57. A paixão

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Alexander

Não é fácil manter os limites quando você chega de uma corrida e encontra, na sua cama, uma esposa de cintura fina deitada meio de bruços, meio de lado, a perna dobrada — uma posição que a deixava toda empinadinha.

O lençol sempre deslizava displicentemente de sua pele macia, deixando-a exposta. Maldito lençol. Ou bendito. Ainda não decidi.

Na noite anterior, ela cheirava a flor, e não era apenas o cabelo; ela inteira exalava aquele perfume que se impregnava na minha cama. E em mim. Como uma marca invisível impossível de apagar.

Maldição, Sofie.

Feriado nunca me impediu de trabalhar, muito menos Natal. Mas encarar aquela pilha de arquivos financeiros enquanto, a poucos metros, havia uma mulher de cheiro viciante deitada em minha cama, era um pecado.

Tão perto e ao mesmo tempo inalcançável.

Por volta de meio-dia, ela surgiu na cozinha descalça com os cabelos desgrenhados. Eu não sabia dizer qual imagem era mais impactante: Sofie no vestido vermelho ou no baby-doll rosa.

— Por que não me acordou? — perguntou coçando um olho, a voz rouca e preguiçosa.

— Você estava cansada. Precisava descansar.

— Você também trabalhou duro ontem — ela encheu um copo d'água cegamente.

Sofie pulou o café da manhã direto para o almoço.

O trabalho me esperava, mas não consegui retornar, pois tinha algo a dizer e faltava coragem.

— O que quer fazer hoje? — perguntei antes que ela saísse da mesa.

Sofie levantou os olhos, surpresa. Eu estava surpreso também. Coisas me escapavam sem querer quando se tratava dela. Só podia ser o diabo colocando palavras na minha boca.

De qualquer forma, eu precisava aproveitar o feriado para manter o progresso que fizemos no fim de semana. Ficaria afogado em reuniões nos próximos dias e mal teria tempo para ela.

— Você tem jogo de cartas? — ela perguntou.

— Não.

— Então... videogame?

— Acha que tenho quantos anos?

— Tio Thales era mais velho que você e fazia essas coisas.

— Thales tinha a idade mental de uma criança.

— E você, a de um idoso.

Afiada.

Essa nova versão dela era imprevisível. E me instigava.

Mas eu ia ensinar uma lição para essa malcriadazinha. Três copos vazios e uma rolha de vinho, esse foi o jogo que jogamos. Ela perdeu feio.

— Bruxo — Sofie resmungou quando, pela décima vez, errou o copo onde estava a rolha. Aquela cara de quem queria me assassinar era um prêmio à parte.

— Última rodada, concentre-se — falei movendo os copos.

Fiz mais devagar, deixando pistas sutis para ela acreditar que foi deslize. Os olhos castanhos brilharam ao desvendar o truque.

— É esse — ela apontou o copo da esquerda com convicção.

— Tem certeza?

— Absoluta.

— É sua última chance de não sair dessa mesa humilhada — ergui uma sobrancelha desafiadoramente.

Ela revirou os olhos.

Meu marido indesejadoOnde histórias criam vida. Descubra agora