Alexander
Era para ser uma noite de integração amigável entre funcionários, amigos, clientes e parceiros, disseram eles. Mas ali estava eu, tolerando um Gutierre que ficava ainda mais intrometido após algumas taças de champanhe.
— Toma, bebe um pouco — ele pegou duas taças da bandeja do garçom e estendeu uma para mim.
— Já disse que não vou beber.
Ele ergueu os ombros, brindou com as taças e deu um gole em cada, como se quisesse enfatizar o quanto eu estava "perdendo". Embora fosse meu advogado, Gutierre gostava de se divertir com o meu desgosto.
O único motivo para eu estar ali era sua promessa de que convenceu Anselmo Vilarino, o homem com quem eu tentava marcar uma reunião há meses, a aparecer. E esse era um negócio que eu não podia perder.
Mas o preço era suportar um advogado que nesse momento estava mais para estorvo do que aliado.
— Você precisa relaxar um pouco, meu caro — ele arreganhou os dentes. — Vilarino não gosta de homens tão sérios.
— Ele quer alguém para gerir os fundos financeiros ou para contar piadas?
Gutierre apertou os lábios, e lá estava a expressão de quando ia tocar em um assunto que eu não queria.
— Eu não queria dizer nada, mas...
— Fala de uma vez — cortei, sem paciência para seu jogo de mistério.
— Vilarino é muito tradicionalista, você sabe... Aquelas coisas de família, negócios à moda antiga e blá, blá, blá.
— Aonde quer chegar com isso?
— Quer saber como eu o convenci a vir hoje? — Gutierre se inclinou, os olhos apertados como se estivesse prestes a revelar um segredo de estado. — Comentei que você se casou. Ele ficou surpreso. Disse que achava que você era duro demais para ser o tipo de homem que se casa.
— E o que diabos uma coisa tem a ver com a outra?
— Alex, nem todo mundo tem a mesma visão fria de negócios que você. Vilarino certamente não tem.
Revirei os olhos.
— Ele está velho demais para pensar racionalmente.
— E você jovem demais para não aproveitar a vida — Gutierre usou o tom paternalista que eu detestava.
— Não vem dar uma de Thales — respondi, irritado por ele ter evocado lembranças indigestas.
— Sabe, Alex, você deveria ser mais grato. Thales te deixou muito mais do que as ações que te garantirão o cargo de sócio sênior. Te deixou uma esposa.
Esposa. A palavra ressoou na minha cabeça como uma piada de mau gosto.
— Ele me deixou um problema.
— Você está perdendo a melhor parte de ser casado — provocou com um sorrisinho insuportável.
— Você fumou um quilo de capim, seu animal? — encarei-o como se fosse um jumento descerebrado. — Ela é uma menina.
Gutierre riu, altamente satisfeito por ver que me irritou.
— Pelo que eu entendo de leis, ela deixou de ser uma menina quando se casou.
— E o que o seu entendimento de leis diz sobre se envolver com uma menor de idade? — devolvi, ríspido.
— Quando ela é sua mulher? Nada — ele deu de ombros, como se não estivesse falando a coisa mais absurda.
Senti a veia da têmpora saltar.
— Coloca de vez na sua cabeça, ela não é minha mulher.
Ele riu novamente e eu quis lhe dar um dente a menos na boca. Mas em sete anos que o conhecia, eu já havia aprendido a controlar essa vontade recorrente.
Achei que minha noite estivesse insuportável o suficiente, e foi quando Edgar, o maldito que concorria comigo ao cargo de sócio sênior, se aproximou.
Edgar se esforçava para me sabotar com o conselho. Era um invejoso incompetente que não se garantia e queria a todo custo ser melhor que eu. Coitado.
— Estão gostando da festa? Eu sim, mas essas mulheres todas acompanhadas dificulta um pouco — disse ele com um sorriso predador.
— Precisa consertar seu GPS, Edgar. Se a intenção era ir para uma festa da sua faculdade, errou um pouco o destino — e com isso toquei na ferida.
Ele me lançou um olhar raivoso.
Edgar abandonou a faculdade por não dar conta da pressão, mas tentava não sair por baixo dizendo que faculdade não ensina nada. Fiz isso virar motivo de piada no escritório. Normalmente eu estava pouco me lixando para o fracasso alheio, mas com Edgar tentando me sabotar, toda oportunidade de contra-ataque era válida.
— Que se dane, Alexander. Quero amassar mulher hoje, que seja uma bem deliciosa. Pode até ser casada, eu nem ligo — ele sorriu maliciosamente.
Entre a imbecilidade de Edgar e as provocações de Gutierre, eu preferia cometer o oposto de viver entrando na frente de um touro bandido.
Eu sinceramente acreditava que já tinha atingido o limite de desgosto por uma noite, mas então...
— Finalmente uma mulher desacompanhada. E que coisinha saborosa — Edgar me cotovelou, apontando o queixo para a entrada.
Apesar de o lugar estar cheio, seria impossível não reparar na pessoa que acabou de chegar. Dentro de um longo vestido azul que desenhava sua cintura fina, com uma fenda que expunha sua perna ao andar, uma mulher roubou a cena.
O que infernos ela estava fazendo ali?
— Foi bom falar com vocês, amigos, mas a minha mulher chegou — Edgar esfregou as mãos com uma malícia que fez o meu maxilar trincar.
Antes que ele desse o primeiro passo, meu braço agiu por instinto, barrando seu peito com mais força do que eu planejava. Então, sem que eu controlasse, uma afirmação possessiva me escapou entre os dentes:
— Aquela mulher é a minha.
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Meu marido indesejado
Teen Fiction"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...