58. O entrelaço

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A ponta do nariz dele estava gelada, mas os lábios, quentes como um dia de verão.

Com nossas bocas unidas em um beijo de saudade, só paramos porque a neve aumentou.

— Vamos entrar — ele murmurou contra meus lábios, encostando-os e separando-os vezes seguidas. Parecia difícil para ele encerrar.

— Vamos — sussurrei de volta, dando selinhos também. Era realmente difícil parar.

Alexander finalmente deu um último selinho demorado, me envolveu pela cintura e me guiou.

O calor do interior do hotel foi um alívio. Ele cavalheiramente tirou meu casaco, e um funcionário se aproximou para receber de nós dois, já que estavam úmidos. Não entendi uma única palavra do diálogo rápido entre eles antes de o homem se afastar, mas adorava a voz de Alexander falando norueguês.

— Desculpe o atraso — ele disse com os olhos carregados de culpa.

— Você chegou na hora certa — sorri sem perceber, lembrando a cena linda em que corremos para os braços um do outro.

A expressão dele suavizou.

— Está com fome? — perguntou.

— Sim.

Alexander entrelaçou nossos dedos e me levou para o restaurante. Meu coração saltou, como em todas as vezes que ele pegou minha mão. Amava esse seu novo hábito.

O restaurante estava cheio, havia um burburinho em idiomas diversos. A nevasca frustrou a programação de muita gente, mas ainda era um ambiente agradável para se passar a noite de Ano Novo.

Enquanto aguardávamos os pedidos, Alexander explicou, cheio de frustração, que ficou preso na reunião com "aqueles clientes vagabundos desocupados" e depois no trânsito com a "nevasca dos infernos".

Estendi a mão sobre a dele e tentei tranquilizá-lo:

— Não se preocupe, eu vi no noticiário que o trânsito ficou parado. O importante é você estar aqui agora.

Seus olhos desceram para a minha mão, surpreso com o toque. Ele a apertou, levou-a até os lábios e depositou um beijo suave.

Não acreditei. Sorri. Suspirei.

Quem era esse homem?

Nossas mãos continuaram unidas sobre a mesa enquanto ele perguntava o que aprontei na sua ausência. Contei que fui ao lago congelado que dava para ver da nossa janela, que fiz amizade com duas crianças e um velhinho, e que aprendi algumas palavras.

— Quais? — ele quis saber, inclinando-se.

— Não vou falar na sua frente.

— Então vira de costas.

Revirei os olhos. Estava decidida a não falar, mas ele era bom negociador e ofereceu tocar duas sinfonias inteiras em troca.

— Quero seis — contrapropus.

— Três.

— Cinco.

— Quatro. É pegar ou largar.

Ele recostou na cadeira me encarando seriamente. Imitei o gesto, respondendo ao olhar com a mesma determinação. Bom, quatro era razoável. Aceitei, por fim. Falei as palavras que aprendi. E ele ficou satisfeito.

Comemos um prato delicioso cujo nome eu nem sabia pronunciar e brindamos com uma taça de champanhe finíssimo. Depois, subimos para o quarto (de mãos dadas).

Assim que coloquei os olhos na imensa cama de cobertores brancos, senti a atmosfera mais densa.

Tomamos banho, não juntos. Deixei ele ir primeiro.

Meu marido indesejadoOnde histórias criam vida. Descubra agora