Alexander
Não é fácil manter os limites quando você chega de uma corrida e encontra, na sua cama, uma esposa de cintura fina deitada meio de bruços, meio de lado, a perna dobrada — uma posição que a deixava toda empinadinha.
O lençol sempre deslizava displicentemente de sua pele macia, deixando-a exposta. Maldito lençol. Ou bendito. Ainda não decidi.
Na noite anterior, ela cheirava a flor, e não era apenas o cabelo; ela inteira exalava aquele perfume que se impregnava na minha cama. E em mim. Como uma marca invisível impossível de apagar.
Maldição, Sofie.
Feriado nunca me impediu de trabalhar, muito menos Natal. Mas encarar aquela pilha de arquivos financeiros enquanto, a poucos metros, havia uma mulher de cheiro viciante deitada em minha cama, era um pecado.
Tão perto e ao mesmo tempo inalcançável.
Por volta de meio-dia, ela surgiu na cozinha descalça com os cabelos desgrenhados. Eu não sabia dizer qual imagem era mais impactante: Sofie no vestido vermelho ou no baby-doll rosa.
— Por que não me acordou? — perguntou coçando um olho, a voz rouca e preguiçosa.
— Você estava cansada. Precisava descansar.
— Você também trabalhou duro ontem — ela encheu um copo d'água cegamente.
Sofie pulou o café da manhã direto para o almoço.
O trabalho me esperava, mas não consegui retornar, pois tinha algo a dizer e faltava coragem.
— O que quer fazer hoje? — perguntei antes que ela saísse da mesa.
Sofie levantou os olhos, surpresa. Eu estava surpreso também. Coisas me escapavam sem querer quando se tratava dela. Só podia ser o diabo colocando palavras na minha boca.
De qualquer forma, eu precisava aproveitar o feriado para manter o progresso que fizemos no fim de semana. Ficaria afogado em reuniões nos próximos dias e mal teria tempo para ela.
— Você tem jogo de cartas? — ela perguntou.
— Não.
— Então... videogame?
— Acha que tenho quantos anos?
— Tio Thales era mais velho que você e fazia essas coisas.
— Thales tinha a idade mental de uma criança.
— E você, a de um idoso.
Afiada.
Essa nova versão dela era imprevisível. E me instigava.
Mas eu ia ensinar uma lição para essa malcriadazinha. Três copos vazios e uma rolha de vinho, esse foi o jogo que jogamos. Ela perdeu feio.
— Bruxo — Sofie resmungou quando, pela décima vez, errou o copo onde estava a rolha. Aquela cara de quem queria me assassinar era um prêmio à parte.
— Última rodada, concentre-se — falei movendo os copos.
Fiz mais devagar, deixando pistas sutis para ela acreditar que foi deslize. Os olhos castanhos brilharam ao desvendar o truque.
— É esse — ela apontou o copo da esquerda com convicção.
— Tem certeza?
— Absoluta.
— É sua última chance de não sair dessa mesa humilhada — ergui uma sobrancelha desafiadoramente.
Ela revirou os olhos.
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Meu marido indesejado
Teen Fiction"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...