Com os dedos cruzados embaixo da mesa, eu torcia para a professora não me sortear com Ícaro para aquele trabalho.
— Sofie e Luana.
Luana lançou um sorrisinho às amigas, e os sorrisos cúmplices delas me irritaram. Elas sabiam que, comigo, nota boa e zero esforço estavam garantidos.
Uma vez me convidaram para um trabalho em grupo, achei que era genuíno, mas carreguei tudo sozinha.
Meu coração acelerou. Desta vez, não podia aceitar.
— Professora — chamei, mas ela não ouviu. Meu rosto esquentou e fiquei com vergonha de repetir.
O gosto amargo de frustração ficou em minha boca. Passei o resto da aula inquieta. Quando o sinal tocou, fui até a mesa dela.
— Professora, eu... eu não quero fazer o trabalho com Luana — saiu mais baixo do que eu pretendia.
— Deveria ter falado na hora. As duplas já foram formadas — ela juntou suas coisas e se levantou.
Luana me olhou com ar de vitória.
Olhei para o chão, sentindo o peso da derrota. Mas algo em mim estava cansado de continuar cedendo.
Fechei os punhos e me coloquei no caminho da professora.
— Por favor, professora.
Ela respirou fundo, me olhando por cima dos óculos.
— Olha, Sofie, se não fizer com Luana, terá que fazer sozinha.
— Quero fazer sozinha — falei baixo, mas decidida.
Ela permitiu.
Saí da sala mais leve, como se tivesse asas prestes a aparecer.
Era pequena, quase imperceptível, mas estava lá: a sensação de transformação.
Então era isso que acontecia quando eu não abaixava a cabeça e aceitava?
Fazia três dias desde que experimentei o poder de rejeitar uma chamada de Alexander, já estava em dúvida se tinha feito a escolha certa. Mas esse episódio com Luana me lembrou por que eu precisava parar de tolerar abusos.
Foi o dia certo para acontecer isso, pois à noite ele me ligou. Seu nome na tela apertou meu peito. Estava com saudades. Preocupada também. Alexander estava em outro país, eu não sabia se estava bem, se descansava o suficiente, se alimentava-se direito. E não tinha ideia de onde vinham essas preocupações que não me cabiam.
Resisti. E doeu ver a chamada cair.
Ele não insistiu desta vez, mas saber que estava do outro lado, frustrado, trouxe um sabor agridoce: satisfação e arrependimento.
Uma semana depois, ele ligou de novo. Quase atendi. Estava no limite, lutando contra o desejo de ouvir sua voz. Não sabia se conseguiria ser forte da próxima vez.
Na manhã seguinte, estava na fila da lanchonete, ponderando se já não o havia ignorado demais, quando Isabelle entrou na minha frente. Olhei para trás, esperando que alguém reclamasse, mas todos estavam entretidos.
Furar fila era proibido. A escola tinha tolerância zero com qualquer corrupção.
A inspetora estava do outro lado mexendo no celular, bastava chamá-la. Porém, havia um consenso de acobertamento: todos detestavam a inspetora, denunciar era se unir ao inimigo.
Respirei fundo e deixei para lá. Uma pessoa a mais na frente não faria diferença.
Então Isabelle chamou mais cinco amigas. Aquilo me revoltou. Cutuquei-a.
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Meu marido indesejado
Teen Fiction"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...