34. A namorada

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Alexander

Desde o nascimento, tudo o que fazemos é negociar. Trata-se de uma habilidade intrínseca que se manifesta já nos primeiros momentos da vida, quando a criança negocia o silêncio em troca do leite.

Mais tarde, se joga no chão do supermercado trocando o sossego dos pais por um doce. Posteriormente, troca o desempenho profissional por reconhecimento social. Negociamos do início ao fim da vida, usando as moedas que temos para obter o que queremos.

A primeira regra para vencer uma negociação é saber o que o outro lado quer ouvir e dizê-lo no momento certo.

Foi o que fiz com Sofie.

Não podia impedi-la de ir a uma festa cheia de drogados, mas podia fazê-la decidir não ir. Então negociamos: dei algo que ela queria em troca de um comportamento.

Estava acostumado a negociações assim, era meu trabalho. Mas por que, então, me senti mal ao usar isso com ela?

Talvez por ter confirmado que era aquilo que ela queria ouvir.

Até o momento, não tinha pensado nessa possibilidade. Havia sinais. Sofie sempre me olhava como se esperasse algo de mim. Sem falar na forma que seu corpo reagia quando tínhamos contato físico.

Antes eu achava irritantes e imaturas suas reações. Mas agora sabia que ela não tinha culpa.

Ser colocado em uma situação absurda dessas distorce sua visão. Passei a entender isso no dia em que ela estava usando aquele vestido branco idiota e eu a carreguei nos braços.

Quando se interpreta um papel com alguém, até atores experientes acabam sendo afetados. Não é à toa que muitos casais fictícios se tornam reais. O cérebro engana.

Então é óbvio que atuar como um casal na frente dos Vilarinos, e depois dormir juntos, afetou Sofie.

A prova veio quando ela dispensou Guilhermo só por eu dizer que não queria que "minha esposa" saísse com outros homens. Foi quando percebi: ela estava se envolvendo.

E isso era um desastre.

Eu não podia deixá-la confundir as coisas. E levá-la para jantar depois de dizer aquilo não ajudaria. Por isso eu tornaria tudo o mais objetivo possível. Um restaurante de shopping. Nada romântico. Sentar, comer, ir embora.

Mas assim que chegamos, tive que agir rápido ao segurar a cintura dela e puxar seu corpo para mais perto.

Ela olhou para mim confusa e com o rosto avermelhado, mas logo entenderia.

— Veja, querida, os Monteiros! — exclamou Anselmo Vilarino, ao lado de sua esposa.

Sofie imediatamente colou mais no meu corpo. Seu olhar subiu para mim, hesitante, buscando algum tipo de aprovação enquanto os Vilarinos vinham em nossa direção.

Ao menos desta vez eu não estava tocando diretamente na pele dela, como naquele maldito vestido azul.

Eles chegaram até nós e nos cumprimentaram.

— Vocês dois sempre combinando! — comentou Sofia, e foi quando notei que minha camisa era da mesma cor do vestido de Sofie. Quase revirei os olhos.

— Deixe-me adivinhar, estavam assistindo algum clássico? — me obriguei a ser cordial. Afinal, os fundos deles estavam me dando lucros exponenciais.

— Nem tanto. Assistimos Diário de uma paixão. Agora que percebo, poderíamos fazer o remake: vocês na versão jovem, nós na versão gagá — ele riu, satisfeito com a própria piada.

As duas riram com ele, e eu estava dando tudo de mim para não revirar os olhos. Precisava encerrar aquilo logo, Sofie estava com fome.

— Estamos indo jantar. Gostariam de nos acompanhar? — ofereci, sabendo que recusariam. A mancha de molho na camisa de Anselmo era um sinal de que já tinham comido.

Meu marido indesejadoOnde histórias criam vida. Descubra agora