41. O companheiro

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Algo em Alexander mudou, embora eu não soubesse exatamente o quê.

Me ensinou a dirigir com uma paciência que nunca imaginei vir dele. Depois me olhou com uma intensidade que me deixou sem ar. E aí... me beijou.

Um beijo necessitado, que ficou ainda mais dedicado quando me puxou para seu colo.

Ao separar nossos lábios, o fez com gentileza. Seus olhos pediam desculpas, mas o que eu podia fazer se o queria desesperadamente?

Pedi mais um beijo e ele não titubeou ao unir nossos lábios outra vez. Esse beijo foi lento, calmo e profundo. Nos beijamos até ficarmos sem fôlego. Ele encerrou devagar, dando selinhos que me faziam suspirar entre um contato e outro.

Nossas testas se encostaram, e, por alguns segundos, ficamos assim, em um silêncio feito só para nós. Respirações pesadas se misturando. Corações pulsando forte.

Eu queria mais, mas não podia arriscar estragar o encanto daquele momento. Só ficar ali em seu colo, sentindo o calor do seu hálito, já era o suficiente para manter meu mundo em paz.

Permaneci com os olhos fechados, temendo que abri-los fosse acabar com o sonho.

Por fim, separamos nossos rostos, mas a distância não passava de cinco centímetros.

As esferas azuis tão próximas, tão íntimas... me perdi na intensidade de seu olhar. O que ele estava vendo em mim?

O que significava ter me beijado? Gostou do primeiro beijo e quis mais? Era saudade? Alguma atração inesperada? Estava começando a sentir algo por mim?

— Quer dirigir até em casa? — ele ofereceu com a voz neutra, sem dar pistas do que se passava por trás daquele olhar.

Não queria sair do colo dele. Era o meu lugar. Tínhamos um encaixe perfeito.

Demorei mais do que o necessário para responder.

— Quero — minha voz saiu fraca.

Estava insegura quanto a isso, mas se ele achava que eu era capaz, talvez eu fosse mesmo.

Alexander segurou minha cintura e me ergueu com facilidade, me colocando de volta no banco, como se eu fosse uma boneca. Aquele toque firme, mas gentil, me fez arrepiar por inteira.

Deixei o carro morrer na partida, depois em um cruzamento, mas Alexander não se estressou. Dirigi devagar, um tanto temerosa. Cada carro que surgia ao longe me fazia apertar o volante com mais força, meu coração em descompasso. Mas ele dizia:

— Respira fundo. Você consegue.

E eu acreditava nele.

Alexander estava me permitindo ter contato com seu lado mais humano, aquele lado que eu secretamente chamava de Alex.

Fiquei orgulhosa ao chegar em casa sem ter feito vítimas. Saímos do carro e nos encontramos enquanto cada um contornava a frente do veículo.

— Obrigada — murmurei, nervosa. Não sabia como me despedir. Queria lhe dar um selinho; até um abraço servia. Mas ele estava fechado, como se já tivesse superado o momento que ainda contraía meu ventre.

Alexander apenas se desviou, entrou no carro e partiu sem hesitar. Como quem encerra uma tarefa obrigatória insuportável.

Fiquei ali parada, tocando meus próprios lábios que carregavam a presença dos dele como uma marca invisível.

Estava claro que o beijo, que para mim foi um abalo completo, não significou nada para ele.

Será que foi só um momento, uma distração qualquer? Queria entender o que ele sentia, mas ao mesmo tempo tinha medo da resposta.

Meu marido indesejadoOnde histórias criam vida. Descubra agora