Pela primeira vez na vida, eu estava sozinha na noite do meu aniversário.
O silêncio ecoava em todos os cômodos. Deitada no sofá, fechei os olhos e pensei com carinho nos aniversários anteriores.
Primeiro, com meus pais, que me tratavam como a princesinha deles. Depois, com tio Thales, que me fazia rir até doer a barriga. Essas memórias agora eram como fotos antigas — belas, únicas, porém intocáveis, pertencentes a um tempo que não voltaria jamais.
Não haveria mais meus pais. Nem tio Thales. Nunca mais.
Abri os olhos e encarei o teto, tentando conter as lágrimas de saudade que ameaçavam transbordar. Ser forte era uma obrigação, afinal, eu era oficialmente adulta. Deveria ser capaz de lidar com as dores da vida sozinha.
O dia foi bom. Almocei na casa de Gutierre e eles me surpreenderam com um bolo de aniversário. Cantaram parabéns, me abraçaram, e me senti acolhida.
Rosa, mesmo sem poder sair do trabalho, ligou e me enviou um presente, um vestido preto justo e curto com um bilhete: "O que é bonito tem que ser mostrado". Ri com ela ao telefone, embora eu duvidasse que teria coragem de vestir algo tão ousado.
Mas a noite chegou e, com ela, o vazio. E os vazios, eu bem sabia, eram perigosos, pois faziam minha mente buscar aquele que eu tentava esquecer.
Obviamente, não recebi sequer uma mensagem de parabéns dele. Nem esperei receber, mas a falta de expectativa é um peso em si mesma.
Ele estava adorando o distanciamento que eu impus. Menos trabalho para lidar com uma pessoa que nunca passou de um inconveniente em sua agenda.
Alexander seguiu a vida sem me procurar nenhuma vez. É por isso que não considerei que fosse ele tocando a campainha.
Mas era.
Meu coração ingrato parou e disparou ao encontrar aqueles olhos tão azuis.
Toda a saudade reprimida veio de uma vez, me desestabilizando. Precisei de um esforço sobre-humano para me manter firme.
Os olhos dele percorreram o meu corpo, então lembrei: estava usando sua camisa. Meu rosto esquentou.
Às vezes eu usava para dormir, só porque era confortável. Não tinha a ver com ele. Não muito.
Cruzei os braços em uma tentativa inútil de cobrir a camisa.
— O que faz aqui? — perguntei, tentando soar indiferente para anular minha vulnerabilidade.
— Ninguém merece passar o aniversário sozinho — disse já entrando, antes que eu pudesse decidir se o queria ali.
Ele caminhou até o sofá e se sentou com a familiaridade de quem já conhecia cada canto da minha vida.
Não tinha coragem — muito menos vontade — de mandá-lo embora, então me sentei também, em um ponto seguro entre a proximidade e a distância.
A camisa servia como um vestido, mas se encolheu um pouco quando sentei, deixando minhas coxas mais à mostra do que deveria. Mas isso não o afetou; seus olhos estavam fixos nos meus, como se procurassem algo.
Ficamos nos olhando por alguns segundos. Eu poderia olhá-lo para sempre.
— Como foi o dia? — perguntou, assim, como se fosse natural vindo de alguém que não se importa comigo.
— Bem — soou mais frio do que eu pretendia, ainda não tinha aprendido a dosar.
— Só isso? É seu aniversário de dezoito anos.
Ele me encarava seriamente, e eu percebi que não estava tão imune a ele quanto acreditava. Alexander ainda me deixava nervosa, se eu não tivesse cuidado, em segundos me colocaria novamente na posição de intimidada.
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Meu marido indesejado
Teen Fiction"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...