Alexander estava encostado na parede ao lado de fora da secretaria.
Quando nossos olhos se encontram, travei por um segundo antes de continuar andando.
Senti o sangue fugir do meu rosto. Com certeza eu estava com cara de quem viu um fantasma. Ele, por outro lado, não esboçou reação alguma.
Os olhos azuis frios, que eu tanto evitava pensar, agora estavam fixos em mim. Vestia um terno escuro, impecável e indiferente. E também elegante.
Quando me aproximei, ele não disse uma palavra sequer. Apenas me entregou a mochila e saiu andando na frente, como uma ordem silenciosa para segui-lo.
O som incerto dos meus passos ecoava na minha cabeça, e meus batimentos acelerados ressoavam nos ouvidos. A pressão de ter Alexander ali, na minha escola, fazia meu peito comprimir.
Uma garota passou encarando-o demais e eu senti uma vontade estranha de dizer que ele era casado. Comigo.
Quando entendi que estávamos indo na direção de um carro preto luxuoso, fiquei ainda mais nervosa.
Ele era meu marido, mas ainda assim, um completo desconhecido, eu não podia entrar em seu carro.
Ao chegarmos ao veículo, ele abriu a porta para mim. Nenhuma palavra, nenhum olhar.
Logo percebi que não estaria aberto a uma discussão sobre eu não poder entrar em carro de desconhecidos. Entrei com movimentos inseguros. Ele fechou a porta com um estalo seco.
Saímos da escola em silêncio.
Tensa no banco, mantive os olhos à frente na rua, mas usando a visão periférica para olhar para ele.
O que ele estaria pensando? Será que iria brigar comigo por ter lhe causado o transtorno de sair no meio do trabalho ou algo assim?
De repente o celular dele tocou e, mesmo ao volante, ele atendeu. Murmurou algo como "eu resolvo, estou indo pra lá agora" e desligou.
— Vou passar em um lugar antes de te levar — disse, seco.
A voz dele ressoou em minha cabeça. Era impossível esquecer o tom indiferente de sua voz. Mas tinha me esquecido da parte de como era um timbre bonito.
— Tudo bem — respondi baixinho, mesmo sabendo que ele não estava interessado na minha resposta.
O lugar era a empresa, que ficava muito antes da minha casa, então fazia sentido ele parar antes de me levar.
Subimos no elevador em um silêncio absoluto, enquanto eu apertava as alças da mochila com força. Estava insegura, não só por sua presença imponente, mas também por um medo irracional de fazer feio.
Eu era sua esposa e estava chegando com ele no trabalho. Mas minhas roupas de colegial não condiziam com o ambiente formal. Principalmente a mochila lilás com estampa de borboletas.
O elevador parou e ele saiu na frente. Sem alternativa, o segui.
— Senta — ele mandou, apontando para uma das cadeiras da recepção.
Enquanto aguardava, assisti homens passarem apertando a gravata e escutei saltos de mulheres batendo no piso reluzente o suficiente para me sentir ainda mais deslocada com meu uniforme de colégio.
Esperei. Meia hora. Uma hora. Uma hora e meia.
O estômago começou a roncar de fome e percebi que tinha que tomar uma atitude. Me levantei e fui até a recepcionista.
Ela estava tão impecável de terninho azul e a maquiagem perfeita que me senti acuada em falar com ela.
— Oi... — falei baixo demais.
Ela migrou os olhos do computador para mim e abriu um largo sorriso de batom alaranjado terroso.
— Olá, posso ajudar?
— Estou procurando Alexander — respondi sem muita firmeza a voz.
— O senhor Monteiro, você quis dizer? — ela corrigiu com um tom profissional.
Mais uma vez, a vontade de falar que sou casada com Alexander passou pela minha cabeça, mas me contive.
— Sim, o senhor Monteiro.
Ela bateu os dedos no teclado em um "tec-tec" veloz.
— Lamento, ele não está mais na empresa.
— Como assim? — franzi a testa, confusa. — Entrei com ele há cerca de uma hora e ele não saiu por essa porta.
— Saiu por cima, de helicóptero.
Meu coração despencou para o estômago. Um nó se formou em minha garganta.
A mulher franziu as sobrancelhas e inclinou ligeiramente a cabeça, provavelmente percebendo que eu estava prestes a chorar.
— Obrigada — minha voz saiu num sussurro, a altura que o caroço na garganta permitia.
Caminhei para fora com os olhos ardendo, sem entender completamente a razão para aquela vontade de chorar.
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Meu marido indesejado
Teen Fiction"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...