda — ela me cumprimentou com um beijo de cada lado. — Adorei o seu vestido, querida. Quando eu era mais jovem, também combinava meu vestido com os olhos do meu marido. Era sempre verde-água.

Os olhos azuis de Alexander pousaram em meu vestido.

Meu rosto enrubesceu instantaneamente.

Não foi intencional, mas realmente meu vestido era o exato tom dos olhos dele.

— Agora ela usa essas cores beges para combinar com as minhas cataratas — brincou Vilarino.

Todos riram, inclusive Alexander. Foi um sorriso discreto de lábios fechados, ainda assim, inesperado. Achei que ele fosse incapaz de curvar os lábios.

— Cataratas? Esses olhos limpíssimos? — Gutierre comentou, rindo.

Nesse momento, um garçom se aproximou com uma bandeja de taças. Todos prontamente pegaram, mas hesitei sem saber se devia. O garçom aproximou a bandeja de mim e minha mão começou a subir automaticamente, mas Alexander discretamente a segurou.

Alexander segurou a minha mão.

— Ela não bebe. Traga água tônica para ela, por favor — ele disse ao garçom.

O garçom assentiu e se afastou.

Meu corpo inteiro esquentou, mas dessa vez por um motivo diferente, ele segurou a minha mão.

E mesmo depois que a soltou, o toque continuou formigando.

Por que meu corpo estava reagindo assim ao toque dele? Não fazia o menor sentido.

— Bom, vamos nos sentar. Aposto que as meninas não querem se cansar com esses saltos — sugeriu Gutierre, conduzindo todos em alguma direção.

Começamos a andar. Os Vilarino próximos um ao outro de braços dados; Alexander e eu tão separados quanto polos de um ímã: repelindo-se.

Isso até Gutierre se virar para nós com uma mão ao lado da boca e confidenciar:

— Não se esqueçam que vocês são recém-casados.

Alexander suspirou com desgosto.

Pouco importava a música, as pessoas e o mundo. Alexander se aproximou e pousou a mão no fim das minhas costas.

Meu coração correu uma maratona.

Ao contrário de toda sua frieza, a mão era quente. Seus dedos tocavam a minha pele descoberta enviando cargas elétricas que me faziam arrepiar por inteiro.

Um toque suave que parecia natural, mas ao mesmo tempo calculado. Eu sabia que ele estava odiando cada segundo.

E algo me dizia que aquilo não era nem um terço do que a noite estava prestes a testemunhar.

Meu marido indesejadoOnde histórias criam vida. Descubra agora