Alexander
No meio daquele bando de zumbi saindo, eu a vi.
Trocava os pés, mal conseguindo andar em linha reta. Os olhos sonolentos se abriram ao me ver, um brilho de reconhecimento misturado com cansaço.
Estava surpresa, provavelmente não tinha certeza de que eu viria.
Dei motivos para seu descrédito ao falar que tentaria ir ao jantar ontem à noite e acabar ficando preso no trabalho. No entanto, deixá-la ir embora sozinha, sonolenta e vulnerável após passar a noite acordada estudando, eu jamais faria. Tampouco permitiria que o vagabundo do Guilhermo a levasse.
Fui até Sofie e tomei a mochila, que estava sempre pesada demais para ela. Sem pensar muito, envolvi-a com um braço para ajudá-la a caminhar.
Ela ficou surpresa com o contato físico — também fiquei —, mas aliviada por andar com menos dificuldade. Ainda assim, seus passos eram lentos e errantes.
No trajeto de carro, ela adormeceu. A cabeça reclinou lentamente até repousar em meu ombro. Me concentrei em manter o braço imóvel ao girar o volante.
Quando parei em sua casa, ela piscou devagar, mas não abriu os olhos totalmente. Seu corpo estava tão mole que seria impossível fazê-la andar.
Obviamente, peguei-a no colo.
Um pensamento me ocorreu ao entrar com ela nos braços: ela usava um vestido branco, era minha esposa e eu a carregava no colo. Que piada de mau gosto.
Hesitei na porta do quarto. Acessar o espaço íntimo dela seria invadir sua privacidade, mas deixá-la no sofá? Sofie precisava descansar.
Respirei fundo, olhei para o rosto adormecido e entrei, focado em não prestar atenção no ambiente. Deitei seu corpo amolecido na cama com cuidado.
A imagem de Sofie, de branco, com os cabelos escuros espalhados pelo travesseiro, era uma visão que eu não pedi — e não queria.
Era meu dever cuidar dela, e isso incluía garantir seu conforto, então tirei suas sandálias, libertando os pés pequenos de solas levemente avermelhadas.
Ela remexeu as pernas suavemente, dobrando um joelho. Isso fez o vestido escorregar um pouco e expor a pele alva da coxa. Uma sensação desconcertante me fez agir por impulso ao segurar seu pé para esticar a perna e ajeitar o tecido.
Logo depois, hesitei. Era certo tocá-la assim? Queria apenas garantir que ela estivesse confortável, nada mais. Mesmo assim, uma parte minha sabia que aquilo era íntimo demais.
Vi o edredom lilás e percebi que isso teria sido o suficiente, mas agir instintivamente com Sofie estava se tornando um padrão.
Coloquei o edredom sobre ela com o máximo de sutileza. Ao me virar para ir embora, a mão dela segurou a minha, como se algo em seu subconsciente não quisesse me deixar ir.
Senti uma coisa estranha na nuca, provavelmente um mosquito rondando e eriçando os pelos da região.
— Por favor, não vá embora... — ela sussurrou, grogue, com os olhos fechados.
— Durma, Sofie. — Afastei minha mão, dividido entre a necessidade de ir e a fragilidade daquele pedido.
— Fica comigo um pouquinho, Alex...
Aquilo chegou aos meus ouvidos de um jeito estranho. Ela não me chamava assim. O som suave e íntimo fez o maldito mosquito se aproximar ainda mais da minha nuca.
Sofie não estava completamente consciente, mas algo a impedia de se render ao sono. Ficar até que adormecesse parecia necessário. Respirei fundo e me sentei na beira da cama, desconfortável, esperando que ela dormisse rápido.
Ela virou o rosto para o meu lado, se aconchegando no cobertor. Uma mecha de cabelo caiu na frente do seu rosto, cobrindo parte da testa e o nariz. Iria atrapalhar sua respiração, então agi instintivamente ao prender a mecha atrás de sua orelha.
Sofie sorriu suavemente, de olhos fechados.
O mosquito irritante rondou a parte de trás do meu pescoço outra vez.
— Continua — ela sussurrou, quase inaudível, perdida no torpor da sonolência.
— Continuar o quê? — Que diabos eu estava fazendo conversando com alguém que nem ao menos estava totalmente acordada?
— O carinho...
Não foi carinho nenhum, mas eu não ia discutir com uma bêbada de sono. Fiquei quieto e esperei ela esquecer.
— Por favor, Alex... continua...
Tinha algo errado com meus batimentos cardíacos.
— Se eu continuar, você dorme?
Ela balançou a cabeça levemente, um movimento quase imperceptível.
Hesitante, passei os dedos por seus cabelos devagar. Os fios sedosos escorregavam facilmente. O familiar cheiro de flor do cabelo dela exalava, mas eu já estava sentindo desde que a segurei na porta do cursinho.
Seus lábios rosados se curvaram em um sorriso sereno, como se aquele simples gesto fosse tudo o que ela precisava.
Vê-la tão em paz era estranhamente gratificante.
Aos poucos, sua respiração se tornou mais profunda, compassada, até que ela finalmente se rendeu e mergulhou em um sono pesado, como se tivesse lutado até o fim para se manter acordada.
Continuei acariciando seus cabelos por um tempo, temendo que a interrupção a despertasse.
Cada parte de mim gritava para sair imediatamente. Mas por que parecia tão errado deixá-la sozinha?
Interrompi o carinho com relutância. Não porque estava gostando de sentir o cabelo dela, mas pelo receio de acordá-la.
Levantei da cama devagar, e essa relutância residia no medo de fazer um movimento brusco, não na dificuldade de me afastar dela.
Na porta do quarto, olhei para ela uma última vez. Ela parecia tão frágil. Como poderia ser o certo ir embora?
Mas era. Minha obrigação era apenas trazê-la em segurança e nada mais. Fechei a porta.
Ela não se lembraria de nada; já eu precisava esquecer de tudo.
Quando entrei no carro, um desconforto inexplicável começou a crescer no peito. Talvez fosse a hora de consultar um cardiologista. Ignorei aquilo ao máximo, entretanto, a cada quilômetro que percorria, a sensação se intensificava.
Não pretendia trabalhar naquele sábado, mas ao chegar em casa fui direito para o escritório. Sentei-me à frente do laptop e me afundei em planilhas complexas, isso manteve minha mente ocupada.
Poderia dizer que consegui esquecer o desconforto no peito ao longo do dia, mas isso seria uma grande mentira.
E o cheiro de flor que não saía da minha mente...
Aquilo não podia continuar.
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Meu marido indesejado
Teen Fiction"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...