37. O reencontro

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Com os dedos cruzados embaixo da mesa, eu torcia para a professora não me sortear com Ícaro para aquele trabalho.

— Sofie e Luana.

Luana lançou um sorrisinho às amigas, e os sorrisos cúmplices delas me irritaram. Elas sabiam que, comigo, nota boa e zero esforço estavam garantidos.

Uma vez me convidaram para um trabalho em grupo, achei que era genuíno, mas carreguei tudo sozinha.

Meu coração acelerou. Desta vez, não podia aceitar.

— Professora — chamei, mas ela não ouviu. Meu rosto esquentou e fiquei com vergonha de repetir.

O gosto amargo de frustração ficou em minha boca. Passei o resto da aula inquieta. Quando o sinal tocou, fui até a mesa dela.

— Professora, eu... eu não quero fazer o trabalho com Luana — saiu mais baixo do que eu pretendia.

— Deveria ter falado na hora. As duplas já foram formadas — ela juntou suas coisas e se levantou.

Luana me olhou com ar de vitória.

Olhei para o chão, sentindo o peso da derrota. Mas algo em mim estava cansado de continuar cedendo.

Fechei os punhos e me coloquei no caminho da professora.

— Por favor, professora.

Ela respirou fundo, me olhando por cima dos óculos.

— Olha, Sofie, se não fizer com Luana, terá que fazer sozinha.

— Quero fazer sozinha — falei baixo, mas decidida.

Ela permitiu.

Saí da sala mais leve, como se tivesse asas prestes a aparecer.

Era pequena, quase imperceptível, mas estava lá: a sensação de transformação.

Então era isso que acontecia quando eu não abaixava a cabeça e aceitava?

Fazia três dias desde que experimentei o poder de rejeitar uma chamada de Alexander, já estava em dúvida se tinha feito a escolha certa. Mas esse episódio com Luana me lembrou por que eu precisava parar de tolerar abusos.

Foi o dia certo para acontecer isso, pois à noite ele me ligou. Seu nome na tela apertou meu peito. Estava com saudades. Preocupada também. Alexander estava em outro país, eu não sabia se estava bem, se descansava o suficiente, se alimentava-se direito. E não tinha ideia de onde vinham essas preocupações que não me cabiam.

Resisti. E doeu ver a chamada cair.

Ele não insistiu desta vez, mas saber que estava do outro lado, frustrado, trouxe um sabor agridoce: satisfação e arrependimento.

Uma semana depois, ele ligou de novo. Quase atendi. Estava no limite, lutando contra o desejo de ouvir sua voz. Não sabia se conseguiria ser forte da próxima vez.

Na manhã seguinte, estava na fila da lanchonete, ponderando se já não o havia ignorado demais, quando Isabelle entrou na minha frente. Olhei para trás, esperando que alguém reclamasse, mas todos estavam entretidos.

Furar fila era proibido. A escola tinha tolerância zero com qualquer corrupção.

A inspetora estava do outro lado mexendo no celular, bastava chamá-la. Porém, havia um consenso de acobertamento: todos detestavam a inspetora, denunciar era se unir ao inimigo.

Respirei fundo e deixei para lá. Uma pessoa a mais na frente não faria diferença.

Então Isabelle chamou mais cinco amigas. Aquilo me revoltou. Cutuquei-a.

Meu marido indesejadoOnde histórias criam vida. Descubra agora